Sabes e , à partida, que os Estados Unidos têm no aliviar do congestionamento nas rotas sul, como Durban, África-do-Sul, e Beira, Moçambique, um dos objectivos do Corredor do Lobito, de sorte que o considere essencial para o transporte de minerais da República Democrática do Congo para o Porto do Lobito.
O responsável norte-americano sustenta que, para além de desenvolver a linha férrea, o seu país está, igual- mente, a pensar na inclusão e sustentabilidade de um corredor vital para as trocas comerciais na região austral do continente africano. William Butterfield sinaliza que a Casa Branca tem no investimento em energia limpa em Angola um dos focos da visita do Presidente Joe Biden, ciente de que tal aposta vá permitir electrizar todo o corredor do Lobito.
“Vamos elaborar um plano para desenvolver esse tipo de investimento para apoiar Angola a realizar os seus próprios objectivos”, ressaltou, em declarações à imprensa, numa conferência internacional sobre investimento no corredor do Lobito, sob auspício da Embaixada dos Estados Unidos e São Tomé e Príncipe.
Só cheira a corredor do Lobito no mundo
Se antes Angola esteve na agenda mundial pelos piores motivos, com destaque para a situação político- militar, hoje, conforme avançaram alguns analistas, o corredor do Lobito mobiliza vários «players» internacionais, que acenam constante para as suas infra-estruturas de suporte, nomeadamente o Porto Comercial do Lobito e o Caminho- de-ferro de Benguela, este último serpenteia as províncias do Huambo, Bié e Moxico, adentrando para os chamados países encravados, designadamente República Democrática do Congo e a Zâmbia.
A importância desse corredor levou os presidentes Félix Tshisekedi, da RDC; Hakainde Hichelema, da Zâmbia, a sentar ao lado do anfitrião, o Presidente João Lourenço, na cidade do Lobito, há um ano, para testemunhar a assinatura do contrato de concessão entre o Governo Angolano e consórcio Lobito Atlantic Railway-SA.
Na altura, o Presidente da Zâmbia manifestou o interesse de o seu país continuar a investir no corredor, de modo que o projecto seja bem-sucedido. O Chefe de Estado zambiano ressaltou a importância do corredor na facilitação e trânsito de mercadorias entre os países da SADC.
Ao passo que do Congo se soube do seu Chefe de Estado a necessidade de investimento na construção de mais de 200 quilómetros de linha férrea, admitindo, pois, ter havido atrasos da parte deles, ao mesmo tempo que enalteceu o esforço até aqui feito pelo Governo do Presidente Lourenço. Para materializar essa pretensão, em Janeiro de 2023, Angola, Zâmbia e a RDC assinaram, na cidade do Lobito, um acordo que cria a Agência de Facilitação e Trânsito de Transporte no Corredor do Lobito, no quadro do reforço da cooperação económica entre os países.
Os subscritores revelaram que a iniciativa vai beneficiar mais de 140 milhões de habitantes, representando, segundo o ministro dos Transportes do Governo de Angola, Ricardo de Abreu, um produto interno bruto na ordem dos 137 mil milhões de dólares.
«Chuva» de milhões cai no corredor
Os Estados Unidos da América, por ia do Presidente Joe Biden, anunciaram um investimento na ordem dos 1, 5 mil milhões de dólares, destinados a projectos de infra-estruturas de transporte, acesso digital, agricultura e energia limpa.
O que é facto, porém, é que o projecto do corredor tem vindo a atrair, cada vez mais, investimentos de vários governos mundiais. De chineses a sul coreanos, passando por britânicos, portugueses, para se referir apenas a estes.
Tendo ouvido o interesse dos norte-americanos no projecto, vários líderes passaram a ter o Lobito como destino preferencial, na perspectiva de ver de perto o que está a ser feito em termos de investimentos locais e externos.
Em Julho deste ano, esteve a visitar o projecto e, por conseguinte, foi recebido no Porto e CFB o primeiro-ministro português, Luís Montenegro, depois de lá já ter estado o Presidente da República da Zâmbia, Hakainde Hichelema, em 2023.
«Seduzidos» pelo que viam, no que às potencialidades infraestruturais diz respeito, o Reino Unido anunciou uma injecção de 500 milhões de dólares, por entender que o corredor é uma rota estratégica e alternativa para os mercados de exportação da Zâmbia e da República Democrática do Congo.
O ministro para África do Gabinete dos Negócios do Reino Unido, Lord Raymond Collins, reafirmou, numa visita à província do Huambo, a intenção de o seu país trabalhar com o Governo no projecto de desenvolvimento do corredor. Segundo o governante britânico, o projecto oferece uma série de oportunidades, daí o seu país estar interessado em trazer investimentos para o desenvolver. Os sul coreanos não querem ficar de fora.
Os asiáticos querem ter presença activa para investir no corredor do Lobito, com destaque para o sector energético. O embaixador da Coreia em Angola, Kwang-Jin Choi, prometeu empenhar-se pessoalmente para trazer empresários do seu país para investir no famigerado corredor.
O diplomata referiu- se praticamente ao que, segundo especialistas, constitui o óbvio: o corredor do Lobito está a despertar a atenção de todo o mundo, daí ter vindo a Benguela, na perspectiva de constatar in loco.
“Vim hoje (dia 7de Outubro) a esta região também para me inteirar sobre as potencialidades de cooperação”, disse, citado pela Angop, ao prometer a realização de um fórum sobre energia, por via do qual espera identificar várias áreas em que se pode cooperar.
Dá teoria à prática: A justificação dos dólares americanos
Em Setembro deste ano, foi feito o primeiro carregamento de cobre da República Democrática do Congo para os Estados Unidos da América, conforme informações postas a circular pela Trafigura, empresa que faz parte do consórcio que controla o Lobito Atlantic Railway-SA. Tal acção visou materializar a razão dos investimentos norte-americanos – segundo alguns analistas da praça.
De acordo com as informações, já terá chegado ao Porto de Baltimore, no Estado de Maryland, a mercadoria, depois de ter dado entrada no Lobito no dia 19 de Setembro, vindo da RDC. Essa é a primeira vez que cobre, saído de Angola, vai para os Estados Unidos, mas o mesmo não se diz em relação à Europa e à Ásia, onde já se tiveram vários carregamentos.
Saliente-se que tem chegado também ao Lobito matéria-prima (enxofre) para as minas da RDC. Neste momento, o consórcio procede à transportação de 40 mil toneladas de enxofre para o Congo Democrático.
O consórcio refere que a viagem de seis dias de Kelowesi, na República Democrática do Congo, para o Lobito demonstra que o corredor é a rota ocidental eficiente disponível para os minerais e metais produzidos na chamada Copperbel da RDC.
O recurso ao Porto do Lobito, conforme informações colhidas por este jornal, encurta as exportações em 25 dias, daí acreditar- se ser essa a principal razão de tanto interesse norte-americano, por um lado; por outro, há quem veja esse interesse para lá da distância encurtada.
Especialistas são unânimes em afirmar que os Estados Unidos da América querem «empurrar» a China, principal concorrente norte-americana no mundo, para fora do corredor do Lobito, que, assim como os norte-americanos, investiu biliões de dólares na reabilitação de infra-estruturas e em meios rolantes.
Mudanças na presidência dos EUA: Que futuro?
Desde que Donald Trump venceu as eleições presidenciais, batendo na corrida a democrata Kamala Harris, que, em Angola, tem crescido o receio em relação a um possível desacelerar de investimentos que os Estados Unidos têm feito no país, com destaque para o corredor do Lobito. Há segmentos mais optimistas e outros menos, havendo quem vaticine que Angola já não verá os milhões que os EUA ainda têm por investir no importante corredor do Lobito.
O Governo angolano está atento a todas essas preocupações, tranquiliza a opinião pública nacional. Recentemente, o ministro dos Transportes, Ricardo de Abreu, deu conta da existência de “um compromisso firmado com os Estados Unidos, que mexe com o comércio internacional”, acreditando que, independentemente da cor política, “nada vai alterar” – antevê o governante angolano.
POR:Constantino Eduardo, em Benguela