Agricultores dos vales irrigados do Cavaco e Dombe-Grande manifestam-se apreensivos com a escassez de semente de milho, facto que tem originado o encarecimento do produto no mercado. Segundo dizem, esse facto pode comprometer as projecções para a presente campanha agrícola. O empresário agro-industrial, António Noé, acena para o Ministério da Agricultura, na perspectiva de rever a estratégia
Homens do campo nos perímetros irrigados do Dombe-Grande e Cavaco manifestam-se agastados com o cenário vigente e temem que o quadro, caracterizado pela subida vertiginosa do preço da semente de milho, possa, em certa medida, comprometer a segurança alimentar e a auto-suficiência na produção de que tanto se fala e, por conseguinte, causar fome a milhares de famílias.
Diferente de cenários anteriores, em que com pouco mais de 50 mil kwanzas se tinha à disposição um saco de 50 quilogramas de sementes, nos dias que correm, porém, as circunstâncias, em virtude de apertos financeiros, põem à prova a capacidade financeira de muitos produtores, que projectavam ter uma produção em grande escala na presente campanha agrícola.
A situação do Dombe-Grande tende a merecer, segundo agricultores, uma atenção especial por parte do Governo, aqui acenando especificamente para os ministérios da Agricultura e Florestas e o da Construção, porquanto a região já tem sido assolada por inundações, por conta da não regularização do caudal do rio Coporolo.
Aliás, em função disso, o Governo Provincial de Benguela, conforme dados em posse deste jornal, entrou em cena e, na base de um contrato firmado com a Conduril, está a intervir em uma das margens do rio, construindo diques de protecção, de modo a evitar possíveis invasões.
Mas, para a regularização de toda a extensão do rio, Luís Nunes, o governador provincial de Benguela, já admitiu incapacidade financeira e diz estar a depender do Governo Central, sendo que o projecto foi novamente inscrito no Orçamento Geral do Estado para o exercício económico de 2025.
Voltando à questão das sementes, o empresário António Figueiredo reclama o facto de um saco de semente estar a custar 150 mil kwanzas, antevendo, em virtude disso, um cenário de fome pelo menos a nível do Dombe- Grande, na Baía-Farta, uma espécie de «pulmão» no que a produção de alimento diz respeito.
“E não há bolso que aguente, pá! E estamos assim, os preços estão muito caro e a semente está escassa”, refere, pelo que pede uma intervenção das autoridades.
Assim como Figueiredo, no vale irrigado do Cavaco, os agricultores descrevem cenários que não abonam a segurança alimentar, daí que se defenda uma intervenção do Estado e, por isso, voltam a colocar acento tónico na questão da subvenção, apesar de o Governo assegurar que os produtos da cesta básica estão sob regime de preços vigiados.
O produtor de sementes, António Noé, avança, pois, a razão da subida do produto e descreve um cenário bastante preocupante. De acordo com o também agricultor, grande parte das sementes é importada de países como Brasil e Índia.
Nesses pontos do globo, eles, na qualidade de importador, desembolsam o equivalente a kwanza 90 mil. Chegados ao país, sujeitam-se ao pagamento de impostos, com o Imposto sobre Valor Acrescentado (IVA) à cabeça, para além de outros encargos e emolumentos.
Entretanto, contas feitas, o custo de compra chega a ser superior a 100 mil kwanzas. “E o resultado?” – questiona – “É vender a semente a este preço”- acabou por responder o empresário agro-industrial, que aponta a isenção tributária como a possível saída para se inverter o quadro.
Os agricultores são unânimes em afirmar que, antes desse cenário, Angola tinha tudo para se considerar auto-suficiente na produção do grão. O milho serve de base alimentar para muitas famílias em Angola e a redução na produção falta desse grão pode fustigar milhares de famílias.
“A fome pode vir a ser um facto”, antevê o agricultor António Figueiredo. As autoridades em Benguela estão ao corrente do que se está a passar e prometem advocacia junto do Governo Central – soube este jornal de uma fonte – que, entretanto, fala em cenário de conjuntura.
POR:Constantino Eduardo, em Benguela