A inflação desacelerou pelo terceiro mês consecutivo em Julho deste ano, passando de 2,07% em Junho para 1,68%, mas a taxa de inflação homóloga nacional subiu 0,09 ponto percentual, fixando-se em 31,09%, segundo dados do Instituto Nacional de Estatística (INE). Economista apela para maior incentivo fiscal
Embora o Índice de Preços no Consumidor Nacional (IPCN) tenha registado uma desaceleração de 0,39 ponto percentual entre Junho e Julho de 2024, caindo para 1,68%, a taxa de inflação homóloga subiu, alcançando 31,09% no mês de Julho, conforme revela o mais recente relatório publicado pelo Instituto Nacional de Estatística (INE).
“Essa elevação representa um aumento de 18,97 pontos percentuais em relação ao mesmo período do ano passado e 0,09 ponto percentual comparado ao mês anterior”, aponta o INE.
O INE sublinha que a desaceleração mensal foi impulsionada por uma redução no ritmo de aumento dos preços em sectores como saúde, que registou uma queda de 2,70% para 2,31%, hotéis, cafés e restaurantes, que desceu de 2,56% para 1,94%, e alimentação e bebidas não alcoólicas, que caiu de 2,21% para 1,86%. No entanto, o sector da educação contrariou esta tendência, com os preços a subir por 2,08% em Julho.
O relatório destaca ainda as variações regionais nos preços, com as províncias do Cuanza- Sul, Huambo e Benguela a registarem as menores variações, enquanto Namibe, Bengo e Huíla apresentaram os maiores aumentos. Indo ao detalhe, o Índice de Preços no Consumidor da província do Namibe registou uma variação de 2,14% de Junho a Julho. A classe “habitação, água, electricidade e combustíveis” foi a que registou o maior aumento de preços com 3,65%.
Incentivo fiscal para combater inflação
Em reacção, o economista Eduardo Manuel atribui a inflação principalmente à depreciação do Kwanza em relação ao dólar e ao euro, que tem contribuído para a subida contínua dos preços dos produtos.
Segundo Eduardo Manuel, a escassez de empresas industriais produtoras de insumos essenciais para a produção de bens da cesta básica força as empresas importadoras a ajustar os preços de acordo com a taxa de câmbio, agravando a pressão inflacionária.
O especialista sugere que o governo adopte incentivos fiscais para estimular as empresas a investirem na produção de bens essenciais, seja directamente, ou através de parcerias com startup’s.
Ressalta também a necessidade de melhorar infra-estruturas como estradas e linhas férreas, cujo mau estado eleva os preços dos produtos em regiões mais isoladas, e propõe acordos entre grandes empresas e pequenas e médias empresas para aumentar a produção e reduzir a inflação.
Eduardo Manuel alerta para o risco de êxodo das regiões com inflação mais alta, o que poderia resultar em escassez de mão-de-obra e redução da empregabilidade.
Para evitar esse cenário, o interlocutor enfatiza a importância de fortalecer os incentivos ao investimento, tanto nacional quanto estrangeiro, como forma de controlar a inflação e gerar empregos em todo o país.
O cenário inflacionário, embora mostre sinais de desaceleração em termos mensais, ainda impõe desafios significativos para a economia angolana, especialmente considerando a elevada taxa de inflação homóloga que persiste acima dos 30%.
O também economista Marlino Sambongue destaca que a desaceleração da inflação mensal pode indicar uma moderação nos aumentos de preços ao longo deste ano.
No entanto, a inflação homóloga permanece elevada devido a factores estruturais, como a inércia inflacionária, onde aumentos de preços anteriores continuam a impactar o cenário actual e as expectativas inflacionárias, que levam empresas e consumidores a ajustarem seus preços com base na expectativa de que a inflação permanecerá alta.
Além disso, os custos de importação, agravados pela depreciação cambial e pelos preços globais de matérias- primas, continuam a pressionar a inflação, mesmo com uma aparente desaceleração dos preços internos. Para mitigar o impacto da inflação, acrescentou, especialmente no sector da alimentação e bebidas não alcoólicas, Marlino Sambongue sugere a implementação de subsídios temporários para produtos essenciais e a redução de impostos indirectos sobre alimentos básicos, como medidas de curto prazo.
O especialista enfatizou a importância de melhorar a cadeia de suprimentos por meio de investimentos em infra- estrutura de armazenamento e transporte, e de estimular a produção local, promovendo a agricultura familiar com apoio técnico e financeiro.
Estas acções podem reduzir a dependência de importações e, consequentemente, a exposição a choques externos. Sugere igualmente políticas de suporte específicas para regiões com alta inflação, como o estímulo à produção de produtos essenciais e a implementação de sistemas de controlo de preços regionais.
Estas medidas podem ajudar a equilibrar as disparidades inflacionárias, evitando que a desigualdade económica e social aumente, o que poderia levar a migração interna e tensões sociais.
POR:Francisca Parente