Promete levar novos ares à Associação dos Empresários do Cuanza Norte, depois de ter sido eleita para um mandato de cinco anos no início. Nádia Patrícia Júlio Larangeira, formada em Gestão e Finanças e empresária na área de construção civil e exploração de inertes, promete estimular a cultura de ‘mãos dadas’ entre os empresários locais e levar a associação às 10 circunscrições municipais da província. O majestoso rio Cuanza na Velha Cidade do Dondo, serviu de cenário para uma breve entrevista ao jornal OPAÍS
Foi eleita recentemente presidente da Associação dos Empresários do Cuanza Norte. Com que propósito candidatou-se para liderar esta agremiação?
O nosso propósito é o de reformular a situação dos empresários na nossa província. Queremos melhorar o rumo empresarial do Cuanza Norte e pensamos que devemos começar a partir da associação, tendo em conta a força do associativismo. Queremos fazer com que os empresários unam-se, o que não acontece até ao momento. Unam-se andem juntos.Temos programas que vão concorrer para esta união e levar a que todos sigam um objectivo comu.
Que programas são estes?
Vamos apostar no intercâmbio de negócio para aplicação imediata. Estamos a promover e incentivar a que o empresário, nosso associado, que esteja a precisar de outro serviço ou meios antes que procure fora da província, procure no seio dos seus colegas associados. Isso tem uma grande vantagem que é de em caso de haver no seio da associação o serviço ou produto pro- curado o necessitado usufrui e paga depois. Vamos supor que um proprietário de um restaurante precise produtos alimentares como hortícolas.
O necessitado recorre à associação e esta por sua vez faz a intermediação com o fornecedor e em mútuo acordo há a troca de serviço me- diante compromisso de pagamento a posteriori. É apenas um exemplo. No passado, os empresários nossos associados íam buscar os serviços e produtos fora do Cuanza Norte quando na verdade estão disponíveis ao nível da província. Se quiseres potencializar as nossas empresas devemos ter produção, venda, prestação de serviços… etc. etc. Nada melhor que começarmos entre nós. Se o necessitado não conhece o que eu faço e tenho pior será conhecer o que está distante.
Aqui a necessidade de união é fazermos o trabalho que agora está em curso e vamos intensificar ainda mais esta cultura. Outra aposta é ajuda no senti- do dos nossos associados terem as suas empresas, dentre pequenas, médias e grandes bem organiza- das em termos de contabilidade, cumprimento das obrigações fiscais. Os que tiverem dificuldades nós prestamos ajuda a custo zero a fim de ajudar na organização empresarial. Qualquer empresa só cresce se estiver organizada. Precisamos ter contabilidade organizada para se saber se há crescimento ou não.
Temos em carteira formação na área dos recursos humanos de todas empresas associadas na nossa agremiação que na verdade está identificado como um grande problema dos nossos filiados: O capital humano. Este é um dos nossos principais problemas no seio dos associados. Por mais que a empresa tenha capital financeiro, se tiver debilidades no capítulo do capital humano, esta empresa não cresce. São problemas de base identificados no decurso da nossa curta vigência e que estão a ser imediatamente atacados. Portanto, estamos a fazer ainda o trabalho de casa, ajudando os nossos associados a organizarem-se, visando atacar o equilíbrio no binómio “investimento vs. Produção”.
Conheço a província com alguma propriedade por ter vivido a realidade local por muitos anos. O Cuanza Norte não é propriamente uma parcela com tradição empresarial. Diz-se que o negocio por cá é o da barraca, aquele que acontece apenas quando é pago o salário da Educação e da Policia. Este quadro mudou? Que tipo de empresários estão filiados da associação?
Nós queremos mudar o paradigma. Nos propusemos ir atrás deste desafio. Queremos mudar o conceito de comércio só por altura dos salários da Educação e da Policia. Por cá temos tudo para dar certo. A província tem terras férteis, chuva suficiente e regular, a província é um entreposto com ligação a vá- rias outras, é um ponto de passagem. Está aqui um grande potencial por explorar. Realmente, temos mais ‘candongueiros’ que empresários e é justamente nesta senda que que- remos direccionar os nossos esforços, levando os associados a atingirem patamares organizacionais à altura, acompanhando o seu desenvolvimento.
Nós temos empresas a operarem há já algum tempo, mas neste momento se pedires um historial da mesma o proprietário não tem. Vamos levar os nossos associados a deixarem de confundir as personalidades jurídicas, entre as suas e a das suas empresas. Uma é a pessoa dona da empresa e outra é a empresa em si. Eu sou dona de uma empresa, mas os meus ganhos como empresa não devem ser necessariamente os meus ganhos pessoais e aqui entre nós esta confusão é visível! São papéis diferentes. Queremos levar a que os nossos empreende- dores e empresários comecem a olhar o mundo empresarial noutra perspectiva. No momento temos um reduzido número de associa- dos, dado que estamos a começa- la, praticamente, do zero.
Quantos membros de facto tem a associação?
Desde 11 de Fevereiro temos controlados 28 associados, mas a perspectiva é de alargamento. Neste momento há muitos receios, mas vamos crescer rapidamente.
Em que segmentos de actividades estão os associados?
Não temos área específica. Temos membros dos mais variados ramos de actividade: Agricultura, comércio, prestação de serviços nas mais diversas áreas. Temos também jovens empreendedores a quem vamos ajudar na constituição de em- presas e organização das mesmas. Enfim…
Geograficamente. Há algum município que concentra a maior franja de empresários?
Estão mais nos municípios do Cazengo e Cambambe, que são zonas tradicionais de concentração de actividade económica na província o que é mau. Temos oito com fraca presença empresarial. Precisamos ir ajudar na organização dos heróis que mantêm presença empresarial nestes restantes oito municípios.
A maior queixa dos que tentam empreender é a falta de acesso a apoios financeiros, nomeadamente facilidades de crédito, por exemplo?
Nós a associação temos uma outra visão. Agora, o Executivo tem vários programas para auxiliar o empreendedorismo, principal- mente na área da agricultura, ou seja, do agronegócio. O que estamos a fazer é velar pela organização. Não é justo que alguém reclame que não tem acesso ao crédito quando não está organizado. Precisamos estar organiza- dos para bater a porta do credor. Não é só o dinheiro que faz uma empresa. Existem outras componentes. Primeiro precisamos distinguir o “meu dinheiro” do da empresa. Se as pessoas receberem crédito sem estarem prepara- dos seguramente hão-de dar outro destino a estes fundos.
Sabemos de pessoas que receberam crédito e compraram carros e casas, fizeram viagens turísticas no país e no estrangeiro. Fizeram tudo menos o fim para o qual tinha solicitado os fundos. A nossa visão é organização para se ter uma percepção real de que tipo de investimento vamos fazer para responder a máxima de que “dinheiro gera dinheiro”, evitando o esbanjamento e apostar no investimento real. Temos empresas organizadas no Cuanza Norte e muitas. Quanto a estas, estamos a recolher a documentação necessária, para depois junto do Gabinete Técnico Economico do Governo província acedermos aos produtos e oportunidades múltiplas disponibilizados pelo Executivo no esforço nacional de desenvolvimento empresarial.
Existem um segmento de empresários a operar no Cuanza Norte que não estão sedeados no território da província. As fazendas do Planalto de Camabatela, na parte território da província é exemplo disso. Estes são também membros da Associação?
Temos em carteira a nossa primeira feira e pretendemos congregar todos. Para tal estamos com a intenção de ir atrás dos empresários, tanto os que operam no Planalto de Camabatela quanto outros. Temos fé que a nossa intenção vai materializar-se e em breve teremos estes também a aderirem à nossa agremiação e contribuir melhor para o desenvolvimento da província. Como dissemos antes, a falta de organização em muitos aspectos prejudicou, e de que maneira, o aproximar das pessoas. Temos esta situação com os do Planalto de Camabatela, mas aqui pertinho, na área de Mucozo temos também uma boa franja de investidores que não estão connosco. Mas, vamos atrás de todos. Em breve vamos convidar os sedeados em Massangano (outro monstro adormecido). Nós (associação) é que temos de ter políticas que incentivem estes operadores a virem juntar-se a nós.
Já tem estas políticas agregadoras de todos?
Sim temos e estamos animados. Muitos dos empresários das áreas que citei têm ligado a manifestar a sua disponibilidade de trabalharmos juntos em prol do desenvolvimento do Cuanza Norte.
Finalmente há uma classe empresarial no Cuanza Norte?
Há com toda certeza. Ainda não é suficientemente robusta para explorar o potencial disponível e responder as necessidades na província. Mas, como disse, tudo passa por organização e união. Juntos podemos crescer e é o que vamos fazer nos cinco anos do nosso mandato.
As relações com as autoridades governamentais da província, um factor importante, para o desen- volvimento desta classe é boa?
Temos todo apoio do Governo da província. Neste momento, somos um dos maiores parceiros do Governo Local. Abriram-nos as portas, apoiam-nos no que é necessário. Temos apoio incondicional das Administrações Municipais. Em caso dos nossos associados terem alguma dificuldade em tratar algum documento, intermediamos junto das autoridades aos mais diversos níveis e assim vamos.
Ngonguembo, Banga, Quiculungo e Bolongongo, ditas hoje “novas terras do fim do mundo” com falta de estradas, serviços como bancos e outros, estão na vossa agenda. Temos empresários por lá?
Ainda não criamos núcleos. Estamos numa fase inicial. No se- gundo trimestre deste ano vamos criar estas estruturas. Temos algumas representações municipais em Cambambe, Lucala, municípios mais próximos. Mas, os núcleos da associação hão-de chegar aos 10 municípios da província. Tivemos recentemente em Quiculungo, Ngonguembo e Bolongongo para dar uma vista e conhecer como funciona a relação empresarial nestes municípios. Mais do que expandir a associação, estamos preocupados com a relação inter empresarial. Temos que nos conhecer a nós mesmos, sabermos o que temos e poderemos oferecer à província e depois agirmos. Agora no dia 26 de Maio, durante a Feira da província, vai ser uma boa oportunidade para fazermos este intercâmbio e troca de informação.
Propôs-me a fazermos esta entre- vista à beira rio Cuanza na Marginal da Velha Cidade do Dondo, enquanto ponto turístico. Entretanto, excepto alguns casos este é um potencial explorado pelos empreendedores de barracas? Tem gente interessada no turismo, por exemplo, que tem varia- das atracções a nível da província?
(Risos) …Como lhe disse no início tudo passa pela organização. A província tem empresários organizados, mas, ainda é “cada um por si e Deus para todos”. Por isso é que deixamos esta percepção de que temos vendas apenas com o pagamento do salário do sector da Educação e da Polícia. Se todos tivéssemos produção, nos mais variados sectores, os nossos negócios não dependeriam apenas de venda aos funcionários públicos com salários pagos. A produção disponibilizada ao mercado vai gerar e fazer circular dinheiro. Queremos mostrar o potencial da província, mostrar os talentos, ajudar os que necessitam para crescermos juntos e ali saímos todos a ganhar. Vamos combater a desunião e a tendência de nos prejudicarmos uns e outros…
Há esta tendência no Cuanza Norte?
Prejudicarem-se uns e outros? Sim. Em vez de ajudar, procuro prejudicar. Não devemos continuar com isso. Precisamos parar imediatamente e compreender que o crescimento do outro pro-porciona o meu crescimento e isso não existe. Porém, o grupo que esta connosco e todos aqueles que se juntarem terão de adoptar a politica de darmo-nos as mãos, solidarizarem-se uns e outros e seguirmos em frente