Em entrevista ao OPAÍS, o presidente da Associação Angolana do Mercado do Carbono, Emanuel Bernardo, sublinha que, actualmente, o carbono é uma commodity com grande margem de expansão, e há necessidade de se olhar para a indústria da natureza como caminho para a diversificação económica. Acredita que, nos próximos dois anos, poderá surgir legislação para o mercado de carbono, mas que dependerá, no final de tudo, de um posicionamento do Executivo para garantir a revisão da lei de terra
Qual é o principal foco da Associação de Mercado de Carbono?
Sobre o ponto de vista do plano estratégico da Associação é se posicionar como facilitador entre os implementadores do projecto, comunidades e o Governo. A associação advoga o surgimento do mercado de carbono, em primeira instância mercado voluntário e posterior regulado, tudo no segmento das metas globais. O nosso grande mote é elevar Angola, por considerar que hoje sustentabilidade ambiental são os principais vectores para que se consiga fazer, efectivamente, a diversificação económica. Por outro lado, o grande objectivo da Associação é posicionar-se como facilitador para o efeito. O nosso grande lema é aportar valor no sentido de colocar Angola no mapa global de sustentabilidade.
Quanto tempo acha que é necessário para colocar Angola no mapa da sustentabilidade?
Temos observado que existem muitos bons discursos, compromissos ao mais alto nível. Existe sobre o ponto de vista estratégico uma agenda, mas há muita pouca acção, e precisamos implementar projectos, criar um ambiente regulatório que seja favorável, para mobilizar o financiamento climático. De igual modo, estimular o sector privado local para Angola poder ser um caminho para diversificar as exportações, mas pode- mos estar diante de uma agenda que pode impactar de forma positiva as comunidades, mitigando os riscos climáticos e olhando para a necessidade de adaptação em sede das alterações climáticas, que é sentida todos os dias por todos nós, hoje, mais do que nunca, olhando para as próximas gerações.
Quando se fala de mercado de carbono o que é de concreto?
Tudo começou com as chuvas ácidas nos EUA, que foi o epicentro nos anos 70, 80. De lá para cá, houve a necessidade de se olhar para o controlo das emissões que as indústrias produziam na altura, e os E.U.A fizeram isso trazendo o aspecto mercantilista de emissões. Depois veio o protocolo de Kioto, que dava aos países a missão de fazer um balanço de emissões e controlar os volumes de emissões que, de forma transversal, os sectores produziam. Embora não existindo nenhuma obrigação, várias iniciativas foram feitas com resultados positivos, principalmente por parte do Ocidente e, posteriormente, surgiu o Acordo de Paris. De Kioto a Paris surgiu o mercado de carbono que tem mais de 25 anos, com muitos desafios ainda. O Acordo de Paris, no artigo 6.º, vem de forma clara definir a agenda que seja global e transversal a todos os países para a necessidade de que se institua metas claras de redução para se atingir até 2050 às neutralidades carbónicas. Deste modo, ter a temperatura abaixo dos 2%, porque o temos observado nos últimos 100 anos, que varia de localidade para localidade, é um elevar das temperaturas, e sentimos isso na Europa, Ásia e outros lugares.
Em Angola ocorre este fenómeno elevado das temperaturas?
Sim, com o fenómeno da seca e desmatação acentuada. É só olhar para aquilo que é a produção nacional no agro-negócio, podemos ver a variação dos ciclos climáticos que ocorrem, o aumento das precipitações. Em Angola já é visível, porque não estamos isolados. A questão das alterações climáticas toca-nos a todos, apesar de África ter apenas cerca de 3% ou menos a nível de participações e de emissões, daí que acaba sendo o continente mais afectado, porque não está preparado. Estamos a caminhar paulatinamente para uma catástrofe planetária e há a questão de que nem todos os países estejam preparados por causa das assimetrias económicas, porque mitigar e adaptar alterações climáticas pressupõem investimentos, financiamentos, sendo fundamental que se crie condições em fase deste novo paradigma, porque se não corremos o risco de ter uma catástrofe à escala global.