A decisão de pôr fim à exportação da madeira em toro foi tomada pelo titular do Poder Executivo, em Conselho de Ministros. Um ano depois, o administrador da maior empresa de exploração de madeira em Cabinda admite um impacto positivo
Com a sua extensa floresta do Maiombe, a província de Cabinda continua a ser o maior pólo de exploração de madeira no país.
Do enclave chegam informações segundo as quais o fim da exploração de madeira está a fazer crescer o sector, valorizando a cadeia de valor, assim como foram criados novos postos de emprego.
Um dos administradores da maior empresa madeireira de Cabinda, a Abílio Amorim, afirma que a medida foi tão acertada que os resultados já começam a ser sentidos. Herculano de Amorim diz que “a medida veio criar disciplina ao nível da floresta.
Algumas pessoas menos honestas estavam aproveitar-se do modo como a gente trabalhava. Não estavam preocupados em industrializar a madera e acrescentar valor”, afirmou.
Refere ainda que os desonestos só estavam preocupados em exportar a madeira “quadriculada” sem o processo de transformação, sublinhando que, com qualquer máquina artesanal, a actividade era realizada, portanto, sem profissionalização e respeito pelas questões ambientais.
“Agora as pessoas terão de trabalhar pensando no desenvolvimento da indústria, acrescentando valor e criando empregos.
Assim ganham os empresários, ganha o Estado e ficam de fora aqueles indivíduos que não estão organizados”, defendeu.
Com a transformação, insiste Herculano de Amorim, haverá mais valorização, o produto sai com preço mais alto, do mesmo modo que realça que a madeira terá mais qualidade, quer para exportação, quer para o mercado interno.
Exportação para Europa e Ásia Enquanto o Porto de Águas Profundas de Caio, na província de Cabinda, não fica concluído, a empresa Abílio de Amorim continua a utilizar o antigo Porto Comercial da província para a exportação de madeira em contentores de 20 e de 40 pés.
No processo de exportação, Portugal, França e Espanha são os principais destinos da madeira explorada no enclave para a Europa, ao passo que Vietnam é o destino asiático.
“Estamos a exportar, mas o nosso foco é a produção e comercialização interna. Estamos a contribuir de forma activa no fabrico de mobiliário escolar.
Queremos participar na solução, pois sabemos que o país precisa de muitas carteiras, secretárias e outros mobiliários”, fez saber.
Destacou que até pouco tempo destinavam perto de 60% da produção madeireira para a exportação e 40% para o país.
Entretanto, o quadro agora está invertido. “Agora será 70% para as necessidades internas e 30% para a exportação. Há aqui um mercado apetecível e que precisa de ser alimentado”, afirmou.
Moxico e Cuando Cubango falam em excesso de interferência
O presidente da Associação dos Madeireiros no Cuando Cubango, Miguel Tchiovo, disse que os seus associados estão a encontrar dificuldades para realizar as suas tarefas com normalidade devido ao excesso de interferências.
Reagindo ao decreto que pôs fim à exportação da madeira em toro, Miguel Tchiovo disse que a medida é salutar, mas os madeireiros não conseguem trabalhar com normalidade, apontando como exemplo os transtornos impostos na circulação dos camionistas.
“Teria um grande impacto, mas excesso de interferências de algumas entidades como os polícias e outros que mandam sempre parar os camiões e aplicam muitas infracções prejudicam as empresas”, declarou.
Além disso, fala que a proibição do corte da madeira da espécie mussivi é o que mais tem afectado os associados no Cuando Cubango, pelo facto de o maior comprador de madeira do mercado angolano, a China, mostrar mais interesse nesta espécie.
Refere que a proibição legal do corte mussivi terminou em Março de 2022, mas não se consegue transportar a madeira e, em virtude disso, o ano passado não se conseguiu tirar 10% da quota determinada na província.
O presidente da Associação dos Madeireiros no Moxico, Frederico Salvador Paulino, apresenta a mesma reclamação, sublinhando que, durante dois anos, o Governo tinha proibido a exploração da madeira mussivi sem a concessão do espaço.
De acordo com o também empresário, apesar das dificuldades alguns madeireiros conseguiram cumprir as exigências, porque a procura pelo produto aumenta todos os dias, com destaque para a espécie mussivi, mas a exportação reduziu consideravelmente.
Neste momento, as empresas estão a submeter os processos ao Instituto de Desenvolvimento Florestal (IDF) para a verificação das eventuais irregularidades para serem emitidas as licenças.
Além das províncias do Cuando Cubango, Moxico e Cabinda, cuja floresta transcende as fronteiras de Angola, explora-se madeira nas províncias do Uíge, Bengo e Cuanza-Norte.
Por: Miguel Kitari e Patrícia de Oliveira