O consultor da Deloitte, Martins Correia, revelou, recentemente, em Benguela, que Angola tem um défice anual na ordem dos 9,7 milhões de toneladas de produtos, devido ao fraco desempenho da agricultura, sendo o sector familiar responsável por 90 por cento de produção
O especialista, que apresentava os resultados de um estudo encomendado pelo Grupo Carrinho, entende ser imperioso o envolvimento do sector empresarial para a auto-suficiência alimentar.
O tema da auto-suficiência alimentar dominou as comemorações dos 30 anos de existência do Grupo Empresarial Carrinho, que reuniu, no seu complexo industrial, em Benguela, especialistas do quadrante nacional e internacional.
Numa conferência para a qual vários especialistas foram chamados a debitar conhecimentos, o consultor Martins Correia, da Deloitte, apresentou dados relativos a um estudo económico feito a pedido da promotora do evento.
A Deloitte prevê ganhos em matéria de distribuição de insumos agrícolas, escoamento, armazenamento e secagem de produtos com o fomento à produção interna nos próximos sete anos, orçado em USD 8 mil milhões, um projecto desenhado pelo Grupo Carrinho.
Segundo o responsável, o país, que deseja caminhar para a auto-suficiência alimentar deixando de lado o cenário de importação, precisa de produzir, anualmente, 9,7 milhões de toneladas de produtos alimentares, se quiser caminhar rumo à auto-suficiência alimentar.
Não se avançaram dados relativos à produção de feijão, arroz, soja, arroz, trigo e palma, mas sabe-se, à partida, que, actualmente, o país já não tem necessidade de importar milho, pois a produção interna já faz face à demanda nacional.
Até bem pouco tempo gestora da Reserva Estratégica Alimentar, por via da Gescesta, empresa detida por dois sócios da Carrinho, esse grupo tem cadastrado pelo país mais de 100 mil agregados familiares dedicados à produção de grãos, destacando-se feijão e milho, a que a empresa potencia com sementes, na perspectiva de fomento à produção, no quadro do Planagrão, um instrumento do Executivo Angolano.
Por sua vez, o director do Centro de Estudo e Investigação Científica da Universidade Católica de Angola, Alves da Rocha, afirmou que o país tem desenvolvido, desde a independência, vários programas, mas nunca faz avaliações dos mesmos e, dificilmente, são conhecidos os desfechos dos mesmos.
O também economista, que trabalhou mais de 30 anos como consultou do então Ministério da Economia e Planeamento, sinaliza que, para se atingir a auto-suficiência de que tanto se precisa, Angola tem de aumentar a produção das cinco aludidas culturas acima referidas.
O especialista não tem dúvidas de que o desafio é ainda maior e vê no Planagrão um grande mecanismo por via do qual se possa alcançar a tão desejada autosuficiência.
“Nós, em economia, temos aquilo que se chama efeito demonstração, portanto para dizer que o subdesenvolvimento ainda o é, porque há um efeito demonstração negativo nas economias que ainda são subdesenvolvidas”, disse. Acrescentou que “o Estado tem muitos projectos.
Um dos grandes projectos é o Planagrão. Toda a gente fala, toda a gente critica e nós estamos aqui também para ligarmos a pesquisa social que nós fazemos no CEIC à realidade social e económica do pais”, resume.
Segurança alimentar
A presidente da Fundação para o Desenvolvimento da Comunidade, Graça Machel, não concebe o facto de, apesar de Angola ter terras aráveis, ainda haver milhares de pessoas a precisar de alimento, daí que tenha colocado o acento tónico na questão da segurança alimentar.
Segundo Graça Machel, que interveio num dos painéis, só se pode falar de segurança alimentar quando cada agregado familiar “tem condições para produzir o mínimo para a sua alimentação durante 365 dias, e com nutrientes”, sublinha.
A activista dos direitos humanos é de opinião que cada angolano é chamado para ajudar o país a diminuir os níveis de pobreza em Angola.
“As zonas rurais, embora trabalhem muito, elas não têm segurança alimentar (…) À medida que nós vamos descendo, a segurança alimentar e nutricional têm de se transformar em prioridade número “um” não só dos poderes públicos, mas também uma preocupação permanente do sector privado”.
Graça Machel acrescenta que uma alimentação nutritiva se pode chamar um direito-mãe para permitir que todos os direitos sejam exercidos.
Para se ter saúde, acrescenta, precisa-se de uma boa alimentação, considerando de inaceitáveis os níveis de pobreza em Angola e, por isso, apela à solidariedade social.
Por: Constantino Eduardo, em Benguela