As denúncias de exploração desenfreada de madeira obrigou a que a PGR, em Benguela, entrasse em cena, de modo a travá-la. Porém, o garimpo de madeira ainda continua a preocupar os madeireiros no polígono florestal no município da Ganda.
Os nossos entrevistados, que expunham potencialidades numa feira agro-pecuária que visou assinalar os 55 anos de existência do município, asseveram que, com essas práticas em curso, há-de ser bastante difícil para o país exportar, num futuro próximo, parte considerável da produção, dado que a qualidade da madeira angolana reúne requisitos mundiais.
Daí, por conta desse quadro, madeireiros terem voltado a colocar o acento tónico na componente da fiscalização, com o Instituto de Desenvolvimento Florestal à cabeça.
Esta instituição já tinha manifestado, porém, incapacidade para controlar milhares de hectares florestais face à falta de quadros. Espécies como o eucalipto têm sido abatidas regularmente, sem se acautelar a questão relativa ao replantio.
Ao engenheiro florestal Inácio Fruta, incomoda o facto de o garimpo vir a contribuir para o desaparecimento da espécie, porquanto muitos daqueles que exploram ilegalmente não têm tido a paciência de replantar.
Ele é apologista de que haja concorrência, até porque há recursos para todos, desde que se observem as normas estabelecidas.
“Porque no mercado, quando não há concorrente, depois não se apresenta qualidade, ficamos estáveis”, sustenta Inácio Fruta, da FERTAB.
Certificação florestal precisa-se
O engenheiro considera imperioso que o país promova acções tendentes à certificação da madeira produzida cá, de modo a que o mercado internacional reconheça.
E, nesta perspectiva, assegura trabalho em curso, por parte da sua empresa, para auxiliar as autoridades nessa empreitada.
“Nós estamos a lutar para que a madeira nacional, principalmente o eucalipto, seja certificado no mercado internacional”, garante, ao acrescentar que “o nosso recurso florestal não é certificado. Hoje em dia, Angola tem o prazer de ter uma das melhores madeiras do mundo.
Acho que Deus nos deu uma qualidade boa de madeira. Nós temos muitas madeiras boas”, considera. Segundo estatísticas feitas, conforme refere Inácio Fruta, a madeira pode competir com o petróleo, no que a arrecadação de receitas diz respeito, daí ter ganhado a alcunha de “petróleo verde”.
Frisou que, depois do petróleo, a madeira é o negócio com maior visão, “em termos de crescimento económico. Do meu ponto de vista, eu não gostaria que os empresários pagassem taxa de exportação ao Estado”, refere, ao defender a criação de uma empresa única que se encarregaria pela padronização do replantio a qual as empresas certificadas pagassem uma taxa.
“A regra que tem que se plantar 2 por 2 ou 2,5 por 3, em termos de compasso. Aqui há empresas que plantam 4 por 4. O que acontece? Depois fica uma área vazia praticamente”, salienta o especialista.
Estrela da Madeira acena para a celulose
A empresa Estrela da Madeira, uma empresa subsidiada pelo Fundo Soberano, está a desenvolver um projecto de replantação de eucaliptos e não só, tendo como foco a revitalização da fábrica de produção de papel, a celulose, no município da Ganda.
Neste momento, a empresa em causa está em dois polígonos florestais, nomeadamente Huambo e Ganda. No primeiro, explora numa área de 5 mil hectares, ao passo que, no segundo, estão disponíveis pouco mais de 52 mil, segundo dados avançados ao OPAÍS pelo responsável pelos viveiros da empresa, engenheiro Alberto Henriques.
Ele também manifesta-se preocupado com a questão do garimpo, mas sinaliza que, ultimamente, a prática tem diminuído, se comparado ao período anterior. Porém, a situação não deixa de constituir preocupação para quem tem compromissos para com o Estado, resumidos, essencialmente, no pagamento de impostos decorrentes da exploração legal.
“As autoridades, principalmente a Polícia Nacional, têm estado a trabalhar muito para travar isso. Tem que ser uma preocupação geral, por questões ambientais e económicas, mas, do ponto de vista laboral, nós continuamos a fazer a nossa parte”, ressalta o engenheiro da empresa que, até bem pouco tempo, tinha o monopólio da exploração de madeira no país.
A empresa chegou a ter, só na Ganda, ao tempo em que José Filomeno dos Santos como presidente do Fundo Soberano, 150 mil hectares.
Nos dias que correm, a Estrela da Madeira dispõe apenas de mais de 50 mil, registando uma redução de 100 mil.
O engenheiro florestal louva o facto de o governo estar a trabalhar no sentido de que apenas as empresas certificadas tenham direito de explorar os recursos florestais em todos os polígonos.
Alberto Henriques esclarece que, por enquanto, a sua empresa está focada em abastecer única e exclusivamente o mercado nacional, mas, em função de investimentos em curso, está confiante de que, num futuro próximo, a Europa vai consumir o que é pro…
Por: Constantino Eduardo, em Benguela