Cidadãos em Benguela, entre comerciantes e compradores, sugerem que o Executivo adopte medidas concretas tendentes a conter a subida de preços dos principais produtos da cesta básica, sendo o arroz aquele sobre o qual recai maior preocupação
No maior mercado a céu aberto de Benguela, o 4 de Abril, para onde se tinha deslocado a reportagem deste jornal, alguns proprietários de armazéns, parte dos quais cidadãos eritreus, justificam a subida de preços com a desvalorização da moeda, associada à subida do dólar, moeda de compra.
Entretanto, há quem não se reveja em explicações como essas e acusa-os de serem responsáveis pela subida de preços, responsabilizando também o Governo, a julgar pelo facto de, nos últimos meses, os produtos da cesta básica serem os que mais registam tendência de subida.
Compradores e revendedores são unânimes em afirmar que, de entre os preços, o do arroz é o que mais preocupa, por ter registado subida exponencial.
De 13 mil kwanzas, um saco de 25 kilogramas custa agora 19.500, ao passo que o litro de óleo vegetal, que antes era comercializado a 1200 kz, hoje sai a 1700 kz, facto que tem vindo a causar um aperto às famílias locais, conforme justificaram os interlocutores.
Impotente, face ao cenário preocupante, a Fernanda Manuela restou apenas apelar ao bom senso do Governa, na perspectiva de adoptar medidas cujo objectivo seja, efectivamente, o de conter a onda de subida de preços. “Queremos que a comida baixe, está de mais.
As coisas estão a subir muito. Antes, pegávamos o arroz a 7500 kz, agora está 19 mil. É muito”, lamenta a vendedeira, “isso está muito mal. Vamos só pedir ao nosso pai João Lourenço para baixar só mesmo as coisas”, implora.
“Pensava que a esposa me enganava”
Graciano Dumbo, septuagenário, nunca se tinha sujeitado a compras, confiando essa tarefa à esposa.
De um tempo para cá, conforme explica, vinha dando conta de alguma reclamação da mulher de que o dinheiro posto à disposição não chegava, porque a comida estava encarecida no mercado.
Como não pretendia aumentar a renda mensal à mulher, decidiu, então, ele próprio ir às compras. “Está tudo caro.
Pensava que a minha esposa me andava a enganar. Epá, meu filho, as coisas aqui estão muito complicadas.
E a pessoa ganha pouco, nem chega para tanto. Assim sendo, tudo vai para a comida”, disse à reportagem deste jornal.
Helena Jamba reclama, igualmente, da subida do preço do açúcar, que saiu dos 600 kz para os mil kwanzas.
“E nós que compramos para vender também não conseguimos ter lucro, está mesmo muito difícil”, disse.
Em Benguela, essas reclamações surgem dias depois de a Carrinho Empreendimentos, entidade que até há bem pouco tempo geria a REA, ter denunciado a existência de determinados grupos de comerciantes que fomentavam informações sobre alegada falta de qualidade de alguns produtos nacionais.
O seu presidente do conselho de administração, Nelson Carrinho, esclarece que tal comportamento visa tão só comprometer a produção nacional e continuar a empurrar o país para a importação de produtos, sobretudo os que compõem a cesta básica, os quais Angola pode até produzir em grande escala.
Se produtos como arroz, açúcar, óleo, para citar apenas estes, registam alta de preços, o mesmo não se dá em relação aos chamados ‘produtos do campo’, como a batata-rena e doce, tomate, pimento e cenoura que baixaram, consideravelmente, no mercado, embora a cebola, nos últimos tempos, tende a encarecer, disseram alguns vendedores com quem este jornal contactou no 4 de Abril, que reclamaram falta de clientes.
Os nossos entrevistados sugerem medidas que passem, necessariamente, pelo fomento à produção nacional, sendo certo que é preciso, como dizem, potenciar os agricultores com insumos agrícolas, que também estão encarecidos no mercado.
Por: Constantino Eduardo, em Benguela