Os preços subiram menos em Fevereiro que no primeiro mês do ano, apesar de o kwanza já ter desvalorizado cerca de 30% face ao euro, o que revela que, até agora, a política cambial não atrapalha o controlo da inflação
POR: Luís Faria
A inflação voltou a descer em toda a linha, com a variação mensal dos preços a cair em Fevereiro face ao primeiro mês do ano. Em Janeiro, embora a inflação homóloga, que compara a evolução dos preços com a verificada em igual mês do ano anterior, tenha continuado a diminuir de ritmo, a variação mensal do nível de preços (1,47%), fora superior à apurada em Novembro e Dezembro. Isto significa que se, em confronto com o mesmo mês do ano anterior, o custo de vida aumentava menos, a intensidade da subida face a Dezembro indiciava que aumentava a pressão inflacionária, apontando o Relatório de Inflação publicado há uns dias pelo Banco Nacional de Angola (BNA) para que, neste primeiro trimestre de 2018, a variação mensal da inflação se venha a situar no intervalo entre 3,82% a 5,70%.
Ora, o Instituto Nacional de Estatística (INE), na sua folha mensal sobre o Índice de Preços no Consumidor Nacional relativa a Fevereiro indica que a variação mensal dos preços em Fevereiro face a Janeiro foi de 1,26%, um valor que, desde o final de 2015, só foi superado em Novembro e Dezembro do último ano e que aponta para uma rota claramente descendente. A variação homóloga situou-se em 21,47%, que compara com o registo de 22,72% apurado em Janeiro e representa um decréscimo de 16,85 pontos percentuais com relação a observada em igual período do ano anterior. Os aumentos de preços no segundo mês do ano foram liderados pelas províncias da Cunene (2,95%), Lunda Norte (2,40%), Zaire (1,97%) e Lunda Sul (1,91%), enquanto as com menor variação foram Luanda (1,12%), Huíla (1,17%), Cuando Cubango (1,27%) e Benguela (1,39%). A classe ‘Bens e Serviços Diversos’, com 2,74%, foi a que registou o maior aumento de preços. Destacam-se também os aumentos dos preços verificados nas classes: ‘Saúde’, com 2,65%, ‘Transportes’, com 2,05% e ‘Vestuário e Calçado’ com 1,93%.
Culpados habituais
Os maiores ‘culpados’ pelo aumento dos preços são os habituais, atendendo ao seu peso no cabaz do INE. Assim, a classe ‘Alimentação e Bebidas não Alcoólicas’ foi a que mais contribuiu para o aumento do nível geral de preços, com 0,38 pontos percentuais durante o mês de Fevereiro, seguida das classes: ‘Bens e Serviços Diversos’ com 0,20 pontos percentuais, ‘Vestuário e Calçado’ e ‘Transportes’ com 0,14 pontos percentuais cada. As restantes classes tiveram taxas inferiores a 0,14 pontos percentuais. A inflação homóloga, que serve de referência à política monetária, situou-se em 23,36%, menos 1,79 pontos percentuais que em Janeiro e menos 16,09 pontos percentuais que a observada em igual período do ano anterior.
Os riscos
A desvalorização cambial é um dos riscos que afectam a evolução dos preços, de acordo com o BNA. Outro é o desequilíbrio no mercado de divisas, com a procura a continuar a superar largamente a oferta. Desde a introdução do novo regime cambial a 9 de Janeiro, o kwanza já depreciou quase 30% face ao euro e a expectativa é de que continue a depreciar. A diferença de cotação para o mercado informal vai-se estreitando e a autoridade monetária tem retirado moeda física de circulação para controlar a inflação. A evolução da inflação, em claro abrandamento, mostra, todavia, que a depreciação da moeda, tornando as importações mais caras e tendo em conta o seu peso sobre a classe que mais influencia o nível de preços (‘alimentação e bebidas’) que a depreciação da moeda não está a causar grande impacto no custo de vida.
A continuidade do programa de vendas dirigidas que distorce o funcionamento do mercado, a magnitude do ajustamento dos preços dos produtos administrados e o aumento dos impostos são outros dos riscos que, segundo o BNA, afectam o ritmo da subida dos preços. A taxa de inflação homóloga subiu entre Setembro de 2014 e Dezembro de 2016, quando ultrapassou 41%. No último ano voltou a descer gradualmente, com excepção do mês de Outubro, estando agora pouco acima de 21%. Após o ajustamento orçamental de 2015 e, posteriormente, a recuperação do preço do petróleo, a partir de 2016, a curva da inflação mudou de sentido em 2017, beneficiando da retracção da procura suscitada pela crise económica.