Com quase metade da carteira aplicada na África subsariana, o Fundo Soberano de Angola (FSDEA) prevê lucros da ordem de USD 40,5 milhões no terceiro trimestre do ano, reafirmando a sua aposta nos fundos de private equity, que já alcançaram uma valorização de USD 884,5 milhões.
O Fundo Soberano de Angola (FSDEA) anunciou ontem ter obtido, no terceiro trimestre de 2017, lucros da ordem de USD 40,5 milhões, originados pelo desempenho das aplicações em títulos e valores mobiliários, os quais geraram uma margem bruta de USD 117,5 milhões. Os resultados provisórios anunciados pelo FSDEA reflectem, de acordo com o comunicado distribuído, o estado do portefólio no período de 1 de Julho a 30 de Setembro de 2017. No final do período, os activos totais do FSDEA estavam avaliados em USD 5,03 mil milhões.
Quase metade (48%) da carteira total encontra-se aplicada na África subsariana, 31% na América do Norte, 15% na Europa e 6% no resto do mundo, isto quanto à distribuição geográfica do portfólio do fundo. Já no que respeita à sua composição o Fundo esclarece que 15% da carteira corresponde a títulos de renda fixa no valor de USD 739 milhões, 18% a títulos de renda variável no valor de USD 894 milhões.
Ainda segundo o comunicado os fundos de private equity (que fazem aplicações em empresas que não se encontram cotadas em bolsa) realizaram investimentos no valor de USD 489,9 milhões, em Angola e na região da África subsariana, tendo já alcançado uma valorização de USD 884,5 milhões; Já os valores mobiliários auferiram ganhos de USD 117,5 milhões, antes das taxas e despesas; O Fundo Soberano de Angola sublinha que o Executivo não realizou nenhuma dotação de capital ao FSDEA durante o período.
Bom desempenho e rentabilidade desde 2016
José Filomeno dos Santos, presidente do conselho de administração do FSDEA, citado no comunicado, considera que ‘o desempenho e rentabilidade favoráveis, registados desde 2016, continuaram durante o terceiro trimestre de 2017’, acrescentando que ‘estes resultados provêem predominantemente das aplicações em títulos e valores mobiliários, que geraram uma margem bruta de USD 117,5 milhões’. ‘No âmbito do mandato do FSDEA prevemos a realização de mais investimentos em diversos ramos, que criarão cada vez mais valor para o portfólio, gerando também oportunidades de geração de renda para os cidadãos nacionais e os de países vizinhos. O ganho resiliente de capital registado de 2016 à 2017 confirma a eficácia da estratégia de private equity adoptada pelo FSDEA. Por este motivo, prevemos o aumento contínuo do valor deste tipo de aplicação ao longo do ano em curso’, conclui José Filomeno dos Santos, que foi nomeado em 2012 como presidente do fundo.
As Maurícias e os ‘Paradise Papers’
O FSDEA, um fundo soberano que pertence integralmente ao Estado angolano, desenvolvendo a sua carteira de investimentos em variados sectores e classes de activos, foi recentemente referido na imprensa no âmbito da investigação jornalística internacional denominada ‘Paradise Papers’, a qual põe em causa as relações entre o FSDEA e a empresa suíça Quantum Global, de Jean- Claude Bastos de Morais, empresa especializada na gestão de activos e tida como responsável por parte dos investimentos do fundo nas Ilhas Maurícias. As denúncias sobre o recurso do FSDEA a paraísos fiscais foram divulgadas através de documentos revelados pelo Consórcio Internacional de Jornalistas de Investigação (CIJI), ao abrigo da investigação ‘Paradise Papers’.
A administração do FSDEA garantiu anteriormente que todas as operações que realiza são feitas de ‘forma legítima’, ao abrigo dos ‘mais altos padrões regulatórios’. De acordo com o jornal suíço Le Matin Dimanche, que revelou documentos dos ‘Paradise Papers’, dos USD 5.000 milhões atribuídos inicialmente, pelo Estado, ao FSDEA, cerca de USD 3.000 milhões terão sido investidos em sete fundos de investimento sediados nas Maurícias, através da Quantum Global.
A Quantum Global, revela ainda o jornal suíço, receberá entre dois a 2,5% do capital por ano, o que desde 2015 corresponderá a um valor entre USD 60 e USD 70 milhões anuais. ‘Todos os investimentos em ‘private equity’ executados são obrigados a cumprir os requisitos das directrizes de investimento definidas pelo conselho de administração do FSDEA e aprovado pela Comissão de Serviços Financeiros da República das Maurícias para cada investimento colectivo”, refere, por seu turno, a administração do fundo.