O estudo Barómetro dos gestores em Angola, realizado pela Câmara de Comércio e Indústria Angola Portugal (CCIPA), em parceria com a PWC, concluiu ontem, em Luanda, que o maior entrave para se investir em Angola é o acesso às divisas.
No certame, o presidente da CCIPA, João Traça, disse que os desafios relacionados à inflação, taxas de juros e escassez de mãode-obra qualificada (70%) condicionam o papel da classe em Angola.
O responsável destacou ainda que, apesar disso, 47% dos gestores (empresários) mantêm uma visão cautelosa e optimista, esperando que haja crescimento económico no próximo ano.
Assim, os resultados demonstram que, enquanto há avanços em áreas como cibersegurança (77% das empresas já investem no sector) e estratégias de sustentabilidade (67% implementadas), o ambiente macroeconómico continua a gerar apreensão.
Segundo estudo do Barómetro dos gestores em Angola, quase dois terços (63%) dos empresários hesitam em realizar novos investimentos, e 7% admitem considerar desinvestimentos para superar as dificuldades.
Os dados do Barómetro contrastam com o 27.º Global CEO Survey da PWC, que contou com 35 gestores angolanos. Na pesquisa em questão, 51% dos inquiridos acreditavam no crescimento da economia global nos próximos 12 meses, mas apenas 40% partilhavam o mesmo optimismo em relação ao mercado angolano.
O presidente da Câmara de Comércio e Indústria Portugal-Angola (CCIPA), João Traça, reforçou ainda a necessidade de se diversificar a economia angolana.
“Apostar na tecnologia, inovação, sustentabilidade e formação técnico-profissional é crucial para criar um crescimento sustentável e resiliente. A CCIPA está comprometida em trabalhar com stakeholders para atrair investimento estrangeiro e fomentar parcerias estratégicas entre Angola e Portugal”, disse o presidente da CCIPA.
Para João Traça, as empresas portuguesas estão a desempenhar um papel importante na economia angolana, as perspectivas de colaboração continuam promissoras, apesar das dificuldades enfrentadas por ambas as partes.
Impactos do comércio bilateral com Portugal
De acordo com o estudo, Portugal continua a ser um parceiro comercial relevante para Angola, mas os fluxos comerciais reflectem desafios recentes. Em 2023, as exportações portuguesas para Angola totalizaram 2,2 mil milhões de euros, superando os níveis pré-pandêmicos.
No entanto, entre Janeiro e Agosto de 2024, observou-se uma queda de 7%, totalizando 1,543 mil milhões de euros em relação ao mesmo período de 2023. Essa retracção também se reflecte na posição de Angola no ranking de destinos das exportações portuguesas, que caiu da 9.ª para a 13.ª colocação.
Por outro lado, Portugal manteve-se como o segundo maior fornecedor de Angola, no entanto, fica apenas atrás da China, exportando principalmente máquinas, fornecimentos industriais e produtos alimentares.
No âmbito do Barómetro, as exportações angolanas para Portugal caíram drasticamente. Em 2023, Angola vendeu 271 milhões de euros em bens para Portugal, com uma redução de 56,6%, devido à menor procura por petróleo.
Entretanto, produtos agrícolas angolanos, como café e frutas, cresceram em relevância, atingindo 21 milhões de euros (+20%). O partner da PWC, José Bizarro Duarte, destacou dois acordos recentes como fundamentais para o futuro do país, o Sustainable Investment Facilitation Agreement (SIFA), com a União Europeia, e o Corredor do Lobito, cofinanciado pelos EUA. “Embora o cenário seja incerto, quase 30% dos gestores angolanos já preparam novos investimentos, impulsionados por estes desenvolvimentos estratégicos”, adiantou.
Por: Francisca Parente