Há dois anos que o preço médio do barril de petróleo do tipo Brent varia na casa dos 80/70 dólares, com alguma tendência de alta, chegando mesmo a ultrapassar a barreira dos USD 120 mas sem assegurar estabilidade orçamental nos últimos dois anos, sendo o endividamento a solução
Cortes na produção global e incapacidade de alguns países de produzirem a quota que lhes é reservada pela OPEP são vistas como algumas das razões para a “estabilidade” de preços do petróleo no mercado internacional que continua a receber a produção petrolífera da Rússia por via de outros países.
O cenário é bom para Angola, mas não assim tanto, pois o superávide serve fundamentalmente para pagar credores.
Em Maio de 2022, o barril de petróleo chegou a ser comercializado por USD 125, numa altura que já havia guerra na Ucrânia, imposta pela Rússia que viria a ser sancionada mas sem o grande impacto desejado pelos aliados (União Europeia e dos Estados Unidos), e também para Angola, que até ao momento procura soluções para a sua estabilidade macroeconómica.
A subida do preço do petróleo (com preço médio de USD 70), nos últimos dois anos, abriu esperanças para Angola, mas logo-logo, a ministra das Finanças, Vera Daves de Sousa, tratou de explicar que o reflexo da subida do preço do petróleo face ao previsto no OGE não tem efeitos imediatos, além de que há o Serviço da Dívida que tem um peso elevado para os cofres do Estado.
Os cortes orçamentais nas programações iniciais para 2024 de alguns governos provinciais, ministérios e outras unidades orçamentadas é o resultado do “pouco poder” que o petróleo vai tendo para suportar as despesas, pois existem altos compromissos com credores por honrar.
Na sua análise sobre o tema, o economista e professor universitário, Paulo dos Santos, começa por dizer que “o mercado mundial assiste à subida dos preços de bens e serviços, incluindo das principais commodities, como resultado da guerra na Europa, e a instabilidade noutros pontos do mundo, corroendo o poder do Kwanza”, disse.
Lembra que a economia de Angola dependente essencialmente da exportação do petróleo, e a subida dessa matéria prima criou um superávide orçamental que beneficiou nominalmente a nossa economia e serviu para financiar algumas rubricas do OGE, sobretudo o pagamento das dívidas.
Reforça, mas com cautela, que passados dois anos de guerra na Europa, o mercado do petróleo ajustou-se à nova realidade, e o preço dessa commodity baixou, mas continuando acima da previsão do OGE. Para Paulo dos Santos, sucede que Angola exporta o petróleo bruto, mas a vida dos seus cidadãos depende das importações dos bens e serviços consumidos.
Assim, a necessidade de importações sistemáticas atrai para o país a inflacção dos países industrializados que produzem os bens consumidos em Angola, diluindo os ganhos trazidos pela subida do petróleo.
“Quer dizer que o preço do crude no mercado mundial estabilizou-se em cerca de 77 USD, acima dos 65 USD previstos no OGE de Angola do ano em curso, representando um excedente de 17%.
Entretanto, desde o ano passado registou-se uma inflacção do Kwanza em relação o dólar na ordem de 24%, muito acima dos ganhos obtidos com o preço actual do petróleo, o que cria défice no OGE”, explicou o académico.
Sublinha que o cenário agravase com os preços no consumidor, que no ano passado subiram 18% quando comparado ao período homólogo, retirando grande poder de compra do mercado.
Realça que “nessas circunstâncias, o Executivo torna-se refém da dinâmica do mercado mundial quanto à estabilização do Kwanza e dos preços no mercado, assim como no que refere a implementação dos vários projectos económicos tais como a diversificação da economia que tem ajudado a sustentar o mercado interno, a construção de infraestruturas económicas tais como as refinarias, ou acudir o sector social que enfrenta dificuldades por défice de financiamento”, enumerou.