Os dados relativos à conjuntura económica mostram que o comércio segue em sentido inverso ao mercado e ruma para terrenos positivos. Entretanto, a AIA fala que esta situação vai durar pouco, enquanto a ECODIMA aponta a falta de políticas claras para todo o processo produtivo nacional
Os produtos de origem nacional representam mais de 57% do total de produtos vendidos e estão acima dos 43% do total dos produtos de origem estrangeira, apontam os dados do Instituto Nacional de Estatística (INE) referentes à conjuntura económica das empresas. Osdados são relevantes e as- sociados ao aumento de mais de 8% na venda de produtos nacionais, que no mesmo período do ano passado rondavam os 48%, contra os mais de 51% de peso dos produtos importados.
A evolução só não é mais positiva porque, segundo os dados do INE, aumentou o número de empresas que registaram dificuldades do desenvolvimento das suas actividades em com- paração com o período homólogo. As empresas apontam como principais entraves do sector as dificuldades financeiras, os preços de venda demasiado elevados e a insuficiência da procura. Acresce-se a isto a ruptura de stocks, o excesso de burocracia e regulamentações estatais, como se pode ler no documento.
Contactado pelo OPAÍS, o presidente da Associação de Empresas de Comércio e Distribuição Moderna de Angola (ECODIMA), Raul Mateus, referiu que a situação não é da melhor porque “não estamos a conseguir lidar com alguns dos principais entraves do sector”, que se prendem com a falta de uma política clara que defina e trace as linhas mestras de todo o processo produtivo nacional.
Raul Mateus vai mais longe e diz que “vamos potenciar a produção nacional e vender ainda mais produtos nacionais se houver um programa específico para agricultura em que se defina, de forma inequívoca nas regiões de produção, quais os produtos devem ser produzidos em determinadas regiões de acordo com condições de solo e climatéricas.
O interlocutor adiciona ainda a necessidade de dar-se o devido incentivo e benefícios fiscais de acordo com o que for traçado. Não obstante, os dados relativos à conjuntura económica mostram que o comércio segue em sentido inverso ao mercado e ruma para terrenos positivos. O comércio evoluiu positivamente em relação ao período homólogo.
Custos de produção tornam agricultura não lucrativa
O presidente da Associação Industrial de Angola (AIA), José Severino, explicou que os produtos são frutos da produção, pelo que é daí que deve partir a análise. Olhando para a produção nacional, disse, os maiores etraves do sector produtivo resumem-se num mercado com baixo poder de compra, no fraco investimento público e na dependência quase absoluta de matéria-prima importada.
Para o presidente da AIA, são um conjunto de entraves que fazem com que a agricultura no nosso país não seja uma actividade lucrativa, por ter custos de produção muito elevados, e devido à escassez de infra-estruturas públicas e básicas, que limita os investimentos em larga escala em certas localidades do país, devido aos elevados cus- tos de investimentos. Assim, e apesar de reconhecer os avanços já dados, José Severino entende que, enquanto se mantiver este cenário, os produtos feitos em Angola podem até vender um pouco mais que os importados, mas será sempre “sol de pouca dura”.
Abertura da REA para produtos nacionais pode incentivar sector produtivo
Questionado sobre o contributo dos produtos nacionais na Reserva Estratégica Alimentar (REA), Raul Mateus começou por explicar que é positiva e serve para reduzir, ou mesmo eliminar a dependência do mercado estrangeiro. “É uma forma de suprir insuficiências internas”, disse o responsável, que lamentou o facto de os produtos nacionais não serem tidos nem achados na REA, chegando ao ponto de se estar a registar perdas por perecimentos, pela insuficiência de mecanismo de escoamento, apesar de terem estado a demonstrar potencial”. “Fenómeno que podia e pode ser evitado se a REA conceder abertura para o produto nacional”, finalizou.
Na mesma linha de pensamento, José Severino lamenta o fraco apoio do Executivo às empresas e a inexistência de um “Instituto de Cereais”, que faz com que as entidades não consigam reunir condições para serem abastecedores regulares e, por- tanto, contribuir mais activamente para a REA. “Lamentavelmente, apesar dos esforços da AIA, o Governo não avança para uma política mais agressiva em apoio à classe”.
A produção no Leste
No âmbito da sua estratégia do aumento da produção nacional, o Governo angolano decidiu transformar o Leste do país no maior produtor de arroz e outros grãos, para eliminar a dependência da região do sector diamantífero, como afirmou o ministro da Economia e Planeamento, Mário Caetano João, durante a visita à zona do Chitato, província da Lunda-Norte, confirmando: Uma aposta do Governo, que tem razão de ser, já que o território que compõe a província do Moxico foi a maior zona de produção de arroz na época colonial, chegando a garantir 270 mil toneladas anuais de arroz, com a produção concentrada em cinco dos nove municípios, casos do Alto Zambeze, Luacano, Cameia, Moxico e Luchazes.
Uma cultura que se perdeu por conta da guerra civil que se seguiu a 1975, com o êxodo da população, e hoje vai o Executivo trabalhando para voltar a colocar aquela região do país no topo da produção, porquanto, para este ano, a meta é chegar às 50 mil toneladas de arroz no Moxico, numa produção cuja “primeira fase é para o consumo interno do país”, como referiu o ministro.
Um avanço que, segundo o presidente da ECODIMA, faz sentido, já que o Estado tem trabalhado no sentido de materializar políticas voltadas para a melhoria da actividade agrícola, neste contexto, a aposta na zona leste do país consubstancia-se em transformar as províncias do Moxico, Lundas Norte e Sul nas maiores produtoras de arroz e outros grãos daquela região.
POR: Ladislau Francisco