Para a concretização deste desiderato, o economista entende ser crucial apostar no fortalecimento da agricultura familiar e comunitária, investindo na capacitação técnica e no fornecimento de insumos agrícolas para pequenos agricultores.
Esta estratégia pode incluir distribuição de sementes melhoradas, fertilizantes acessíveis e equipamentos agrícolas modernos, sem perder de vista que a agricultura familiar é a base da segurança alimentar, especialmente em países africanos, onde fornece mais de 80% dos alimentos consumidos localmente.
Janisio Salomão apontou também o desenvolvimento de infra-estruturas rurais e a melhoria de estradas para o escoamento de produtos e ampliar o acesso a mercados, armazéns e sistemas de irrigação para aumentar a eficiência da produção e reduzir o desperdício pós-colheita, que atinge cerca de 30% em alguns sectores.
O interlocutor entende que é chegado o momento de incentivar a agricultura sustentável e resistente às mudanças climáticas, com programas de educação e formação sobre agroecologia que podem ajudar a maximizar a produção sem prejudicar o meio ambiente.
A criação de redes de abastecimento e logística é o outro aspecto apontado como vital pelo economista, que sugere que sejam estabelecidas cooperativas locais e regionais para assegurar que os agricultores tenham canais consistentes para escoar os seus produtos, criando um ciclo económico sustentável que beneficia tanto os produtores quanto os consumidores.
Por fim, a criação de uma educação alimentar e nutricional, tendo como base campanhas de sensibilização para o consumo de produtos locais e variados essenciais para combater a fome e a deficiência de nutrientes importantes na dieta. Se esses fundos forem administrados de forma transparente e alinhados às necessidades locais, poderão não apenas reduzir a fome, mas também estabelecer uma base sólida para a autossuficiência alimentar e o crescimento económico sustentável.
Redução de preços Já Eduardo Manuel, também economista, destacou que o valor de 1 bilião de dólares anunciados pelo Presidente Joe Biden, representa uma oportunidade única para apoiar o sector privado e impulsionar a diversificação da economia angolana.
“Este montante pode ser direcionado a investimentos em sectores estratégicos, como educação, energia, águas, saúde, agricultura e indústria. Além disso, pode ser utilizado para a construção e reparação de estradas, melhorando a acessibilidade de produtos agrícolas e industriais para populações e empresas em diferentes regiões do país”, disse.
Essas infra-estruturas supracitadas, reforça, são fundamentais para solucionar o problema de escoamento da produção, que tem sido um entrave ao desenvolvimento económico de Angola.
Eduardo Manuel enfatizou que Angola tem uma oportunidade importante de investir nos sectores agrícola e industrial, aumentando a produção de bens da cesta básica que, sustenta, não só reduzirá os preços desses produtos, mas também os tornará mais acessíveis às populações de baixa renda.
Corredor do Lobito
Durante a Cimeira Multilateral sobre o Corredor do Lobito, o Presidente americano anunciou que o seu país vai injectar mais 600 milhões de dólares para esta infra-estrutura, o que os nossos interlocutores consideram crucial para transformar esta infra- estrutura numa alavanca para o crescimento económico angolano.
Janísio Salomão, por exemplo, é de opinião que para maximizar os dividendos, é importante concentrar-se na expansão e modernização da linha ferroviária, pois o Corredor precisa ser modernizado para garantir eficiência logística, reduzindo o tempo e o custo do transporte de mercadorias.
Isso facilitará a exportação de minerais estratégicos, como o cobalto e o cobre, fortalecendo a posição de Angola como um elo vital na cadeia global de abastecimento. Para a integração com a economia local, defende o desenvolvimento de pontos de apoio ao longo da rota ferroviária, como hubs logísticos e mercados regionais, que podem criar empregos e estimular a actividade económica local.
Outra estratégia passa pelo aumento da capacidade do Porto do Lobito, com a modernização do porto, que permitirá maior capacidade de armazenamento e escoamento de mercadorias, atraindo não apenas exportações minerais, mas também cargas agrícolas e industriais.
O Corredor do Lobito, bem gerido, “não apenas gerará receitas directas por meio de taxas portuárias e de transporte, mas também criará um efeito multiplicador na economia, fomentando o crescimento de indústrias associadas e a geração de empregos”.
Por sua vez, Eduardo Manuel explicou que esses recursos permitirão realizar novos investimentos que irão dinamizar as transações comerciais, graças ao aumento da circulação de recursos minerais e outros bens.
Destacou que este projecto também estimulará a criação de empresas prestadoras de serviços turísticos e não turísticos, gerando empregos e aumentando as receitas fiscais nos países envolvidos.
Além disso, o Corredor do Lobito terá um impacto significativo na promoção do turismo regional. Para maximizar os benefícios do projecto, Eduardo Manuel sugeriu uma parceria entre as companhias aéreas e o Corredor do Lobito para fortalecer as ligações regionais por meio da integração ferroviária.
Turismo cultural global
Dentre os valores anunciados por Joe Biden constam também 299 mil dólares destinados ao apetrechamento do Museu da Escravatura que, para o economista Janísio Salomão, representam uma oportunidade valiosa para posicionar Angola como um destino de turismo cultural global, com a modernização do museu e atracção de visitantes.
“Utilizar os fundos para actualizar as exposições do museu com tecnologias interactivas, como realidade virtual e exibições digitais, pode criar uma experiência imersiva para os visitantes.
Adicionalmente, incluir guias multilíngues e tours personalizados atrairá turistas internacionais”. Para que isso venha a concretizar-se, o economista disse ser preciso apostar no desenvolvimento de Rotas Históricas e Culturais, Janísio Salomão disse que o museu pode servir como ponto de partida para rotas culturais que conectem outros locais históricos em Angola, como fortalezas coloniais, igrejas e comunidades costeiras ligadas ao tráfico transatlântico.
Essas rotas aumentam a estadia média dos turistas e geram mais receitas para o sector. Estabelecer colaborações com organizações como a UNESCO e a União Africana pode reforçar o estatuto do museu como património cultural e atrair financiamento adicional para novos projectos de preservação histórica.
Investir em campanhas de marketing e parcerias com operadores turísticos, acrescenta, pode posicionar Angola como um destino essencial para entender a história da escravidão e da diáspora africana.
Participar em feiras internacionais de turismo e eventos culturais também será essencial para alcançar novos públicos. Para o interlocutor, envolver as comunidades próximas em actividades como feiras culturais, artesanato local e gastronomia tradicional agrega valor à experiência do turista e garante que os benefícios do turismo cultural sejam amplamente partilhados.
“Se bem planeados, os investimentos no Museu da Escravatura podem transformar Angola num destino turístico diferenciado, promovendo o intercâmbio cultural e contribuindo significativamente para a economia nacional”, disse.