O fenómeno acontece por falta de cobertura municipal, de acordo com o técnico veterinário, para quem cada municipalidade de Angola devia ter, no mínimo, um oficial de campo
O técnico veterinário angolano, Paulo Bena, que recentemente esteve a fazer uma digressão por esse município da província cafeícola de Angola, revelou que os criadores de gado das comunas de Massau e Macolo, município de Milunga, na província do Uíge, estão reféns da prestação de serviços de veterinários da República Democrática do Congo (RDC), que atravessam a fronteira, a fim de ganharem algum dinheiro.
Segundo este técnico, as razões dessa dependência estão no fac- to de não existirem veterinários nacionais destacados nessa região e por essa localidade de Angola fazer fronteira com outras da República Democrática do Congo (RDC).
Aliás, Paulo Bena entende que não se pode condenar o departamento da direcção provincial da agricultura, que se encarrega dos serviços veterinários, porque ele pôde constatar que o referido sector possui poucos técnicos, com o agravante de ter avistado menos de dez oficiais de campo numa província com 16 municípios, o que dificulta o cumprimento da orientação legal, segundo a qual cada município deve ter, pelo menos, um veterinário para as campanhas.
“Estive lá, no Massau e Macolo, em Milunga, durante três meses, isto é, de Novembro de 2023 a Janeiro de 2024, a percorrer a pé de bairro a bairro, com distâncias consideráveis, onde a constatação que fiz, de curral a curral, deu-me a entender que os criadores estão reféns da prestação dos serviços veterinários de alguns técnicos da RDC, que atravessam a fronteira por via do rio Cuango para ganharem algum dinheiro dos munícipes de Milunga”, contou Paulo Bena.
O veterinário não deixou de referir sobre a resistência de alguns proprietários de gado, que ora simulavam não serem os donos, ora apresentavam outras mentiras, por temerem a mão fiscali- zadora do Estado.
Mas garantiu que, ao aperceber- se do receio dos mesmos, levou a cabo uma campanha de sensibilização e mobilização, que resultou na mudança de postura dos pastores, ao ponto de se compro- meterem a pagar impostos de exploração pecuária.
Outra proeza conseguida pelo entrevistado de OPAÍS teve a ver com a disponibilidade assumida quanto às doenças que conseguiu diagnosticar, referindo-se à tripassonomíase, que aventa ser causada por moscas-tsé-tsé.
Averminose junta-se à lista de patologias contraída pelo gado, que tem como via de transmissão os vermes alojados na alimentação e na água dadas pelos criadores de Milunga para darem o corpo do seu gado à vacinação. Aliás, no que toca a esses serviços, os criadores alegaram estarem desde o tempo colonial sem imunização.