“Chegamos a ver, nas nossas empresas, casos em que os funcionários pediam aos empregadores para ver se os arranjassem espaços para que eles passassem a pernoitar e, desta forma, evitar os custos dos transportes”, revelou.
O empresário, que participava de uma conversa entre vários actores sociais sobre política salarial em Angola, avançou também que os funcionários são obrigados a contraírem mais de um empréstimo num só mês, para suportar as despesas diárias devido à insuficiência salarial.
“Os funcionários estão constantemente a nos solicitar empréstimos, nesse contexto, a classe analisa se um funcionário em um mês faz dois empréstimos significa que este não está a conseguir satisfazer as suas necessidades essenciais”, disse. Manifestou ainda a preocupação de os investidores passarem a ajustar o salário, de qualquer funcionário, de acordo com o perfil de trabalho, bem como ter em conta o poder de compra.
O responsável da AAPA reconhece mesmo que, da parte dos colaboradores, o custo nos transportes tem sido tão alto em relação ao que se paga mensalmente. “O peso do transporte, comparado com o que tem sido a renda mensal, é de tal modo elevado que não permitiria ao trabalhador viajar todos os dias e restar mais alguma parte para poupança, razão pela qual preferem pernoitar nos estabelecimentos onde operam, explicou.
O número um da AAPA esclareceu que nas startups em que o índice de produção é baixo, com pouca produtividade, não se consegue satisfazer todas as necessidades de uma empresa que agrega um número crescido de profissionais.
Pouca competitividade
Wanderley Ribeiro fez saber que, no âmbito de um relatório sobre competitividade, Angola ocupa a posição 130, de um conjunto de 134 países envolvidos na pesquisa.
Esclareceu que existe no sector empresarial angolano pouca competitividade, com realce para a área da agricultura, onde manifestou o seu descontentamento pelo facto de ser uma parte da economia ocupada pela maioria de gestores estrangeiros, detentores das grandes fazendas em Angola.
“Não existem profissionais angolanos com capacidades suficientes para gerir todo sector agrícola, e nós somos obrigados a contratar pessoas do Brasil para gerir empresas no nosso país. Observa-se que, nas suas localidades, o salário pago a eles são altos e, para o nosso contexto, somos levados a acrescentar mais um diferencial, elevando ainda mais os custos”.
Na agricultura, 95 por cento das fazendas são geridas por profissionais de fora, os gestores são maioritariamente brasileiros, sendo que o empresário chama atenção para a inversão do quadro em Angola, apelando para uma maior competitividade no mercado empresarial. “Para sermos competitivos, precisamos agregar um conjunto de factores, como a produtividade, competitividade e competência.
Nas instituições de emprego, progressão de carreira e os funcionários a contratar devem corresponder ao perfil de cada vaga oferecida, no sentido de se evitar má distribuição salarial “, disse. Recentemente, o Governo Angolano, no âmbito da política salarial, abordou com a direcção das centrais sindicais a efectivação do aumento do salário mínimo nacional que deve variar entre os 50 e 70 mil Kwanzas, podendo mesmo chegar até 100 mil kwanzas para as grandes empresas.
No decreto aprovado em sede da 6.ª Sessão Ordinária do Conselho de Ministros, orientada pelo Presidente da República, João Lourenço, estabelece que, após 12 meses, a contar da data da entrada em vigor do diploma aprovado, o montante do salário mínimo nacional é fixado para 100 mil kwanzas.