O presidente da Federação Nacional das Cooperativas Agro-Pecuária de Angola (FENACOP) assegurou que, actualmente, os produtores nacionais são responsáveis por 60 por cento da carne consumida no país. Salvador Rodrigues projecta, para daqui a quatro anos, atingir a auto- suficiência, mas alerta para a necessidade de investimentos em infra- estrutura
O responsável vê na Covid-19, que assolou, recentemente, o país, um mal necessário, na medida em que tenha sido possível paralisar toda a rede logística mundial e, por conseguinte, obrigado ao abastecimento interno. Para o país, o quadro por si descrito permitiu grandes investimentos por parte de criadores, tendo resultado na projecção de mais de 60 por cento em termos de produção de carne consumida em Angola. Tal quadro inverteu cenários de importação.
Em entrevista à imprensa, à margem da feira do gado, que aconteceu em Benguela, disse ser evidente que há produto no mercado com muita qualidade e outra com pouca qualidade. “A luta é a melhoria com o programa que o Governo aprovou, nomeadamente no que toca ao PlanaPecuária”, considera. Na perspectiva de melhorar a produção e a qualidade da carne, Salvador Rodrigues afirma terem sido firmadas parcerias de cooperação com produtores de países como Brasil e França.
Em relação ao primeiro, há uma parceria de formação de quadros que permite a que produtores nacionais se desloquem, anualmente, àquele país da América Latina. “Geralmente, é no Estado de Minas Gerais, na zona do Brás. Desta vez, numa delegação mais com- posta entre a Associação Agro-pecuária, técnicos do Ministérios da Agricultura, da Economia e do próprio BDA foi possível contactar as instituições de investigação e fomento do Brasil, no sentido de nos trazerem o seu conhecimento e podermos desenvolver a nossa pecuária “, assinala.
Os produtores projectam, para até 2027, produzir 80 por cento da carne consumida em Angola, daí que manifestem optimismo em relação aos eixos contidos no PlanaPecuária, um instrumento de gestão do Executivo para o sub-sector que prevê, entre outras condições tendentes à materialização de tal desiderato, a construção de mais matadouros, centrais de frio, genética para melhoria animal e mais produção de alimento para o gado. O referido plano contempla, igualmente, além da componente infra-estrutural, brigadas de mecanização para se criar mais pastos, tanto para as fazendas quanto para as comunidades pastoris.
Combate à má-nutrição
O responsável referiu-se, igual- mente, à parceria firmada com empresários franceses que integraram, recentemente, a delegação do Presidente Emmanuel Macron, em visita de Estado a Angola, com os quais pretendem reactivar um programa de produção de leite. “Como vocês têm estado a acompanhar, o problema de subnutrição é um problema grave, então, ao nível da pecuária, esta componente do leite consta do Plano e te- mos de desenvolvê-lo”, assinala, garantindo estar em fase negocial a montagem de estruturas desta natureza, uma vez que Angola já as tinha, mas que se perderam ao longo dos tempos.
“Tal como estamos a relançar a pecuária de corte, também vamos relançar a pecuária de leite”, projecta. Actualmente, entre pequenos e médios, o país conta 1.600 cooperativas agro-pecuárias, sendo a província de Benguela com maior número, contando com 180 cooperantes, seguida da Huíla com cerca de 90. E conta com uma população bovina estimada em 4 milhões.
Governador desafia produtores
Por sua vez, o governador provincial de Benguela, Luís Nunes, insta a organização, que tem à testa Paulo Flora, presidente da Cooperativa dos Criadores de Gado em Benguela, que não se limite a promover o evento apenas em períodos de festas da cidade e desafia, por isso, a realização do evento pelo menos duas vezes ao ano. O governante lembra que a existência de pacotes de créditos postos à disposição de empresários pelo Governo, entre os quais os USd 300 de milhões para a agro-pecuária, anunciados, em Benguela, pelo Presidente da República, e aconselha os homens do campo a terem melhor organização, se possível reunidos em cooperativas, para que se possam beneficiar.
Nesta edição, que já vai na oitava, participaram 90 cooperativas e 35 empresas do ramo do agro-negócio (mecanização, fertilização e oferta de fármacos), provenientes do centro-Sul do país, nomeadamente das províncias de Benguela, na qualidade de anfitriã, Huambo, Huíla, Cuando Cubango, Cunene e Namíbe, segundo Neusa Calequeira, ligada à organização do evento. Estão expostos, na nave dedicada à exposição animal, gado bovino (de raça nelori, autóctone e cruzamento), caprino, suíno, cavalaria e aves. O ponto mais alto do evento deu-se com o leilão de cerca de 400 animais, entre bovinos e caprinos, numa altura em que a organização projectou um volume de negócios na ordem dos 400 milhões de kwanzas, segundo o porta-voz do evento, Victor Panzo.
POR: Constantino Eduardo, em Benguela