O desempenho positivo da TAAG resulta da combinação dos 10 mil milhões dos resultados financeiros e 25 mil milhões de kwanzas dos resultados não operacionais, como se pode verificar no relatório recentemente apresentado
A TAAG apresentou recentemente os resultados do exercício económico 2022, e logo saltou a vista o facto de serem positivos. É que a companhia vinha de resultados negativos desde 2019, quando registou um resultado líquido negativo de 134 mil milhões de kwanzas, seguido de outro resultado igual, registado em 2020, quando se ficou pelos USD 372 milhões, igualmente negativos, para um pouco mais tarde, em 2021 registar 296 milhões de dólares, também eles negativos, como mostram os relatórios a que OPAÍS teve acesso.
A companhia de bandeira vem então de pelo menos três anos de resultados negativos, daí que os 460 milhões de kwanzas, cerca de USD 867 mil, revelam-se importantes para a administração da companhia aérea. Em face deste cenário, Clemente Evangelista, especialista em urbanismo, diz que a TAAG pode dar e fazer mais.
Mas Evangelista chama atenção para o facto de a companhia de bandeira nacional ainda ter o peso do passivo “nas suas costas”, já que vem de vários anos de resultados negativos. Por outro lado, o especialista aponta como factor preocupante o facto de os resultados operacionais, mesmo em kwanzas, terem ficado em terrenos negativos, nos 34 mil milhões de kwanzas. “Trata-se de uma situação que deve ser tida em conta, pois o quadro é revelador que resultados positivos estão relacionados à combinação dos 10 mil milhões do encaixe financeiro, e 25 mil milhões de kwanzas dos resultados não operacionais ou extraordinários como se pode verificar no relatório recentemente apresentado”, argumentou.
Sublinha que são portanto estes valores positivos que salvam o cenário de 35 mil milhões de kwanzas negativos dos resultados operacionais e pouco mais de 10 mil milhões de kwanzas de resultados antes de impostos. “Podemos então dizer que sem estes resultados extraordinários e efectivamente não operacionais e que estão fora do core business da TAAG, não estaríamos a falar de resultados positivos, como aqueles que se podem ver no desempenho financeiro em kwanzas”, disse.
Outro dado que salta à vista quando se olha com alguma atenção para o relatório da TAAG tem que ver com a melhoria do equilíbrio entre activo e passivo. É, na verdade, uma questão que vem dando avanços notáveis desde 2019, quando o passivo se tinha posicionado nos USD 319 milhões, USD 107 milhões acima do activo que se tinha ficado nos USD 212 milhões. De acordo com os dados, em 2022, o activo foi de USD 258 milhões, superiores ao passivo que situou-se em USD 249 milhões.
A necessidade de apoio do accionista No seu discurso antes mesmo da apresentação dos resultados, a Presidente do Conselho de Administração da TAAG, Ana Major, lembrou que um dos grandes desafios da empresa, aquando da chegada deste novo Conselho de Administração e Conselho Executivo era a garantia de padrões operacionais básicos, bem como a consistência na entrega, ao que o economista Marlino Sambongue comenta, dizendo que “os resultados apresentados em kwanzas são quase que uma confirmação de que os mais puros objectivos foram alcançados ou ao menos estão mais próximos de serem alcançados”, disse.
Para ele, a análise aos resultados da TAAG tem de ser feita sem demasiado entusiasmo. O economista lembrou que apesar de toda a euforia, normal de um cenário posterior a cinco anos de resulta- dos negativos, a TAAG não passou “de um momento para o outro a ser a melhor empresa do mundo”, avisou, tanto que os resultados em dólares ainda são negativos e espelham um cenário nada abonatório.
Os dados em dólares
Os dados do desempenho financeiro em dólares da TAAG mostram que a empresa obteve resultados negativos de USD 64 milhões em 2022, depois de em 2021 ter registado um resultado igualmente negativo de USD 296 milhões, por- tanto em mares ainda mais negros que os actuais. Realçar que nem mesmo os mais de USD 38 milhões obtidos com os resultados não operacionais ou extraordinários, como descrito no relatório, foram suficientes para salvar a companhia do vermelho. Daí fazer todo sentido se falar não apenas em capitalização, mas também em reestruturação, como aconselha Marlino Sambongue, que justificou a sua posição com os vários anos de “vermelho” nas contas e o facto de ser a actividade não operacional a salvar as contas da TAAG, em 2022. “É bom quando uma empresa como a TAAG apresenta resultados positivos, mas era melhor que estes fossem frutos da sua actividade real”, disse.
Números falam
Além do saldo positivo com que acabou o exercício de 2022, pelo menos os apresentados no desempenho financeiro em kwanzas, há outros números que mostram que a performance de 2022 aproxima a companhia dos tempos pré- pandemia, como o caso das receitas operacionais que se ficaram pelos 3USD 90 milhões, apenas 2 milhões abaixo do resultado de 2019, como mostra o relatório.
O número de passageiros também deu um grande salto, tendo ficado pelos 900 mil passageiros contra os 1,4 milhão de passageiros registados em 2019. Nas partidas o cenário é o mesmo. A companhia registou 10 milhões de partidas em 2022, muito acima dos 4 milhões de partidas de 2021 e bem próximo dos 13 milhões de par- tidas de 2019.
TAAG não é caso isolado
O regresso da TAAG aos terrenos positivos é também uma consequência dos bons tempos que se vive hoje, sem Covid-19 e com maior afluência dos passageiros aos aeroportos e às viagens. Em Portugal, cinco anos de- pois, a TAP também voltou aos resultados positivos, tendo terminado o exercício de 2022 com receitas recorde de 3,5 mil milhões de euros e um resultado operacional igualmente inédito de inédito de 268,2 milhões. Como estas duas companhias, podemos citar várias outras em todo mundo, que, com resultados maiores ou menores, regressaram aos terrenos favoráveis.
POR: Ladislau Francisco