Três meses depois da entrada em vigor do Diploma que suspende, por três anos, a exportação de madeira em estado bruto, o sector já ressente a medida com a diminuição de solicitações de licenças de exploração ao nível de várias províncias e a baixa na comercialização do produto
O Cuando Cubango é uma das províncias com maior volume de exploração de madeira ao nível do país. Por lá, contrariamente às 30 solicitações de licenças registadas no ano passa- do, este ano o número de solicitação está apenas em seis. Apesar de ainda haver uma margem de solicitações, o presidente da Associação dos Madeireiros desta província, Miguel Tchiovo, referiu que este ano o número reduziu consideravelmente.
O responsável referiu que os números de 2023 poderão impactar, negativamente, no negócio da madeira e no desenvolvimento da província e do país. Miguel Tchiovo acredita que a medida que proíbe a exportação de madeira bruta é salutar, mas para a sua materialização deve ser olhada para todas as condicionantes que envolvem o sector. “Queremos fazer o aproveitamento integral de todo o produto madeireiro, desde as folhas até aos troncos que exigem mui- ta tecnologia, bem como técnicas para o processo. Deste mo- do, as empresas vão capacitar-se e cumprir com o propósito do Decreto Presidencial ”, referiu.
O representante do Cuando Cubango entende que implementar medidas sem que os empresários tenham condições para cumprir é matar as empresas e desempregar as pessoas. No Moxico, a realidade não é diferente, vis- to que as solicitações para exploração de madeira caíram drasticamente, pois das 40 registadas no ano passado, neste momento o número não passa de sete. O presidente da Associação dos Madeireiros no Moxico, Frederico Salvador, avança que as em- presas continuam a deixar esta actividade de exploração de madeira e abraçar outros negócios.
Frederico Salvador frisou que já teve várias reuniões com o ministro do sector da Agricultura e Flores- tas, para relatar os factos, no entanto, outros ministérios também intervêm e dificultam todo o pro- cesso de exploração da madeira, inclusive já foi mandada carta ao Presidente da República. Já o representante do Instituto de Desenvolvimento Florestal (IDF) no Uíge, Rodrigues Nanga, confirma que o negócio da madeira tem registado baixa desde a entrada em vigor do Decreto Presidencial. “Verifica-se uma baixa na exploração da madeira, porque os principais compradores eram as empresas exportadoras e com o diploma que proíbe a exportação da madeira não manufaturada existe pouca procura”, disse.
Empresas abandonam a actividade
O presidente da Associação Nacional dos Industriais e Madeireiros de Angola (ANIMA), José Veríssimo, informou que muitas empresas estão abandonar a actividade de exploração de madeira, porque os custos para manter as empresas são elevados e não existem incentivos. José Veríssimo disse que ainda não foi realizado um levantamento para saber de concreto o número de empresas de exploração de madeira que deixaram de funcionar nos últimos meses. “A principal dificuldade prende- se com a falta de incentivos e os custos elevados que fazem com que algumas empresas emigram para outras actividades”, explicou.
Sendo assim, o responsável associativo apela às autoridades para maior incentivo ao sector que tem capacidade para empregar mais de 100 mil pessoas nos diferentes segmentos desde a criação de florestas industriais, plantação de árvores e outros. Questionado sobre a redução de pedidos de licenças para a exploração de madeira, disse que o ano florestal teve início no dia 5 de Maio e algumas empresas ainda não apresentaram os pedidos de exploração que poderá acontecer nos próximos meses.
José Veríssimo salientou que, em princípio, as licenças devem ser emitidas o mais cedo possível, reconhecendo que o Instituto de Desenvolvimento Florestal (IDF) tem feito um grande esforço, apesar de estar debilitado com problemas de quadro e equipamentos. Em relação ao Decreto Presidencial que suspende a exportação de madeira em bruto, José Veríssimo disse que as empresas estão paralisadas porque estão a aguardar o novo Decreto Executivo que deve regulamentar o que se deve exportar. Sublinhou que em diferentes países o sector da indústria madeireira contribui com 15 % para o Produto Interno Bruto (PIB), diferente de Angola que não tem condições para maior contribuição. Actualmente, a ANIMA conta com 96 associados ao nível do país.
Bengo: Busca por linha de crédito
De modo geral, os madeireiros reconhecem que, com o Decreto Presidencial que proíbe a ex- portação de madeira bruta, o Estado quer regular o sector de mo- do a permitir maior crescimento e agregar valor na exportação da madeira. Entretanto, para que tal venha a ser uma realidade, Africano Noé, dos madeireiros do Bengo, referiu que as empresas precisam de incentivos para se capacitarem. Os incentivos, segundo Africano Noé, passam pela busca de uma linha de crédito com juros bonificados, como acontece com outros sectores, para se manterem no mercado e contribuírem para a diversificação da economia.
Esta preocupação é, de resto, dos madeireiros ao nível nacional, pois Miguel Tchiovo, do Cuando Cubango, reforça que “não basta implementar medidas, é necessário o apoio dos bancos para a aquisição dos equipamentos e máquinas para o processamento da madeira, de modo que as empresas estejam habilitadas para transformar o produto”.
Do Moxico a reacção não é diferente. Frederico Salvador é de opinião que o Governo, através dos bancos públicos e o impulso aos privados devem faciitar o crédito de forma leasing, que é uma forma de negociação em que o cliente só se torna do- no do equipamento após concluir todas as prestações de pagamento ao banco credor.
“As empresas exportadoras de madeira precisam de encontrar um mercado que permite o escoamento de forma eficaz e estão comprometidas com a criação de empregos”, salientou. Diante disso, acredita que poucas empresas vão permanecer no mercado e a produção de madeira irá reduzir, porque as empresas não conseguem transformar para exportar por falta de investimentos. “As empresas não têm capacidade para comprar equipamentos para transformar a madeira e os bancos para conceder financiamentos impõem uma série de condições, sendo uma delas ter a concessão que permita a exploração até 25 anos como garantia, que é extremamente difícil”, detalhou.
POR: Patrícia de Oliveira