O ano abriu com o preço do petróleo a atingir valores que já não se viam desde 2014, para o que contribuiu a quebra dos stocks e as condições climatéricas nos Estados Unidos e a animação no crescimento global. Num momento em que o preço do barril sobe pelo terceiro ano consecutivo e que a OPEP parece ganhar o braço-de-ferro com a produção de óleo de xisto os analistas interrogam-se se o actual valor do barril é sustentável.
POR: Luís Faria
Cushing é uma pequena cidade de pouco mais de sete mil habitantes situada no meio do Oklahoma, um estado norte-americano que faz, a Sul e a Oeste, fronteira com dois estados com tradições petrolíferas, o Texas e o Novo México. Cushing também tem uma intensa participação na indústria do petróleo e hoje ocupa um lugar central na definição do preço da matéria-prima no mercado. O lugar da cidade como produtora de petróleo atingiu o apogeu nos anos da Primeira Grande Guerra. Em 1919 produzia 300 mil barris por dia, o correspondente a 3% da produção mundial, tornando-se também uma importante plataforma de refinação.
Mas a sua condição de estrela da produção começou a empalidecer nos anos 40 do século passando, sobrando então à cidade a grande capacidade de armazenamento de crude. Mais que isso, tornou-se uma verdadeira encruzilhada para dezenas de oleodutos, designadamente 13 dos principais. A cidade ganhou o estatuto de maior centro logístico de distribuição petrolífera nos Estados Unidos, ditando o nível de entregas que regista o preço do petróleo de referência comercializado nos Estados Unidos, o West Texas Intermediate (WTI), negociado na bolsa de mercadorias de Nova Iorque (New York Mercantile Exchange), que envia, em tempo real, para ecrãs de computadores e smartphones as cintilantes cotações da matéria-prima energética em tempo real.
Na última semana de 2017 o nível dos stocks em Cushing caiu para o menor nível desde Fevereiro de 2015 e abaixo da média dos últimos cinco anos, o que, associado às tempestades de Inverno que atingiram os Estados Unidos fez com que o preço do barril de WTI voltasse a valores que não eram vistos desde…2014. Os futuros de Brent para 2019, negociado na praça de Londres e referência para as ramas angolanas e mais de metade do mercado petrolífero global, subia a 4 de Janeiro, numa só sessão, USD 3,81, um recorde na história da negociação deste tipo de petróleo. Além do contágio do baixo nível de stocks norte-americano, o Brent beneficiou ainda da instabilidade política no Médio Oriente, designadamente da tensão no Irão, o terceiro maior produtor da OPEP e que vem recuperando a sua oferta petrolífera, outrora uma das maiores da região, do impacto das sanções impostas ao país até à celebração de um acordo com algumas potências ocidentais quanto ao seu programa nuclear.
Abrir 2018 em força
Desde 2013 que o valor da matéria-prima não iniciava um ano com tanta força, reflectindo a determinação da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) e os seus dez aliados de restringir a produção até ao final deste ano e o maior ‘aquecimento’ da economia mundial, com a Europa e os Estados Unidos a revelar boa passada no crescimento económico e, em consequência, no aumento da procura da matéria-prima energética. O efeito do aumento da procura pelas economias mais industrializadas está a bafejar as matérias- primas na sua generalidade. O crescimento da procura por matérias- primas pela manufactura europeia entusiasma as fábricas chinesas, que fazem por aproveitar o bom momento do mercado, colocando as maiores economias do mundo num alinhamento positivo.
O último ano abriu com o preço do barril de Brent nos USD 55 e o preço médio do ano acabou por situar- se neste valor. Acontecerá o mesmo a 2018, o terceiro ano consecutivo em que o preço do barril de petróleo sobe? O preço do barril de Brent fechará o ano com um registo médio de USD 65, depois de, nos primeiros dias de Janeiro e até ao final da última semana, ter conseguido um preço médio de USD 67,5, chegando, dia 4, a encerrar a sessão acima de USD 68? Tudo depende, como sempre, da resposta da produção norte-americana de petróleo de xisto, que a generalidade dos analistas prevê que suba para mais de 10 milhões de barris por dia a relativamente curto prazo se o preço de referência da matéria-prima se mantiver tão elevado.
Até acabar o último ano os produtores de óleo de xisto não deram sinais de vir a aumentar a produção, mantendo as mesmas 747 explorações que se encontraram activas no último trimestre. A possibilidade de o barril de Brent negociar acima de USD 60 este ano, sempre condicionada pelo braço de força entre a OPEP e a produção norte-americana de xisto, dependerá muito da evolução da procura mundial, da concretização das medidas proteccionistas de Donald Trump, o que acontecer valorizará o dólar com um efeito inverso sobre o preço da matériaprima, e da persistência de tensões geopolíticas. Os Estados Unidos querem (pelo menos a sua administração anuncia-o), por um lado, produzir mais e, por outro, suster o preço do petróleo a um nível elevado, que permita que a produção interna se expanda sem sacrificar a rentabilidade junto dos financiadores. E não faltará instabilidade geopolítica relacionada com o preço da principal matéria-prima energética.