Apesar do pouco contributo no Produto Interno Bruto (PIB), é dos secto-res que mais emprega no país. Para ter mais bases e gerir o negócio, muitos jovens têm aderido às formações, que vão da agricultura, suínocultura, até à avicultura ou veterinária
Este novo segmento de formações, que surgiu em 2021, vem ganhando robustez e cada vez mais aderência, de ano para ano, explicou ao jornal OPAIS, Gerão Nunes, formador da escola AgroGebil. Segundo a fonte, as turmas são pequenas, não mais de 10 formandos, mas a coisa já vai ficando agitada, de tal forma que todas as semanas abrem turmas, e, não poucas vezes, têm de abrir turmas especiais para formações mais direccionadas e específicas para fazendas específicas.
Gerão Nunes afirma que é mesmo este segmento que a cada dia que passa, se posiciona mais firme- mente como principal cliente destes centros de formação, que por agora, se encontram em quase to- do lado na província de Luanda e já têm renda aceitável. Daniel da Silva, também formador, desta feita do centro de formação Diamulundo Diamatek, corrobora da ideia de cada vez maior aceitação dos cursos e da agricultura em geral. Daniel da Silva, que mais se dedica à formação de piscicultura, explica que as formações agregam a componente teórica e prática, esta última feita, essencialmente, em fazendas situadas na zona da Fun- da e Kikuxi, em que os formandos aprendem de tudo, como fazer os testes de qualidade da água até à preparação do viveiro.
O formador esclarece ainda que tem a sua carteira de clientes com- posta por aquicultores, que procuram melhorar o seu desempenho, mas agrega o diferencial de conseguir atrair cada vez mais jovens, que na sua perspectiva, já olham para a piscicultura e a aquicultura, em particular, como uma boa for- ma de empreendedorismo. Olhando para o todo, percebe-se que são no essencial cursos de agricultura, suíno-cultura, avicultura, gestão agrícola, piscicultura e produção de ração. Gerão Nunes explica que o mais procurado é o de avicultura, seguido do curso de suinocultura, e, por último, o de produção de ração.
Custos
Os cursos que duram de cinco a 20 dias têm custos que variam entre 25 mil a 70 mil kwanzas, sendo que os preços específicos dependem do centro de formação e da modalidade ou especificidades do curso. Aqui, um destaque para o facto de serem flexíveis, chegando mesmo a ter ofertas formativas online e ao domicílio, como explicaram ao jornal OPAÍS. Acresce a isso que os referidos cursos têm um leque de formadores bem diversificados, nomeadamente biólogos, engenheiros agrónomos, veterinários e contabilistas.
A esse dado, adiciona-se o facto de qualquer dos responsáveis das escolas ouvidos por este jornal ter apontado para uma renda mais que suficiente para manter os centros e os formadores. Sendo que no caso de Daniel da Silva e a sua Diamulundo Diamatek, já há movimentações no sentido de aumentar o espaço para as formações, uma vez que a demanda obriga a isso. Daniel Kiala, proprietário do que chama “uma pequena iniciativa agrícola”, explica que recorreu a estas formações específicas, mais propriamente a de agricultura, por serem de curto prazo “15 ou 20 dias e tens o pessoal mais ou menos preparado para lidar com as terras”, disse, tendo esclarecido que ficou surpreendido com o resultado.
Agricultura pode ganhar pulso
A falar sobre o necessário para que a agricultura ganhe pulso, os forma- dores foram unânimes em apontar para a necessidade de programas de créditos para apoio à produção menos selectivos e com menos burocracia para a aquisição de crédito. Só assim, referem, é possível que haja uma efectiva redução significativa na importação de produtos alimentares, principalmente de frangos, ovos e carne suína, e que se desenvolva a cadeia de valor do frango, com a construção de matadouros e frigoríficos e indústria transformadora.
Por outro lado, os cursos ligados à agricultura são, segundo Daniel da Silva, a prova que, sobretudo, os jovens, olham para o segmento com outros olhos e já conseguem vislumbrar um futuro e até mesmo uma carreira de empreendedorismo nesse segmento. Com turmas a abrir todas as semanas, Gerão Nunes refere que a renda das formações também já são interessantes, é assim que sai de um segmento onde trabalhava para outrem e ruma para a aventura de empreender no sector agro, onde se posicionou no segmento das formações em vários dos campos relevantes para uma vida e activdade agrícola decente.
Agricultura em Angola
Com o nível de empregabilidade a rondar os 50% no quarto trimestre de 2022, conforme os dados do INE. A agricultura é assim, o sector que mais empregou em Angola na- quele período. Uma realidade que não é nova, já que no trimestre anterior, o sector agrícola ficou pelos 49,3% do total dos empregos em Angola. Assim, o sector agrícola é o de maior relevância nas contas da empregabilidade no país. Já que em termos gerais, congrega metade de todos os empregos que se gera no país.
Por outro lado, a contribuição do sector agrícola para o crescimento do PIB no primeiro trimestre de 2023, não foi relevante, tendo sido mesmo negativa. Ficou pelos -0,06. Portanto, não só não ajudou a crescer, como ainda travou o crescimento da nossa economia no primeiro trimestre de 2023, como mostram os dados das contas nacionais trimestrais do INE.
Tubérculos representam mais de 57% da produção
As raízes e tubérculos com exactos 57,1% do total da produção representam maior parte da produção nacional, seguidos de longe pela produção de frutas, que segundo os dados do INE, ficou pelos 27,7%. A produção de cereais aparece na terceira posição, representando 8,1% do total da produção nacional em 2022. Esse dado ganha relevância porque, apesar da maior relevância das raízes e tubérculos na produção nacional, são os cerais que ocupam maior área plantada, com 45%, seguido pelas raízes e tubérculos com 30% da área plantada e as leguminosas, oleaginosas com 16%. Dos dados, salta à vista o facto de as famílias semearem muito mais que as empresas. As denominadas exploração agrícola familiar, semeiam mais, colhem mais que as explorações agrícolas do tipo empresarial.
POR: Ladislau Francisco