Esse crescimento, segundo um relatório recente desta instituição científica, reflecte mudanças na estrutura de emprego do país, apesar de os investigadores levantarem questionamentos sobre a real dimensão dessa transformação avançada pelo Instituto Nacional de Estatística (INE).
Paralelamente, os sectores primários registaram uma redução de 550 mil postos de trabalho, um movimento compensado pelo aumento de 966 mil empregos em outros sectores, especialmente os industriais e de serviços.
Este realocamento de mão-deobra demonstra um abandono da actividade informal rural em direcção a oportunidades formais e urbanas. A taxa de informalidade total, segundo o documento, caiu de 80,5% para 78,4%, mas o INE deixou de detalhar os dados entre zonas rural e urbana, dificultando a análise do impacto real das mudanças.
Taxas de actividade e desemprego
A taxa de emprego caiu ligeiramente de 76,2% para 74,3%, um comportamento atípico em áreas rurais, onde o cultivo de subsistência normalmente sustenta a actividade. Já a taxa de desemprego subiu para 19%, após atingir um pico de 32,4% no primeiro trimestre.
A reestruturação do mercado de trabalho influenciou a produtividade de forma desigual. Nos sectores primários, houve um aumento de 40%, impulsionado pela redução drástica do emprego.
Entretanto, nos sectores secundários e terciários, a produtividade caiu 26% devido à entrada de um grande número de trabalhadores sem aumento proporcional na produção.
O Produto Interno Bruto (PIB) em valor deflacionado recuou 8% em relação a 2022, e o consumo mensal per capita caiu de 259 dólares para 227 dólares. Esses dados refletem os desafios ainda enfrentados pela economia, apesar dos avanços no emprego.
Investimento estrangeiro cai 2,4%
O investimento estrangeiro registou uma redução de 2,4% no primeiro semestre de 2024, passando de 67,9 para 66,8 mil milhões de dólares, o que representa uma diminuição de USD 1,1 mil milhões. Essa queda deve-se, principalmente, à redução na rubrica de empréstimos, que recuouUSD 1,8 mil milhões.
No entanto, houve compensações modestas no Investimento Direto Estrangeiro (IDE), que subiu 0,5 mil milhões, e nos créditos comerciais, com um aumento de 0,2 mil milhões.
A dificuldade em contratar novas dívidas externas em condições favoráveis continua a ser o principal obstáculo para a entrada de divisas no país. No sector petrolífero, o IDE voltou a ser positivo pela segunda vez na série histórica, atingindo USD 295 milhões. Em contrapartida, o IDE nãopetrolífero foi de apenas USD 178 milhões, um montante insignificante para impulsionar o crescimento económico.
Este último registou uma queda preocupante, passando de 133 milhões no primeiro trimestre para apenas 45 milhões de dólares no segundo trimestre de 2024. Outro indicador crítico é o aumento do prazo médio de pagamentos, que subiu de 62 para 67 dias, em contraste com o prazo médio de recebimento, que se mantém elevado, em 99 dias.
Desde 2017 até ao segundo trimestre de 2024, o panorama do investimento estrangeiro em Angola revela uma trajectória preocupante. O IDE acumulou uma redução de 57%, caindo de 29,4 para USD 12,6 mil milhões. Embora haja sinais positivos em 2024, a tendência geral aponta para desafios estruturais que impactam a economia.
O valor dos empréstimos externos também sofreu uma queda, passando de 48,0 para USD 46,7 mil milhões (-3%). Embora positivo no longo prazo, esse declínio traz consequências significativas para a tesouraria do Estado, além de influenciar negativamente a taxa de câmbio e a inflação.
Por outro lado, os Direitos Especiais de Saque (DES) disponibilizados pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) apresentaram um aumento expressivo, passando de 0,4 para USD 1,3 mil milhões, impulsionados pelo apoio de mil milhões de dólares recebidos em meados de 2022.
Por: Francisca Parente