Sindicato, especialista em finanças e economistas convergem na ideia de que a existência de bancos de peque- na dimensão, com uma gestão funcional, pode ser a solução para muitos bancos que continuam em crise. Nos últimos três anos, segundo o SNEBA, mais de três mil agentes bancários foram no desemprego
O economista Heitor de Carvalho entende que a melhor solução para muitos bancos que operam no mercado angolano passa por reduzir as suas actividades e transformarem-se em instituições de pequenas dimensões.“Eu não percebo por que é que o BNA há de ter uma política em que um banco pequeno, mesmo que bem gerido, não pode existir. Só tem que ter um grande capital.
Um banco pequeno bem gerido é um bom banco”, começou por dizer o interlocutor. Para ele, ao invés de se usar o tamanho e o capital do banco como critérios, devia ser exigido como critérios a boa gestão e a rentabilidade, que dariam solidez tanto financeira e de postos de trabalho. Por outro lado, olhando para a situação actual do Banco Económico, o interlocutor diz que há muito que esta instituição não dá resultado, apesar das constantes injecções de capitais que tem acontecido nos últimos anos.
Por esta razão, a sua reestruturação é o melhor caminho a ser seguido, porque os pequenos ajustes não estão a resultar. Sobre os postos de trabalho, entende que as instituições não podem recear fazer a restruturação por causa deste ponto, pois no caso do Económico há problemas mais graves que impactam nos trabalhadores, como é o caso do eleva- do crédito mal parado. “É o banco que mais estava vira- do para o crédito à economia e com a situação dos nossos sobe e desce da economia tem muito crédito mal parado. Então tem que voltar a racionalizar a estrutura do banco”, disse, reforçando que “é melhor perder 30 ou 40 postos de trabalhando para depois de restrurado conseguir 100, mas o que não deve continuar é meter dinheiro num banco que não tem viabilidade”, disse Heitor de Carvalho.
Sanear o mal parado
Para o especialista em mercados financeiros e bancário, Nelson Prata, tem havido resultados satisfatórios, mas, enquanto muitos bancos não sanearem por completo as carteiras de créditos mal parados e resolverem as imparidades, continuará a haver consequências e perdas por imparidades. Nelson Prata realça, no entanto, que com a aprovação do código de governação corporativas para as instituições financeiras, obrigatoriedade dos administradores independentes e os comitês de auditoria, deu-se um grande passo no sentido de se consolidar a nossa banca.
O também responsável da Academia da Alta Finanças realça que, no caso do Banco económico, o facto de ser um banco sistêmico, os riscos que resultam do exercício da sua actividade podem meter em causa o sistema financeiro, à semelhança dos principais bancos da nossa praça que constituem o top 5.
Fusão dos bancos
Já o especialista em banca e finanças, Cruz Lima, alinha na mesma ideia e realça que a solução de muitos bancos angolanos passa pela redução da actividade, tornarem-se mais pequenos e não necessariamente serem recapitalizados para se tornarem grandes intuições. “Bancos de menores estruturas, bem organizados e que dão lucro podem garantir mais confiança aos clientes do que os de grande dimensão que volta e meia caiem no descrédito”, realça, sublinhando a necessidade de o supervisor (Banco Nacional de Angola) mudar os procedimentos para que tal venha a ocorrer. Outra solução, segundo Cruz Li- ma, passa pela fusão dos bancos, pois entende que este procedimento colocaria em segundo plano a necessidade de recapitalização, encerramento de agências e, consequentemente, diminuição de pessoal como se vem assistindo ao longo dos anos com muitos bancos.
Mais de três mil funcionários perderam emprego
Para o presidente do Sindicato Nacional dos Empregados Bancários de Angola (SNEBA), Filipe Makengo, a instituição que dirige não vê qualquer inconveniente na existência ou criação de bancos pequenos, com vocação para segmentos específicos, desde que cumprissem as regras do regulador. Filipe Makengo disse que a fusão seria o caminho mais satisfatório para a mitigação do sofrimento e do equilíbrio da alta taxa de desemprego que o país regista, desde que houvesse entendimento entre os accionistas. Aliás, quando questionado sobre quantidade de funcionários que ficaram no desemprego nos últimos três anos, o responsável do SNEBA disse que existem mais de três mil pessoas. “Deste universo, muitos encontraram colocação noutros bancos e outros sectores de actividade. Mas, mesmo assim, ainda há um número considerável de ex- bancários no desemprego”, disse.