Para os altos dirigentes do País li- gados a assuntos económicos esta- mos a caminhar bem e o mau tempo ficou para trás. Os indicadores económicos não confirmam esse optimismo. Exalta-se o crescimento do PIB em 2022 (2,9%), e esquece-se o peso do aumento do preço do petróleo nisso e que o seu montante é cerca de 17% inferior ao de 2014, quando a população era também menor em aproximadamente mais de 20%. O que significa que temos de dividir um produto menor por uma população maior. Ou seja, se já éramos pobres, estamos agora mais pobres.
Se acrescentarmos a inflação de 15% podemos ter uma ideia mais real dos males que afligem a população. Não surpreende que a confiança dos empresários seja agora inferior à existente antes das eleições. Não se pode ignorar este quadro quando se equacionam as perspectivas económicas para 2023. Será um ano de incertezas desde logo pelos condicionalismos à volta da produção de petróleo (que pode continuar em queda) e do preço (dependente da evolução da guerra na Ucrânia) e ainda do comportamento da economia chinesa, que pode conhecer níveis baixos ou mesmo nulos de crescimento, o que afectará a importação de petróleo por parte do gigante asiático.
Igual incerteza paira sobre a decisão que o Executivo vier a tomar sobre os preços dos combustíveis. Acabar com os subsídios, que custam ao erário público cerca de 2,8 mil milhões de dólares por ano e cujo pagamento à Sonangol enferma de opacidade e de irregularidades com efeitos gravosos na dívida pública, é imperioso e talvez inadiável, mas os riscos políticos são enormes. É difícil perceber como foi encarada esta questão ao longo dos anos, dado que poderia ser resolvida com um aumento suave do preço ao longo dos cerca de sete anos em que ela se arrasta, o que, imagino, acarretaria menos riscos.
Já pouco incerto é o modo como o Executivo tem tratado dos principais gargalos que afectam a produção, e aqui falo fundamentalmente do sector agrícola. A produção agrícola tem aumentado, mas para que possamos pensar em alcançar a auto-suficiência alimentar te- mos de passar dos 5-6% anuais para 15-20%. Não conseguiremos isso com a insistência na solução dos problemas atirando dinheiro para cima deles.
Os financiamentos que se anunciam para o PLANA- GRÃO e para o PLANAPECUÁRIA (planos que fazem recordar velhas abordagens) podem ser muito apelativos, mas não podem ser eficientes enquanto não se der tratamento devido a temas como o reforço institucional (englobando o sector público e as micro e pequenas empresas), a melhoria do ambiente de negócios ou a reabilitação de infraestruturas como as estradas.
POR: FENANDO PACHECO