Passados mais de 60 dias após a publicação do Decreto que proíbe a exportação de madeira não manufaturada, os madeireiros apelam ao Executivo a facilidade na concessão de crédito bancário para a compra de equipamentos para transformação do produto. Muitos estão a abandonar a actividade por falta de condições e temem que o negócio seja comandado exclusivamente por empresas estrageiras
O presidente da Associação dos Madeireiros do Cuando Cubango, Miguel Tchiovo, referiu que a classe enfrenta dificuldade na exportação de madeira manufacturada por falta de indústrias deste segmento no país, apelando aos bancos a facilidade na aquisição de crédito. “Como vamos construir indústrias para a manufaturação da madeira se os bancos não estão a conceder credito. É preciso comprar equipamentos e os bancos não apoiam os empresários que querem trabalhar ”, disse.
No seu entender, a medida que proíbe a importação de madeira não manufacturada é salutar, mas não basta implementar, sendo necessário o apoio dos bancos para a aquisição dos equipamentos e máquinas para o processo. Caso não aconteça, o madeireiro teme que a indústria de transformação de madeira tenha como principal promotores empresas estrangeiras.
Só no Cuando Cubango, segundo explicou, a suspensão da actividade de exploração de madeira, decretada pelo Ministério da Agricultura e Florestas, desde 1 de Fevereiro deste ano, gerou prejuízos calculados em mais de 300 milhões de kwanzas aos operadores locais.
Por sua vez, o presidente da Associação dos Madeireiros no Moxico, Frederico Salvador, defende a mesma opinião que passa pela necessidade de facilidade de créditos bancários, reforçando que muitos estão abandonar a actividade por falta de meios de transformação do madeira. “As empresas não têm capacidade para comprar máquinas e os bancos para conceder financiamentos impõem uma série de condições. E uma delas é ter a concessão que permite a exploração até 25 anos como garantia, que é extremamente difícil”, explicou.
Na sua opinião, o Governo, através dos bancos públicos e impulso aos privados, devem facilitar o crédito de forma Leasing, que é uma forma de negociação em que o cliente só se torna dono do equipamento após concluir todas as prestações de pagamento ao banco credor. Disse, igualmente, que poucas empresas vão permanecer no mercado e a produção de madeira irá reduzir, apesar de não haver proibição para o licenciamento da madeira. Mas, os exportadores devem ter capacidade para transformar consoante as medidas do Executivo, avançou a fonte.
Segundo o empresário, as pessoas continuam a deixar esta actividade e abraçar outros negócios, realçando que no ano passado concorreram cerca de 40 empresas para a exploração e a associação viu, este ano, as solicitações a reduzir para quatro. “Desde o dia 14 de Abril, o Instituto de Desenvolvimento Florestal (IDF) mandou cancelar a exportação da madeira nos moldes antigos, em que era possível exportar blocos, pranchas e a aguardar novas medidas, que estão a provocar constrangimentos”, disse. Frederico Salvador disse que a falta de condições nas vias do alto Zambeze faz com que a madeira não seja transportada para outras regiões.
Aliado a este problema, o responsável salientou que, apesar do diálogo mantido entre os empresários do ramo com o Ministério da Agricultura e Florestas e a Polícia Nacional (PN), sobre a modalidade de transporte da madeira para as zonas de comercialização, os associados continuam a enfrentar embaraços nos postos de controlos policiais. Com a proibição da exploração do Mussive, desde 2018, pelo Executivo para permitir a sua reflorestação, os madeireiros têm apostado numa outra espécie conhecida por “Kakulakula ou Girassonde”, encontrada na floresta do Alto Zambeze, segundo fez saber Frederico Salvador, destacando a China, Vietname, Dubai e países europeus como principais destinos.