O Cinvestec identificou uma inversão anormal no desempenho do sector no 1.º trimestre de 2024, corrigida no 2.º trimestre. O índice trimestral em volume subiu de 0,88% para 1,2% (+15,7%), mas o valor acumulado semestral foi de apenas +1,3%.
O relatório económico do Centro de Investigação da Universidade Lusíadas de Angola (Cinvestec) sobre o primeiro semestre deste ano sublinha que, em termos deflacionados pelo Índice de Preços no Consumidor Nacional (IPCN), o índice trimestral cresceu 24,9%, mas acumulou uma queda semestral de -6,1%.
Além disso, os rendimentos por unidade de volume caíram 7,4%, e os preços relativos do sector decresceram 7% em comparação com o IPCN, o que, segundo o relatório, “não corresponde à realidade” e indica problemas fundamentais nos índices de preços usados pelo INE para calcular o PIB nominal.
Impacto estrutural na economia
O peso da indústria transformadora no PIB também registou variações atípicas. Historicamente estável em torno de 4,6%, o peso em volume caiu para 3,7% no 2.º trimestre de 2024. Em valor deflacionado, a queda foi ainda mais significativa, de 7,3% no 1.º trimestre de 2023 para 5,5% no mesmo período de 2024.
O relatório destaca ainda que essas variações não reflectem a sazonalidade da indústria e sugere que o período-base para o cálculo do PIB em volume precisa ser actualizado. “A subida do índice no 1.º trimestre é estranha e sem propósito”, concluem os analistas do Cinvestec.
Limitações operacionais e entraves ao crescimento
De acordo com o Instituto Nacional de Estatística (INE) e o Cinvestec, a escassez de matérias-primas, agravada pelas restrições às importações devido à falta de divisas e dificuldades logísticas, tem prejudicado a produção interna.
Avarias frequentes nos equipamentos, aliadas à falta de peças de reposição e serviços de manutenção adequados, comprometem a eficiência operacional do sector. Além disso, a burocracia excessiva, com regras complexas e controlos frequentes, eleva os custos logísticos e dificulta a distribuição de bens. A falta de mão-de-obra especializada também se apresenta como um entrave, afectando tanto a operação de equipamentos quanto a manutenção industrial.
Para superar esses desafios, o Cinvestec destaca a necessidade de priorizar as importações de matérias-primas para garantir o fluxo produtivo, simplificar as regras de funcionamento e facilitar o acesso a terrenos industriais, promovendo o estabelecimento de novas empresas. A melhoria das infra-estruturas logísticas, como estradas e pontos de transporte, é essencial para reduzir os entraves ao escoamento de produtos, assim como a redução de controlos excessivos nas vias.
É igualmente importante, de acordo com os analistas do Cinvestec, ampliar o acesso ao crédito para apoiar as operações industriais, investir na formação de mão-de-obra especializada e implementar redes de suporte técnico que garantam a manutenção dos equipamentos. A aplicação dessas medidas, segundo o Cinvestec, é fundamental para mitigar as limitações actuais e impulsionar o crescimento sustentável da indústria transformadora no país.
O relatório do Cinvestec reforça a necessidade de acções coorde- nadas entre o governo e o sector privado para resolver problemas estruturais e melhorar a coleta e análise de dados. Com a implementação de políticas mais eficazes e um ambiente de negócios mais favorável, a indústria transformadora poderá desempenhar um papel crucial na diversificação económica do país.
A correcção dos índices no 2.º trimestre de 2024 é um sinal positivo, segundo os analistas, mas não suficiente para reverter a tendência de declínio. O futuro do sector dependerá de decisões estratégicas e de uma abordagem integrada para enfrentar os desafios de forma sustentável.