Falar da indústria de transformação de madeira em Cabinda implica, necessariamente, falar do Grupo Abílio Amorim & Filhos, empresa de direito angolano com créditos já firmados nesse ramo de actividade, quer a nível da província, em particular, quer do país, em geral, empregando, actualmente, mais de 500 trabalhadores
Criado em 1968, pelo patriarca Abílio de Amorim, tido como o “Rei da Madeira”, nessas paragens, quis o destino que, em 1990, essa “majestade” viesse a falecer num aparatoso acidente de viação. Um infortúnio que abalou a província e o grupo, e não só.
Como diz o adágio popular, “rei morto, rei posto”, perante o infortúnio, os filhos (os irmãos Herculano, André e Luís), herdeiros legítimos, arregaçaram as mangas, trabalhando até à exaustão, atravessando muitas vicissitudes, para manter a empresa em pé, uma vez que as suas áreas de exploração na floresta do Maiombe foram palco de acções de guerrilheiros, período do qual vieram a perder equipamentos e funcionários pela acção do conflito.
Vencidas as dificuldades, e já em tempo de paz, a empresa tem vindo a marcar passos significativos no processo de reconstrução nacional, no desenvolvimento da província e na criação de postos de trabalho para os jovens locais, estando, neste momento, a empregar mais de 500 trabalhadores, tanto na zona industrial, como nas áreas de extracção.
Anos depois, o grupo decidiu ampliar a sua área de actuação, com a criação do consórcio HAL, incorporando três empresas, nomeadamente Abílio Amorim, ligado ao ramo da madeira, HAL construção civil e HAL logística.
A medida proibitiva do Executivo em exportar madeira em toro fez com que o grupo investisse numa nova linha de produção (foram montadas duas linhas de produção mecanizadas e modernas), na área de exploração e no melhoramento da qualidade da madeira destinada ao mercado internacional.
Foram igualmente criadas condições de secagem de madeira em quatro estufas, com uma capacidade total de secagem de 300 metros cúbicos de madeira/mês. Conforme André Amorim, quando se faz uma pré-secagem, a capacidade instalada sobe mais 40 por cento.
“Com encomendas de madeira seca em quantidades, estamos em condições de satisfazer às necessidades do mercado nacional e internacional”, notou.
Os principais mercados de exportação do produto acabado da empresa, conforme apurou o jornal OPAÍS, são a Ásia, concretamente o Vietname, China e Bangladesh; Europa (Portugal e França) e América.
André Amorim, que responde pela área de produção do Grupo, disse à nossa reportagem que o investimento feito visa, sobretudo, aumentar a capacidade de transformação e melhoramento da qualidade da madeira serrada a exportar, principalmente aos mercados europeu e americano, os mais exigentes.
A empresa, cuja actividade a jusante se enquadra na produção de madeira serrada, fabrico de mobiliário, paletas, carteiras escolares e caixilharia (portas, janelas e aros), tem duas unidades semi-transformadoras (serrações) com capacidade para produzir 30 mil metros cúbicos de madeira em toro por ano.
A principal unidade está instalada na Zona Industrial do Cabas sango e tem capacidade de produzir 250 metros cúbicos de madeira serrada/dia, ou seja, 25 mil metros cúbicos de madeira em toro por ano.
A segunda unidade, com capacidade de transformar entre 35 e 50 metros cúbicos de madeira em toro por dia, foi montada na sede do município de Buco Zau, com o propósito de satisfazer as necessidades das populações da zona norte da província (Buco Zau e Belize).
A empresa conta ainda com uma carpintaria com equipamentos automatizados de transformação de madeira, que produz mobiliário para habitações e escritórios, mobiliário escolar, caixilharia (portas e janelas), paletas e outros bens.
Depois dos investimentos feitos nas unidades de semi-transformação, os gestores da empresa já pensam em avançar para outros produtos acabados, nomeadamente a confecção de réguas, kits de cozinhas, roupeiros e outros.
O administrador da empresa, Herculano Amorim, disse, recentemente, que não têm ainda investimentos na área de produção de contraplacados, mas, sim, na serração e estufa, onde podem transformar madeira em outros produtos acabados.
Um dos desafios do grupo, disse, é colocar a empresa num patamar de referência no mercado internacional, através dos produtos de qualidade, para garantir confiança e conquistar os mercados. “Para chegarmos a esses mercados, temos de transmitir confiança e muita segurança, sermos regulares e ter capacidade de produção para satisfazer os clientes”, disse.
Processo de transformação da madeira
O processo de transformação começa com a actividade de abate, concentração, classificação e transporte da madeira em toro para as unidades de semi-transformação (serrações). A seguir, entra-se para a fase de inventário, produção nos seis meses seguintes (Novembro a Abril).
Vezes há em que não se cumprem com os regulamentos por parte do Instituto de Desenvolvimento Florestal (IDF), atrasando a emissão de licenças, o que dificulta as empresas de explorarem normalmente a matéria-prima, impossibilitando criar stocks para satisfazer os clientes e as necessidades do mercado.
Valorizar a madeira na fase da utilização
A empresa enfrenta um desafio que consiste em valorizar os recursos florestais, melhorando a utilização das áreas de exploração, reflorestar as áreas apropriadas para a produção de madeiras para o uso industrial, criar sectores de exploração florestal capazes de gerar rendimentos e oportunidades de emprego, de forma a contribuir para o desenvolvimento da região e melhoramento do nível de vida da população.
No quadro da política do Executivo, relacionada com a consolidação e relançamento da indústria nacional, o Grupo Abílio Amorim pretende dar um contributo significativo no aumento e diversificação das receitas cambiais e no aumento do volume dos semi-transformados de madeira e mobiliário doméstico.
Segundo Luís Amorim, a firma gizou um programa que visa exportar madeira serrada de qualidade, atendendo os planos comerciais previamente traçados, de modo a maximizar a utilização e o valor da madeira nacional, segundo as características e categorias de emprego.
Para tal, a empresa está num processo de ampliação como garantia para estimular iniciativas que combatem os vazios económicos junto das comunidades que têm a actividade florestal como base económica.
“São investimentos auto-sustentados que vão dar o aproveitamento mais racional à madeira, com a instalação de novas indústrias de aproveitamento, fechando, assim, o ciclo de extracção, semi-transformação e produção acabada”, sublinhou Luís Amorim, referindo ainda que todas as acções da empresa visam “o melhoramento da gestão da floresta, com a elaboração de estudos de impacto ambiental, para proteger os nossos recursos”.
A dimensão social de empresa modelo
Além de cumprir as suas obrigações com o Estado, como o pagamento de impostos, o Grupo Abílio Amorim & Filhos cumpre com acções que geram benefícios às comunidades nas áreas de exploração, ao contribuir, sobretudo, na reabertura das vias de acesso em terra batida (picadas) que se encontram intransitáveis há muitos anos, possibilitando, assim, a circulação de pessoas e bens. Também contribui para a solução dos problemas de energia eléctrica e na construção de escolas e postos médicos.
No capítulo social, o Grupo Abílio Amorim participa ainda no apoio à auto-construção, com doação de madeira serrada, pregos e chapas de zinco aos moradores das povoações que se encontram circunscritas nas áreas de concessão florestal.
Também garante apoio de petróleo iluminante, carteiras escolares e transporte de pessoas e bens, para possibilitar o escoamento dos produtos agrícolas do interior para as zonas de venda. A criação de empregos e rendimentos são outras acções levadas a cabo pela empresa junto das comunidades.
“Proibição da exportação trouxe vantagens para as empresas”
A exportação de madeira enfrenta também dificuldades, pelo facto de Cabinda não dispor de condições portuárias que viabilizem o processo.
“Enfrentamos sérias dificuldades em relação à forma como o Porto de Cabinda funciona, já que, quando há calemas ou avarias, ficamos mais de 20 dias à espera de condições para se processar o embarque da mercadoria, o que condiciona os prazos de entrega aos clientes”, desabafou Herculano Amorim.
Segundo indicações, o excesso de tempo da mercadoria nos contentores afecta a qualidade dos produtos. Para André Amorim, a proibição da exportação de madeira em toro trouxe uma mais-valia para as empresas madeireiras, na medida em que permitiu melhorar o parque industrial local, criar mais empregos, ter maior cuidado na gestão e protecção da floresta, com o abate de árvores com diâmetros permitidos, assim como permitiu que a madeira transformada ganhasse agora mais valor comercial.
POR: Alberto Coelho, em Cabinda