Para os economistas do CINVESTEC, os alimentos são sempre um problema por- que, em geral, nota-se uma redução das importações, pressionadas pela menor disponibilidade de divisas e não pela redução da procura, o que conduziu à escassez de produtos e provocou inflação
Estudos feitos pelos economistas do Centro de Investigação Económica da Universidade Lusíada Angola (CINVESTEC) apontam que as exportações tiveram um decréscimo de 9 mil milhões de dólares, no primeiro semestre deste ano face ao mesmo período do ano passado, ao sair de 26 mil milhões em 2022 para 17 mil milhões em 2023. De acordo com o relatório apresentado ontem, a que OPAÍS teve acesso, esta redução representa 37% das acções petrolíferas.
Já as exportações diamantíferas, reduziram de 30% para 27% relativamente ao mesmo período do ano passado, cuja média tem uma contribuição quase nula para a variação total. As restantes exportações registaram, no I semestre de 2023, uma subida de 3% em relação ao semestre homólogo, com aumento nas exportações de bens na ordem dos 6% e a contratação de serviços ao exterior a decrescer 19%.
Relativamente as importações de bens e serviços, estas decresceram 17%, comparativamente à média de 2022, e 10%, face ao se- mestre homólogo, aponta o relatório do CINVESTEC. Quanto as importações de bens de consumo corrente sem os combustíveis, representa 3,35 mil milhões de dólares e desceu 14% devido à redução das quantidades. Os combustíveis, que representam 1,65 mil milhões de dólares no período em análise, desceram 18% fruto, principalmente, da descida dos preços.
É importante realçar que os combustíveis representam cerca de 33% das importações de bens de consumo, enquanto os alimentos representam cerca de 21%. Para os economistas do CIN- VESTEC, os alimentos são sempre um problema porque, em geral, nota-se uma redução das importações, pressionadas pela menor disponibilidade de divisas e não pela redução da pro- cura, o que conduziu à escassez de produtos e provocou inflação.
Balança de rendimentos
De acordo com o relatório económico do CINVESTEC, a balança de rendimentos primários, no I semestre de 2023, situou-se em -USD 4,2 mil milhões, reduzindo o seu saldo negativo na mesma proporção (-2%). Os juros e lucros transferidos para o exterior no período em análise desceu 1,3% relativamente à média de 2022. Entretanto, a rentabilidade transferida cresceu residualmente em termos homólogos com +0,33 pontos percentuais.
Em contraste, a rentabilidade repatriada trimestral dos investimentos angolanos continua a ser de apenas 0,1%, com grande regularidade (0,2% ao semestre e 0,4% ao ano). Já a balança de rendimentos secundários reduziu o saldo negativo face à média semestral de 2022 em cerca de USD 340 milhões (38%), com as transferências do exterior a reduzirem-se 56%, e as transferências para o exterior, 39%.
Os economistas sublinharam que o nível de transferências do exterior (USD 6 milhões), quando comparado com os 340 milhões do período homólogo, de- monstra que o país continua muito pouco atractivo, não sendo aconselhável um alívio da liberdade de circulação de capitais. À redução destas transferências de uma média semestral de 563, em 2022, para 340 milhões em 2023, contrapõem-se à redução de 1.445 para 1.037 dos bens alimentares, que causou a continuidade da inflação, mesmo depois da estabilização cambial.
Quanto às reservas internacionais (RI), estas continuam a flutuar entre 13,5 e 14,5 mil milhões, mantendo alguma estabilidade desde o Iº trimestre do ano passado. O Banco Nacional de Angola (BNA) está mais interessado em manter uma cobertura estável das importações à volta dos seis meses, o que melhorou devido à redução destas últimas. No ano de 2022, os economistas aclararam que o BNA devia ter criado reservas robustas, aproveitando o aumento dos preços de petróleo e gás. “Não o fez, ficando sem armas quando se apresentou a necessidade de estabilizar a taxa de câmbio”.
POR: Francisca Parente