Caso não surjam os apoios, os madeireiros defendem que os principais beneficiários das exigências do Executivo que proibiu, na semana finda, a exportação de madeira não manufacturada serão os estrangeiros
O presidente da Associação dos Madeireiros no Moxico, Frederico Salvador, disse que há necessidade do Governo apoiar as empresas para a compra de máquinas para se fazer a tranformação localmente e agregar valor acrescentado.
À semelhança do que aconteceu com a proibição da exportação da madeira em touro, o empresário defende que o governo de- veria dar algum tempo, antes da publicação do Decreto que proíbe a exportação do produto não manufaturado para as empresas reorganizarem as acções.
“Precisávamos de um período de dois anos para nos preparar- mos, como aconteceu na proibição da exportação da madeira em touro”, defende. Realça que muitas empresas têm enfrentado problemas para se adaptarem em virtude das proibições consecutivas, como a não exploração do mussivi, uma espécie de madeira muita recomendada no exterior e com maior valor económico.
“Com esta medida muitos vão abandonar a actividade por falta de condições, porque grande parte dos madeireiros trabalham no corte e semi-transformação. Para responder as exigências do Governo é necessário investir em máquinas”, explicou. Na sua opinião, caso os pro- dutores nacionais não forem apoiados para a aquisição de máquinas que os permitam fazer a transformação localmente, a medida vai beneficiar os estrangeiros que têm possibilidades de montar grandes indústrias.
Surpreendido, o interlocutor de OPAÍS defende, igualmente, a necessidade de se passar a ouvir os operadores do sector antes da implementação de uma medida. Deste modo, acrescenta, se estaria a criar benefícios para os nacionais e promover o crescimento da economia local. Já o presidente da Associação dos Madeireiros no Cuando Cubango, Miguel Tchiova, apesar de enaltecer a medida tomada pelo Executivo, alinha na ideia do financiamento às empresas nacionais para transformarem a madeira para e venderem, sublinhando que se poderá assistir os estrangeiros a “to- mar conta” do negócio da madeira e o dinheiro a ser enviado para fora.
“Se o Governo não ajudar os empresários nacionais, os estrangeiros vão se apoderar deste negócio porque têm melhores condições”, sustentou. Para Miguel Tchiova faltou aviso prévio para que os operadres pudessem se preparar com a compra de equipamentos e ser- rações para transformar a madeira como sugere agora o Governo . Tempo insuficiente para escoar o produto.
Por outro lado, o tempo estabelecido de dois meses para escoar a madeira não é suficiente, realçando que muitas empresas terão dificuldades e prejuízos, tendo em conta as etapas até ao escoamento do produto. Miguel Tchiova frisou que o aproveitamento dos recursos florestais é de grande interesse para os operadores, mas as medidas não podem ser tomadas de repente.
Salientou que as empresas têm contratos para o fornecimento de madeira não transformada e com a proibição haverá penalizações com as empresas não cumpridoras com os clientes. O empresário salientou que o sector da madeira no Cuando Cuabango é o que mais emprega os jovens e ajuda na renda das famílias.
Por outro lado, realçou que a lei em vigor foi aprovada em 2017 com o objectivo de regular a actividade florestal. No entanto, a quota atribuídas à província do Cuando Cubango nunca é esgotada ao longo do ano, porque os empresários não conseguem trabalhar, daí a necessidade de revalidação das licenças de exploração. “Não se trata de um corte de sordenado porque só consegui- mos explorar 60% da quota atribuída”, explicou.
Encerramento de fábricas Há três semanas, a Autoridade Nacional de Inspecção Económica e Segurança Alimentar (ANIESA) encerrou mais de 15 fábricas de transformação de madeira no Cuando Cubango, uma decisão que terá sido motivada por incumprimento de regras do Instituto de Desenvolvimento Florestal (IDF), como noticiou este jornal na edição nº 2641. Fruto disso, a actividade em todas as unidades da província encontra-se paralisada, sendo que uma das consequências é o desemprego de mais de 15 mil pessoas, já que a indústria madeireira é que mais emprega na província, segundo afirmou Miguel Tchiova.
Desenvolver a indústria florestal
Na Quinta-feira, 2, o Conselho de Ministros, na sessão ordinária, aprovou um diploma a suspender a exportação de madeira não manufacturada sob qualquer forma de apresentação (toros, blocos, semi-blocos, pranchões), por um período de três anos. A decisão do Executivo angolano tem em vista a protecção da Natureza, face aos evidentes sinais de exploração intensiva e sem critérios de sustentabilidade, o que coloca seriamente em risco o futuro das nossas florestas.
Com esta posição, sublinha o Governo, pretende-se estimular o desenvolvimento de uma indústria de base florestal forte, moderna e dinâmica, capaz de gerar valor acrescentado à madeira de produção nacional e criar empregos e rendas para as famílias, sobretudo para os jovens, concorrendo, deste modo, para o combate à fome e à pobreza.