A euforia que marcou o início do ano esvaneceu-se com o recuo do preço do barril de petróleo para menos de USD 63, uma quebra só comparável à que ocorreu há dois anos, quando o preço desceu para USD 26. A culpa é do aumento, maior que o previsto, da produção norte-americana de óleo de xisto.
POR: Luís Faria
O pesadelo concretizou- se e o vertiginoso aumento da produção norte-americana de óleo de xisto, agora recorrendo a tecnologia mais eficaz importada da extracção de gás natural através de fracturação da rocha, parece imparável na demolição dos esforços da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) e os seus 10 aliados para introduzirem maior equilíbrio entre a oferta e a procura de crude ao retirar, diariamente, cerca de 1,8 milhões de barris do mercado. O petróleo teve a sua pior semana desde 2016 e registou uma queda equivalente à observada há dois anos atrás, quando o preço do barril de Brent (referência das ramas angolanas) bateu no fundo, cotando a USD 26, desencadeando um grave aperto orçamental nos países produtores, como é o caso de Angola, com a austeridade orçamental a ser acompanhada por uma grave crise cambial.
Na Quinta-feira o preço do barril descia, pela primeira vez desde o último mês de Dezembro, abaixo de USD 65. O crude do Mar do Norte, para entrega em Abril, terminava a sessão no International Exchange Futures a cotar 74 cêntimos menos que os USD 65,55 com que fechara as transacções na véspera. Na sessão que fechou a última semana o preço do barril de Brent caiu mais 2%, para USD 62,66. Em Nova Iorque o WTI também recuou perto de 2%. Após a recuperação encetada a partir de Junho de 2017, quando a coligação entre a OPEP e produtores aliados, liderada pela Arábia Saudita e Rússia, o preço do barril desenhou, em Janeiro, uma curva cada vez mais pronunciada no seu sentido ascendente, terminando o primeiro mês do ano, o melhor dos últimos três, acima de USD 70 – a 25 de Janeiro atingiu os USD 71,28 dólares, a sua cotação mais elevada desde 2014 -, o que suscitou euforias, com algumas entidades muito credíveis, como é o caso do banco Goldman Sachs, a atreverem-se a prognosticar que atingiria, nas próximas semanas, a marca de USD 80 ou que ficaria perto disso.
A verdade é que a subida da produção norte-americana o Brent perdeu, nas últimas semanas, mais de 9% do seu valor. Como reagirão agora Arábia Saudita, Rússia, e outros produtores, como Angola, que defendem medidas para equilibrar o mercado? Até onde terá de descer o preço para suscitar uma reacção? É muito possível que nesta semana em que estamos a entrar já se comece a saber como é que alguns países produtores vêm a actual situação de declínio do preço. O valor do petróleo nos mercados internacionais foi arrastado pelo movimento de correcção em baixa que afectou as bolsas mundiais, que foram contagiadas pela queda abrupta das bolsas americanas, cujos índices vinham batendo sucessivos recordes, nos primeiros dias de Fevereiro, mas há sinais de que o ‘susto’ passou e o Dow Jones terminou a última semana em franca recuperação.
O que não chega para animar o sector petrolífero (com excepção do norte-americano, é claro) pois o índice de energia S&P 500 caiu cerca de 8,5% numa semana, a maior quebra semanal verificada desde Setembro de 2015. As maiores companhias petrolíferas já registam o impacto do mau momento da cotação da matéria- prima e do sentimento que se apoderou dos investidores. A Exxon Mobil, por exemplo, perdeu cerca de 16% do seu valor de mercado em apenas seis sessões bolsistas, o correspondente a USD 61 mil milhões. Ao mesmo tempo que o preço do petróleo registou o maior recuo dos últimos dois meses, a produção norte-americana de óleo de xisto atingiu os 10,25 milhões de barris por dia na primeira semana de Fevereiro, o que está fortemente associado ao facto de muitos produtores já conseguirem lucros com o preço do barril no patamar dos USD 50. O que aumenta os receios entre os investidores de que o excesso de oferta poderá persistir, o que alimenta ainda mais a volatilidade do mercado, já afectado pelos ganhos do dólar face às principais moedas, designadamente o euro.