Apesar da ligeira redução do preço do cimento, que saiu de 5 mil e 300 kwanzas para 4 mil e 400 kwanzas, os demais materiais de construção civil mantém-se com preços elevados, o que leva muitos cidadãos a “engavetarem” os projectos de construção e os empreiteiros a desistência da actividade
O preço dos materiais de construção tem levado muitos consumidores a adiarem projectos, a desistirem do sonho da casa própria, a optarem por reformas ou mesmo a construção de estabelecimentos comerciais. Foi o que contou o subempreiteiro Domingos Fernando, que está na área há mais de 12 anos.
Domingos Fernando disse que o número de obras de construção civil reduziu consideravelmente nos últimos dois anos tendo em conta o agravamento do custo de vista, bem como o preço elevado dos mate- riais, cujos equipamentos, na sua maioria, são importados, e a alta do dólar. “Quando os clientes solicitam os nossos serviços, após a apre- sentação do orçamento, muitos desistem, justificando o preço dos materiais e o alto custo de vida, prometendo ligar posteriormente”, explicou.
Nos últimos dois anos, segundo o também estudante de construção civil, as principiais solicitações para obras são acabamentos de residências, enquanto nas centralidades são as infiltrações que afligem os moradores. “Temos recebido muitas solicitações para ver problemas de infiltrações nas centralidades, reduziram as construções de residências de raiz e obras de grande envergadura”, contou.
Redução de clientes
Numa ronda efectuada nos mercados do Bita Tanque e do Kifica, constatou-se que os preços dos materiais mais usa- dos em obras, como cimento e ferro de aço, registaram ligeiras reduções. O preço do cimento reduziu de 5 mil 300 kwanzas para 4 mil 400 kwanzas, enquanto o custo de 10 varões de 12 mm saiu de 57 para 56 mil kwanzas. “Quanto mais comprar, maior é também o desconto”, fez saber Domingos Fernando. Rosária António, do mercado do Bita Tanque, contou que o número de clientes reduziu, sublinhando que, na sua maioria, procuram os materiais de construção no final do mês, porque dependem do salário.
Apesar de se ter registado redução no preço do cimento, por exemplo, a comerciante disse que se compra cada vez menos, uma situação que associa ao actual custo de vida. “Nos últimos tempos, os clientes dificilmente conseguem comprar acima de 10 sacos de cimento. Tem semanas que só conseguimos vender cinco sacos de cimento, e alguns estão à espera que os preços dos produtos reduzam para dar continuidade às obras”, disse.
Por sua vez, Certeza Memória, outra comerciante, contou que a clientela, ultimamente, é muito escassa. A comerciante, que está no negócio desde 2008 e vende diversos tipos de materiais, como chapas, cimento, ripas, varão e contraplacados, sublinhou que vive somente das vendas para apoiar a família e almeja a redução dos preços para continuar a alimentar a família. No mercado do Kifica, a senhora Maria disse que quase não regista o lucro no negócio, pois que boa parte do dinheiro vendido acaba por ser gasto no táxi.
“Vivo no bairro do Calemba 2 e tenho de apanhar vários táxis para chegar no Mercado do Kifica. E nem sempre há clientes”, disse. No mesmo local, encontrámos Mariana Domingos, que enfrenta os mesmos problemas com a falta de compradores, sublinhando que a solução tem sido permitir que muitos clientes levem o material para pagar no final do mês, o que tem facilitado um pouco as vendas. “Praticamente, viemos ao mercado para não ficar em casa e porque os filhos precisam de comer, mas vendas estão de mal a pior”, deplorou.
“Preços elevados dos materiais podem contribuir para a inflação”
o economista Herique Pascoal referiu que a subida dos preços dos materiais de construção civil podem ser preocupantes e têm várias implicações significativas no país, assim como um impacto adverso na economia como um todo, uma vez que os resultados apresentados no relatório do Índice de Preços dos Materiais de Construção (IPMC) indicam que aumentou 2,6% de Dezembro de 2022 para igual período de 2023, representando um acréscimo de 0,7 pontos percentuais em comparação com o mês anterior.
Entre os grupos de materiais de construção, o “cimento e aglomerantes” lideraram os aumentos de preços, com 27,7%, seguidos por “aço”, com 19,5%, “pedra britada e mármore”, com 17,1%. Os grupos que mais contribuíram para a variação do IPMC, em Dezembro, foram “cimento e aglomerantes”, com 1,6 ponto percentual, “aço” com 0,6 pontos percentuais, “betão pronto”, com 0,2 pontos percentuais e “blocos”, com 0,1 pontos percentuais. Para o economista, esta situação pode representar um desafio significativo para empresas e empreiteiros com atrasos em projectos de construção, redução da actividade e até mesmo falência de empresas no sector.
“A alta dos preços dos mate- riais podem contribuir para a inflação geral, reduzindo o poder de compra dos consumidores e aumento dos custos de vida”, ressaltou. Na opinião de Henrique Pascoal, os preços mais altos dos materiais de construção podem traduzir-se em preços mais elevados de habitação, tornando mais difícil para as pessoas comprarem, construírem ou alugarem propriedades, dificultando acessibilidade à moradia.
Defende, igualmente, que o aumento dos custos de construção e habitação pode ter consequências sociais, como o crescimento da desigualdade, deslocamento de comunidades de baixa renda de áreas urbanas devido a preços mais altos de aluguer e maior pressão sobre os serviços públicos.
“O aumento no preço dos mate- riais de construção pode dificultar o desenvolvimento de infra- estrutura essencial, como estradas, pontes, escolas e hospitais, limitando o crescimento e o desenvolvimento económico”, explicou. Para ele, os preços alarmantes nos preços podem ter implicações significativas em vários aspectos da economia e da sociedade, exigindo uma resposta coordenada e estratégica por parte das autoridades e stakeholders relevantes.