Segundo os agricultores, os prejuízos estão acima de 80 milhões de kwanzas, e apontam a morte de algumas culturas por “estresse hídrico”.
Sustentam que, nos últimos tempos, o roubo de mangas de irrigação está bastante acentuado no Dombe-Grande e, por conta disso, acusam a Polícia Nacional de ineficácia no combate a esses crimes.
O roubo obriga a que os agricultores optem pelo sistema de inundação de valas, que chega a ser mais oneroso. A água é um dos recursos de que o Dombe-Grande dispõe em demasia, mas, do rio Coporolo aos campos de produção, há que fazer alguns investimentos milionários.
Empresários, como António Noé, obrigam-se a investimentos de milhões na compra de mangas. São, justamente, esses instrumentos que têm sido o foco de muitos meliantes. “Nós, às vezes, damos de cara com as mangas na praça.
Outro dia, reconheci alguns que foram retirados da minha fazenda. Reportamos o caso à Polícia Nacional, o gatuno é preso, mas, vinte e horas depois, é solto, e volta a roubar”, reclama o agricultor António Figueiredo, para quem essa acção da PN propicia «justiça por mãos próprias».
Uma boa parte de agricultores no Dombe-Grande lançou à terra feijão, tomate, gindungo, milho e repolho. Em muitas fazendas onde a equipa de reportagem deste jornal esteve, as culturas apresentam cenário de seca, por falta de regularização no que à irrigação diz respeito.
“A vandalização do sistema de rega está a ser insuportável”, explica Anónio Noé, que se manifesta impotente face ao que, ultimamente, ocorre no Dombe-Grande.
O empresário dispõe de 70 hectares de terra cultivável, mas explora apenas 60, onde tem plantado tubérculo, leguminosas e grãos, sendo que, em relação a este último, o destaque recai para o feijão. Inicialmente, confrontou-se com um roubo que lhe causou prejuízo de 12 milhões de kwanzas.
Entretanto, convencendo-se de que não devia «chorar pelo leite derramado» e que a vida seguia para frente, puxou do bolso pouco mais de 80 milhões de kwanzas para a compra de sistemas de irrigação e insumos agrícolas e acabou por ter o mesmo fim.
Essa prática compromete 20 hectares de feijão, 14 de tomate, quatro de gindungo, dois de melancia e repolho. “Estamos a produzir de tudo um pouco.
Batata-doce também. Os danos podem rondar acima dos 80 milhões de kwanzas. A maior preocupação é o feijão e o tomate”, reclama, ao referir que, em princípio, as projecções iniciais, em termos de produção de tomate, cifradas em 160 toneladas do produto, estão comprometidas.
Despedimentos à vista
“Os custos são incalculáveis, nesse momento. Estamos a tentar salvar a cultura, mas não vamos a tempo. Desde a semana passada sem água, a planta está a entrar em estresse hídrico”, lamenta o produtor, que ameaça despedir funcionários caso o quadro se mantenha. Neste particular, ele teme que o bolso do consumidor final venha a ressentir.
Produtores acenam para a Polícia
Os meliantes têm, igualmente, «visitado» a fazenda de Silva Francisco “Canu”, que, neste momento, faz contas à vida, em virtude dos investimentos feitos no cultivo de feijão. Ele não se refere objectivamente a números, limitando-se a dizer que são incalculáveis.
Antes de os roubos terem acontecido, ele conseguia regar, em três dias, seis hectares. Hoje, o processo está bastante lento, comprometendo a vitalidade de plantas, sobretudo de feijão. “Por causa do processo de remoção das mangas.
O quê que eu faço? Rego e depois sou obrigado a remover as mangas do canto para guardar. Se eu deixar no campo, no dia seguinte já não encontro o material”, explica.
Em função disso, sugere proactividade por parte da Polícia Nacional para se inverter o quadro. A polícia Nacional diz estar ao corrente do que acontece no Dombe-Grande e diz que não está a dar tréguas a meliantes.
O porta-voz do Comando Provincial de Benguela, superintendente-chefe Ernesto Tchiwale, dá conta de uma operação desencadeada, recentemente, que resultou na detenção de cinco cidadãos e que as acções não ficam por aqui.
Por: Constantino Eduardo, em Benguela