O lucro líquido da petrolífera estatal subiu mais de 96% no último exercício, que também registou uma recuperação do volume de negócios, com a dívida financeira da empresa a recuar quase para metade com a entrada de fundos do Estado.
POR: Hélder Caculo
Os resultados provisórios da Sonangol, referente ao ano económico 2017, indicam que a petrolífera obteve um resultado líquido na ordem de USD 224 mil milhões, um aumento de USD 80,7 mil milhões, comparativamente a 2016. No ano passado, fruto da reestruturação em curso, o Estado injectou USD 10 mil milhões para reduzir a divida da concessionária em aproximadamente 50%. A informação foi avançada pelo novo presidente do Conselho de Administração da Sonangol, Carlos Saturnino, em conferência de imprensa, realizada ontem, Quarta- feira 28, em Luanda. Na ocasião, o gestor explicou as linhas de orientação para a restruturação da petrolífera e os desafios da nova administração para os próximos cincos anos, no âmbito corporativo e financeiro, Upstream (exploração e produção de petróleo), Midstream (refinação) e Downstream (distribuição e comercialização de combustível).
Neste capítulo, o PCA da Sonangol explicou que serão implementadas medidas de contenção de custos e de aumento de eficiência, assim como serão reavaliados os investimentos da empresa, com foco na sustentabilidade e na criação de valor para a economia angolana. Carlos Saturnino, que considerou “doente” o estado em que encontrou a concessionária, gerida anteriormente por Isabel dos Santos, garantiu que a nova gestão está a trabalhar de modo a devolver à Sonangol a marca de motor de desenvolvimento da economia nacional.
De recordar que o processo de transformação da Sonangol, ocorrido entre Maio de 2016 a Novembro de 2017, teve um custo de USD 135 milhões para o Grupo Sonangol. Em relação à actividade de exploração petrolífera, a Sonangol vai relançar a prospecção e pesquisa nos Bloco 48, Blocos 1, 5/06, 46 e 47, no Onshore Cabinda Norte e Centro e explorar novos campos marginais no Onshore Kwanza e Congo. Ainda neste capítulo, este ano a Sonangol vai apostar na exploração de gás natural e investir em novas refinarias. “Vamos começar as fases de negociações para construção das refinarias de Lobito e de Cabinda. Ainda não está seleccionada a empresa que vai construir as refinarias, mas recebemos 27 propostas e seleccionaremos as melhores propostas. Entendemos que a refinaria do Lobito deve estar concluída no prazo máximo de quatro anos e a de Cabinda em dois anos”, frisou, Carlos Saturnino.
Preços dos combustíveis podem aumentar
O PCA da Sonangol defende um preço variante e flutuante para os combustíveis no país, tendo em conta os custos elevados da sua produção e aquisição, assim como baixa taxa de câmbio utilizada. “Se vai haver ou não uma subida nos preços de derivados é uma decisão do Estado. Portanto, achamos que deveria ser feito um esforço no sentido de se aumentar o preço dos derivados do petróleo. Olhando para as novas taxas de câmbio do BNA, achamos que se há um intervalo para uma taxa variante e flutuante, deveríamos igualmente estudar um preço variável ou flutuante nos combustíveis”, sugeriu. Em relação aos combustíveis, actualmente a taxa de câmbio utilizada para os preços da Sonangol é Kz 155 por um dólar, uma taxa considerada muito baixa pela Sonangol e que pesa nos cofres da concessionária.
A Sonangol denunciou igualmente que o contrabando de combustível no país e o estado avançado de degradação das vias rodoviárias e ferroviárias continuam a afectar significativamente a sua distribuição. De acordo com dados da Sonangol, em 2017 o mercado nacional consumiu 4.454.693 TM de combustíveis, dos quais 24,6% foram produzidos pela Refinaria de Luanda. Para cobrir o défice, foram importados 3.278.761 TM, correspondentes a 73,6% do volume consumido. A redução dos volumes consumidos e importados, comparado aos dos anos anteriores, deve-se às dificuldades de acesso às divisas e à contracção da procura, face à actual conjuntura económica nacional. As dívidas de clientes para a Sonangol rondam os USD 3,105 milhões, principalmente empresas públicas , com realce para a PRODEL, com uma dívida de USD 1.728 milhões.
Lucro da Sonangol volta a subir
Se a administração presidida por Isabel dos Santos relevou, aquando da apresentação das contas da petrolífera, em Junho de 2017, os progressos registados no EBITDA consolidado (lucros antes de juros, impostos, depreciação e amortização, reflectindo os progressos ao nível dos recursos gerados pelas actividades operacionais do universo empresarial da petrolífera), a nova administração, liderada por Carlos Saturnino, sobe a parada e aponta para um EBITDA que supera em mais de USD 447 milhões o apurado no último exercício. Por outro lado, o lucro, que havia quebrado mais de 300%, para perto de USD 81 milhões em 2016, sobe significativamente no último exercício, para mais de USD 224 milhões.
Também o volume de negócios recuperou no último ano, atingindo USD 15,88 mil milhões, contra USD 14,948 mil milhões em 2016 e USD 17,038 mil milhões em 2015. A dívida financeira da empresa recua quase para metade entre 206 e 2017, passando de mais de USD 9,85 mil milhões para USD 4,89 mil milhões.
Quanto ao stock da dívida, a Sonangol observa que a redução do stock da dívida e obrigações de 2016 a 2017 em cerca de 50% se deveu, em grande medida, à liquidação antecipada de seis financiamentos na sua totalidade, à liquidação parcial de um financiamento e ao encerramento de um outro financiamento O documento salienta que a liquidação antecipada, total e parcial dos financiamentos foi efectuada com recurso a fundos do accionista (USD 5 mil milhões, de um total de USD 10 mil milhões, sendo que os remanescentes 5 mil milhões foram utilizados para investimentos).