Em conversa com os jornalistas, o ministro da Agricultura e Florestas mostra necessidade de aumento da produção de arroz e fertilizantes, mas sinaliza a necessidade de se atingir a execução acima da meta do PDN
Opaís produz um total de 20 mil toneladas de arroz por ano, mas consome 500 mil toneladas, o que perfaz 480 mil toneladas de produto em falta entre a produção nacional e o consumo, conforme os dados avançados ontem, em Luanda, pelo ministro da Agricultura e Florestas, António Francisco de Assis.
Assim, o Estado angolano importa maior parte do volume de arroz que as famílias angola- nas consomem, numa altura em que, afirmou o ministro António Francisco de Assis, há condições para produzir localmente. “Temos clima e terras que favorecem a produção do arroz, como os casos de certas zonas do Uíge e do Moxico”, disse António Francisco de Assis que acrescentou que é exactamente por isso que o Plano Nacional de Fomento para a Produção de Grãos (PLANA- GRÃO) foca na produção de arroz.
A situação do arroz é o mesmo retrato de quase toda a produção agrícola nacional que, como foi avançado pelo titular da pasta da Agricultura, é dominado pela agricultura familiar, e vai dando mostras de não conseguir responder aos inúmeros desafios, como clarificam os dados. O nível de incapacidade faz com que Angola gaste 12 mil milhões de dólares por ano, só com importação de comida.
O Estado realizou despesas anuais na agricultura de pouco mais de 198 milhões. Números abaixo dos 12 mil milhões que gasta com importação de produtos alimentares, o que levou a que o ministro pedisse uma reflexão: “Imagina se este dinheiro fosse todo usado para aumentar a nossa produção”. Uma produção que, como indicam os dados, deve aumentar sempre acima dos 6% para pensarmos em atingir a autossuficiência.
Por outro lado, a execução do plano agrícola 2020 – 2021 foi de 320 mil toneladas, registando um aumento de 20% no comparativo com o período anterior e, o mais importante, ultrapassou as metas estabelecidas no Plano de Desenvolvimento Nacional (PDN). Acresce a isso que o país tem uma autossuficiência em produtos como a mandioca, ovos, banana, ananás e carne de cabrito, como referem os dados disponibilizados pelo ministério e reforçados pelo ministro.
Necessidade de 300 mil toneladas de fertilizantes
Os dados avançados pelo Ministério da Agricultura e Florestas chamam, igualmente, atenção pelo nível de produção de fertilizantes que rondam as 18 mil toneladas, entre os fertilizantes simples e composto, quando a necessidade ronda as 300 mil toneladas. Como agravante, ainda há o rácio denominado fertilizante percapita, que indica a necessidade de fertilizante que cada pessoa consome. Neste domínio, fica evidente que o índice mundial é de 62,5 kg por pessoa, embora o ideal, segundo especialistas do sector, seja que cada um consuma até 25 kg de fertilizante por ano.
E aqui Angola fica na cauda, pois cada angolano consome -3kg por pessoa. No segmento da madeira, os da- dos do Ministério indicam que foram exportados 90 mil metros cúbicos de madeira, tendo ficado claro que os entrepostos construídos entre 2018 e 2019 contribuíram grandemente para o aumento do controlo da madeira que é exportada.
Por outro lado, o ministério conhece e, portanto, tem plena noção da capacidade de produção do mel, havendo mesmo intenção de compra no estrangeiro. Um bom cenário que só não se materializa porque é necessário que se melhore o método de produção, tornando-o mais sustentável e possível de virmos a ter um mel certificado.
As palavras do ministro
Ao falar aos jornalistas, durante o encontro denominado “conversa com os jornalistas”, o ministro António Francisco de Assis disse que a agricultura deve ser vista como chave para essa caminhada rumo à diversificação da economia, pelo que não entende por que se fala de tantas coisas e pouco ou quase nada da agricultura. António Francisco de Assis mostrou-se satisfeito pelo facto de na proposta do OGE estar-se a olhar para a agricultura de forma diferente, já que tem previstas receitas bem acima do que tem si- do habitual.
O responsável falou também dos problemas do sector, que são aqueles que todos conhecem, mas acrescentou que existem outros, fundamentalmente os liga- dos à logística para a agricultura que é toda importada, bem como a questão do capital humano e do mercado. O responsável foi mais além e disse que “temos de trabalhar no sentido de tirar do produtor toda a pressão do sector e até mesmo a obrigação de ter de ser ele a transportar o produto para o mercado ou mesmo para o consumidor final”.
POR: Ladislau Francisco