Cooperativas de camponeses que se dedicam à produção de arroz, na Ganda, debatem-se, neste momento, com problemas relativos à falta de meios para descasques e moagem. Dezenas de camponeses acenam, agora, para parceiros, com a Carrinho Agri à cabeça. Paralelamente a isso, reportam, igualmente, a falta de insumos agrícolas para o fomento à produção do cereal em grande escala, uma vez que estão reunidas condições climatéricas para o efeito
Para a presente safra, cuja colheita é apontada para meio-do-ano, agricultores, agrupados em cooperativas, dizem que precisam, objectivamente, de uma série de condições para permitir que as projecções, que passam por colocar à disposição do mercado 35 toneladas de arroz, produzidas em regiões como Kasseke, sejam, efectivamente, alcançadas.
Segundo explicaram a este jornal, no seguimento de uma digressão por nós efectuada em campos de produção, a Ganda tem, de resto, condições para a produção de arroz em grande escala, não tivesse a região um clima favorável.
A equipa de reportagem deste jornal constatou, na comuna do Kasseque, que homens, mulheres e, até, crianças se lançam ao desafio de produzir o cereal e aproveitaram a nossa presença nos campos para «acenar» para o Ministério da Agricultura e Florestas, que tem à frente dos seus destinos o engenheiro agrónomo Isaac dos Anjos, de maneira a atender aos seus gritos de socorro, resumidos, essencialmente, na falta de condições para descasques e a necessidade de instalação de moagem para a preparação de arroz, um dos produtos mais consumidos em Angola – segundo o Ministério da Agricultura e Florestas.
De resto, os camponeses estão conscientes de que o país ainda não produz grande parte do arroz que consome, sujeitando- se à importação. Porém, acreditam que um «pequenito» empurrão do ministério de tutela pode fazer toda diferença.
Aliás, sublinhe-se, pois, que, em relação a essa questão, recentemente, o ministro da Agricultura e Florestas vincou, em Benguela, quando intervinha na abertura de uma conferência, promovida pela Revista Economia e Mercado, que o Estado tem gastado pouco mais de um mil milhões de dólares na importação de produtos da cesta, sendo certo que o arroz nela se inclui – conforme informações obtidas por este jornal.
De modo que, na perspectiva de se inverter o quadro, Isaac dos Anjos é, em tese, apologista de que se invista parte considerável desses valores na produção interna, por entender que o país dispõe de condições para o efeito. O responsável da Cooperativa Tulingue Upangue (vamos fazer trabalho, traduzido do umbundu para o português), agricultor Adelino Careve, elenca, de entre outras dificuldades, a falta de charruas, moagem e «foice para corte, bem como carros de mão. Estamos a precisar também de adubos».
Entretanto, em relação a fertilizantes, diz que, volta-e-meia, se têm beneficiado de apoio da Administração Municipal da Ganda, destacando, nesse particular, a entrega do administrador Francisco Prata ao projecto de cultivo de cereais. «Sobretudo o arroz e trigo.
Ainda temos recebido recebido apoio». Ele revela que, em 2024, da Ganda saíram pouco mais de 25 toneladas de arroz para a mesa dos angolanos, produzido em mais de 30 hectares. Garante que a Carrinho Agri tinha comprado parte considerável da produção e espera continua a tê-la como parceiro nesse projecto.
Baixa precipitação «assustava»
O arroz é uma cultura que requer muita água e, nos últimos dias, sobre a Ganda quase não se abatiam chuvas, um cenário que preocupava quem se tenha dado ao prazer de lançar a semente à terra, por causa dos investimentos feitos. Porém, para graça de agricultores, no dia em que a reportagem deste jornal se fez aos campos de produção, choveu quase que torrencialmente. «Vocês trouxeram chuva», alegrou-se o camponês, que já se manifestava, deveras, preocupado com a falta daquela «bênção da natureza» – como sublinhou.
Acrescentou que, ultimamente, se têm vindo a debater, igualmente, com algumas pragas sem, no entanto, referir ao tipo. Por sua vez, Francisca Ndembe, que há cinco nos é agricultora, deu nota de que, para além de arroz, lançou à terra sementes de bata-doce.
A camponesa admite que a cultura de arroz é, porém, a mais rentável, em função da procura do produto, e, por isso, apela ao Governo (central e provincial) que os ajude nessa empreitada produtiva. «Aqui mesmo precisamos só mesmo de adubo. Para cultivar mais», pronunciou- se, em língua nacional umbundu.
«Para a gente ter mais força para produzir, só precisamos de adubo», implorou o agricultor José Praia, numa conversa com este jornal. Assim como Ndembe, o homem do campo vê rentabilidade daquela cultura no país. Diz ser com o dinheiro do arroz produzido que tem sido possível sustentar a sua família.
Administrador implora por chuva para não haver «produção negra»
O administrador municipal da Ganda, Francisco Prata, está expectante quanto ao que põe vir a ser a produção de arroz, em função das projecções até aqui lançadas pelos agricultores. Ele lembra que, à semelhança do que se fez em 2024, colocando a província de Benguela na «rota do trigo», se quer repetir a mesma proeza produtiva, mas afigura-se necessário a presença regular de chuva.
«Nós, com bocado mais de ambição, quisemos também lançarmos para o arroz», sinaliza o governante, realçando que, na altura em que as comunas da Chicuma e Ebanga e Babahera, havia muitos mais campos a produzir o cereal.
Com esse projecto de produção de arroz em grande escala, o administrador Prata acredita que se desenvolvem acções tendentes à diminuição da dependência, no que à importação diz respeito, ao mesmo tempo que se pretende combater a fome e a pobreza, na medida em que, se cada família produzir o suficiente – segundo sustenta o governante – se vá promover um melhor quadro social.
«E é possível combater isso, porque temos as condições criadas», ao garantir que a sua administração vai continuar a fornecer os insumos e meios agrícolas de que se precisa para o fomento à producão. «Todos possam sair vitoriosos dessa empreitada. Apenas queremos que continue a chover ainda mais, para que não seja assim uma produção negra, mas, em princípio, acho que as expectativas são boas», projecta.
POR: ConstantinoEduardo, em Benguela