O director do departamento dos ‘ratings’ soberanos da agência de notação financeira Fitch, Tony Stringer, admitiu à Lusa que a depreciação da moeda nacional angolana traz “dores de curto prazo”, mas terá depois um efeito positivo
“A d e p r e c i ação da moeda traz dores a curto prazo em termos de inflação, por exemplo, mas é parte de um ajustamento que terá de acontecer antes de a economia se reequilibrar, e terá um efeito positivo” na avaliação da qualidade do crédito do país, afirmou Tony Stringer.
Em entrevista à Lusa, durante a passagem por Lisboa para uma conferência, o director do departamento dos ‘ratings’ soberanos da Fitch vincou que “o nível de dívida pública está a subir, estando relativamente alto, mas não é um factor de distinção negativa” face aos pares comparáveis.
A depreciação da moeda nacional angolana, decidida no princípio do mês pelo Executivo, influencia o rácio da dívida pública face ao Produto Interno Bruto (PIB), fazendo subir a percentagem devido à desvalorização cambial em função do dólar. Angola, apontou o analista da Fitch, “enfrenta desafios importantes”, começando pela forte dependência ao petróleo, responsável por mais de 95% das exportações e cerca de metade das receitas fiscais do Governo. “Um dos desafios estruturais que se mantém é que está muito dependente das matérias-primas, e isso claramente deixa o país muito vulnerável às oscilações dos preços”, frisou.
O ‘rating’ de Angola está em B, no fundo da escala, e a Perspectiva de Evolução é Negativa, o que significa que um novo corte na avaliação da qualidade do crédito soberano é provável nos próximos 12 a 18 meses. Angola tem, no entanto, pontos a seu favor, adiantou o analista, elencando que “as variáveis mitigantes na análise é o facto de terem reservas orçamentais, como por exemplo o Fundo Soberano, e depósitos em moeda estrangeira, o que significa que o rácio da dívida sobre o PIB não é assim tão preocupante”.
Questionado sobre quais os as-pectos prioritários na diversificação económica que as autoridades assumem como prioritária, Tony Stringer esclareceu que “para implementar a diversificação económica, os países demasiado dependentes de uma matéria- prima têm de tomar um conjunto de medidas”.
Entre elas, o analista recomendou “o aumento da qualidade do capital humano, a melhoria do ambiente empresarial, o reforço da transparência, o encorajamento do investimento nos sectores não petrolíferos”, porém alertou que este conjunto de iniciativas “é tradicionalmente difícil de tomar” e concluiu que “é preciso um Governo reformador empenhado nessa estratégia”.
Moody’s: Risco político e crescimento baixo prejudicam África subsariana A agência de notação financeira Moody’s considerou, este Domingo, que a Perspectiva de Evolução para a análise da qualidade do crédito soberano dos países da África subsariana é negativa devido a riscos de instabilidade política e por razões económicas.
“A nossa Perspectiva de Evolução da qualidade do crédito na África subsahariana em 2018 continua Negativa no geral, reflectindo a nossa expectativa sobre as condições fundamentais que vão ditar a qualidade do crédito nos próximos 12 a 18 meses”, escrevem os analistas numa nota sobre os ‘ratings’ na região, que inclui Angola, Moçambique e Guiné Equatorial.
Na nota enviada aos investidores e a que a Lusa teve acesso, a Moody’s diz que “o ‘outlook’ negativo é sustentado pela recuperação frágil e o crescimento económico abaixo do potencial, que também influencia as perspectivas para a consolidação orçamental e a estabilização da dívida”.
O aumento da generalidade das previsões das instituições económicas internacionais para o crescimento em 2018 não deverá, no entanto, traduzir-se num crescimento proporcional na África subsariana, sublinha a Moody’s.
“O crescimento mundial mais elevado e mais estável vai proporcionar apenas um impulso limitado a esta região, dados os “gargalos” estruturais internos e a nossa expectativa de que os preços das matérias-primas irão manter-se relativamente baixos”, escrevem os analistas.