Especialistas consideraram recentemente, em Benguela, difícil que com o actual modelo de produção de arroz em Angola se consiga atingir a autossuficiência desse cereal, e lembram que o país precisa de, no mínimo, cifrar a sua produção na ordem dos 150 mil hectares de arroz anualmente, caso se queira inverter o cenário de importação do produto
A Associação Agro- pecuária de Angola (AAPA) reuniu especialistas do sector das províncias do Huambo, Bié e Benguela, que defenderam a necessidade de a produção de alimento no país acompanhar a taxa de crescimento populacional, cifrada na ordem dos 6 por cento. Segundo os especialistas, Angola é dos poucos países na África Austral que não produz cereais em grande escala, daí terem instado as autoridades para mais atenção nesse segmento económico para deixar de importar. Ao evento de Benguela juntaram-se também especialistas em produção de milho e arroz, cuja abordagem tenha sido direccionada para a componente da segurança alimentar.
Angola vai dando passos rumo à autossuficiência alimentar e estudiosos louvam o facto de o país ter colocado a agricultura como principal elemento para a sua diversificação económica. Eles olham para o Planagrão como um instrumento por via do qual se pensa fomentar a produção de grãos no país, com bastante satisfação, embora apontem algumas insuficiências. Esse instrumento, sustentam, para além de ter previsto a componente financeira, devia também ter olhado para a questão do capital humano, por via da educação. “Assim é um tiro no escuro porque as pessoas não estão educadas para isto”, critica o presidente da AAPA, Wonder- lei Ribeiro.
Já o engenheiro agrónomo João Saraiva, sublinha que o actual modelo de produção de arroz exige uma infra-estrutura bastante onerosa, do ponto de vista financeiro, e a aposta devia passar pela adopção de uma variedade de produção que não precise tanto de canteiros irrigados e/ ou inundados. Para isso, disse, há já uma parceria com especialistas brasileiros, por esse país ser um dos maiores produtores de alimento no mundo, para se produzir o chamado “arroz terras altas”, cujo mecanismo de cultivo é semelhante ao de milho, feijão e soja. “Nós achamos que, para atingir a autossuficiência em arroz, provavelmente, vamos precisar de cultivar mais de 150 mil hectares /ano “, sugere
Potencialidades reconhecida por especialistas
Angola tem capacidade para produzir alimento para milhares de pessoas no continente africano e no mundo, de acordo com Flávia Botelho, professora na Universidade Federal de Lavra (Brasil) e especialista em biotecnologia. Ao que tudo indica, em 2050, a população mundial pode chegar a mais de 10 biliões habitantes, logo a necessidade de se produzir mais alimento é cada vez maior. E, nesse quesito, Angola pode começar pela produção de cereais, com o arroz à cabeça. Neste domínio, Angola pode contribuir para o alcance desse desiderato por dispor de terras aráveis, um dos requisitos para o efeito, argumenta Flávia Botelho.
Hoje, em Angola, já se fala em autossuficiência no que à produção de milho diz respeito, daí que já não se esteja a importar, segundo dados avançados pela antiga gestora da Reserva Estratégica Alimentar (REA), o Grupo Empresarial Carrinho. Entretanto, o engenheiro João Saraiva sustenta que essa questão deve ser bem verificada, por haver muitos factores a se ter em conta e, por conseguinte, sugerem ainda um longo trabalho pela frente no que respeita à autossuficiência de milho. “Há, a nível da sustentabilidade de temas alimentares e a questão da autossuficiência, ainda questões que têm sido debatidas.
E outra questão fundamental do milho é a produção para a proteína animal. Nós, se não temos milho, não temos ovos, não temos carne, fundamentalmente de aves. Se não dermos rações aos animais, não crescem. Nós costumamos dizer que uma galinha é a soja e o milho com asas”, explica. De acordo com o especialista, a importação de frango é uma forma indirecta de se importar mi- lho e soja, para além de se recorrer à ração importada para produzir ovos e carne. Por essas e outras razões é que João Saraiva não alinha na ideia de que Angola seja autossuficiência na produção desse cereal, o milho.
POR: Constantino Eduardo, em Benguela