José Alfredo Sapi sustenta que a poupança, sobretudo neste tempo de aperto financeiro, deve partir, em primeiro lugar, dos governantes para depois, em cadeia, os cidadãos terem também a cultura de evitar gastos supérfluos. No que se refere a governantes, Sapi louva o facto de o Presidente da República, João Lourenço, ter retirado alguns subsídios, sem os mencionar, porém pensa ainda haver muito trabalho pela frente.
Na perspectiva do académico, o país ainda gasta avultadas somas financeiras em viagens. Estes e outros aspectos o académico trá-los em livro, subordinado ao tema “Educação Financeira em Angola”, de 139 páginas, cujo lançamento está, em princípio, marcado para 10 de Junho deste ano.
Em entrevista exclusiva a este jornal, o economista argumenta que o livro foi, em certa medida, inspirado no contexto económico do país, na perspectiva de transmitir a ideia de que não se deve gastar “mais do que aquilo que se recebe”, sabendo que os preços têm estado a subir vertiginosamente no mercado. “Por exemplo, existem aquelas despesas supérfluas que podem ser, naturalmente, evitadas. Também reconhecemos que cortar despesas costumeiras não é fácil para nenhum de nós”, refere.
Segundo o académico, com o livro pretende-se passar uma perspectiva inovadora ao cidadão em relação à qualidade da despesa a ser feita, tendo em conta o contexto de aperto financeiro a que a maioria dos angolanos está sujeito. “Nós vamos deparar-nos com cidadãos que, quando o salário cai, ficam nervosos. Enquanto não terminar o seu rendimento não vai passar bem a noite”, porque, segundo elucida, os recursos nunca chegam para fazer face às despesas.
Amante da ciência económica, Sapi esclarece que não quer, com isso, dizer às pessoas que têm de sofrer, mas viver à medida do possível e ter uma vida normal capaz de evitar aquilo a que chama de «impulsos de compra». “Nós tratamos mal o nosso dinheiro, nós queremos pegar o dinheiro e embrulhar no pano. Não. Nós temos de ter com o dinheiro um contacto de amor. Porquê? Porque você o adquire com bastante esforço. Não é aquele dinheiro que vem com um gato à noite, não”, ironiza o economista.
Inspiração do contexto financeiro José Sapi adverte que há leitores que, por falta de educação financeira, vão considerar o livro como que uma “ofensa”, prevendo, pois, questionamentos sobre onde é que ele terá ido buscar os conceitos que ele expõe na obra literária. Prevendo estes possíveis questionamentos, ele tranquiliza com a ideia de que o contexto financeiro constituiu a sua principal fonte de inspiração. “O contexto por si só nos leva a isso. Nós podemos começar a incutir nos nossos políticos a cultura da poupança.
Vai levar algum tempo sim, mas é preciso caminharmos no sentido ideal para conseguirmos, naturalmente, tirar a economia angolana onde está”, sugere, ao salientar que a poupança é, desde já, a única forma de se inverter o actual quadro. “É necessário olharmos para aquilo que nós temos, em termos de disponibilidade e dizermos: o quê que eu vou fazer? Se um pai, um Presidente, um governador interiorizar, de facto, a educação financeira, ele vai servir de modelo. Claramente que você vai querer fazer o mesmo”, sublinhou.
Em resumo reforça que a beleza do livro reside no facto de, cada indivíduo ter a capacidade de fazer a sua própria poupança e com ela poder abrir um negócio, investir e empregar pessoas. Ele defende, por conta disso, a necessidade de haver uma coabitação saudável entre aquilo que se recebe de ordenado mensal e os gastos a serem efectuados. “Temos de procurar forma de gastar sempre menos para termos poupança. Porque poupança gera investimento. E, se nós começarmos a ter cultura, vai haver muitas mudanças”, frisou, ao sugerir à ministra da Educação uma disciplina de Educação Financeira no currículo escolar.