A recente fusão entre o Access Bank Angola e o Standard Chartered Bank Angola (SCBA), aprovada pela Autoridade Reguladora da Concorrência (ARC), traz, na opinião do economista Heitor Carvalho, mais vantagens do que desafios ao mercado financeiro
Heitor Carvalho entende que a fusão entre bancos pequenos para tornarem-se em médios, é um passo crucial para fortalecer a solidez do sistema bancário angolano, sublinhado que o maior perigo seria a ausência da fusão, pois do ponto de vista da solidez bancária, esta operação apenas acrescenta força ao sistema financeiro nacional.
Segundo o economista nesta operação da fusão não há ameaça de monopólio, uma vez que que se trata de dois bancos relativamente pequenos que, ao se unirem, tornamse uma instituição de porte médio. O especialista enfatizou que o sistema financeiro angolano foi de senhado para acomodar bancos de maior dimensão, deixando pouco espaço para operações bancárias menores, principalmente regionais, que têm dificuldade em se destacar no cenário actual. “Esta fusão é benéfica dentro do contexto do nosso sistema financeiro.
Ela não só traz mais solidez, mas também uma maior capacidade de adaptação ao mercado angolano”, acrescentou. Carvalho destacou que os bancos angolanos são, em geral, muito capitalizados, e que a fusão não representa um risco de insuficiência de capital para o sector.
“É importante entender que o sistema bancário angolano é robusto e essa fusão contribui para reforçar essa característica. A estratégia do Banco Nacional de Angola (BNA) tem sido eficaz em promover bancos maiores e mais sólidos.
No entanto, poderia haver uma estratégia paralela para desenvolver bancos menores, algo para o interlocutor o BNA não parece considerar prioritário neste momento. Para o economista o objectivo da fusão é justamente minimizar riscos.
Explicou que, ao unirem forças, os dois bancos pequenos com menos volume de transações e menos capital tornam-se uma entidade mais forte e mais capaz de operar eficientemente no mercado. Aumento da concorrência e foco em bancos locais.
De acordo com o economista, a fusão entre o Access Bank Angola e o SCBA, juntamente com a recente autorização da entrada da Carrinho no Banco Keve, está em linha com uma tendência de consolidação no sector bancário.
Mencionou que a entrada da Carrinho no Keve pode ser vista como uma quase fusão, dado que um novo acionista de referência pretende dominar a actividade do banco. “Essas operações têm o potencial de aumentar a concorrência no mercado, pois substituem bancos pequenos e frágeis por instituições de porte médio e mais robustas”.
O problema, no entanto, é que não há uma estratégia clara para o desenvolvimento de bancos pequenos e locais, que são essenciais para o desenvolvimento de regiões específicas e municípios no país”, alertou. Heitor de Carvalho lamentou que o Banco Nacional de Angola não tenha mostrado interesse em promover a criação e o fortalecimento de bancos locais, algo que ele considera importante para o desenvolvimento regional.
Histórico das fusões
A história das fusões bancárias em Angola remonta a 1975, logo após a independência do país. A primeira grande fusão ocorreu entre o Banco Totta & Açores e o Banco Comercial de Angola, resultando na criação do Banco Totta & Açores de Angola.
Em 1991, com as reformas económicas que visavam a liberalização da economia, ocorreu a fusão entre o Banco de Poupança e Crédito (BPC) e o Banco Popular de Angola (BPA).
Outro exemplo importante foi a fusão entre o Banco Africano de Investimentos (BAI) e o Banco Português do Atlântico (BPA) em 2001. Esta fusão foi parte de uma estratégia para fortalecer o BAI, que se tornou um dos maiores bancos privados de Angola, com uma presença significativa no mercado e um papel importante no financiamento de grandes projetos de infraestrutura no país.
A última grande fusão realizada no mercado financeiro nacional, foi entre o Millennium Angola com o Banco Atlântico, que deu origem ao novo Millennium Atlântico. Com a recente fusão entre o Access Bank Angola e o SCBA, Angola já conta com um número significativo de fusões bancárias, refletindo um mercado em constante adaptação às exigências de uma economia globalizada e competitiva.
POR: Francisca Parente