O documento sublinha que a maioria das oportunidades concentra-se em Luanda, enquanto jovens adultos e mulheres enfrentam dificuldades crescentes para se posicionar no mercado laboral. O relatório, fruto da colaboração entre o CINVESTEC e a Jobartis, analisou a oferta e a procura de trabalho em Angola de 2020 a 2024.
Com base nos dados do primeiro semestre de 2024, a pesquisa identificou um afastamento entre as 54.150 vagas publicadas e os 211.294 candidatos registados. O índice médio de cobertura é de apenas 26%, deixando 74% dos candidatos sem emprego.
A tendência é marcada por uma piora contínua, agravada pela estagnação económica entre 2021 e 2023. Apenas no segundo semestre de 2023 o mercado começou a apresentar sinais de recuperação, mas ainda insuficientes para equilibrar a disparidade entre oferta e a procura.
Entre os candidatos, jovens adultos entre 23 e 35 anos representam 80% do total, enquanto apenas 7,7% estão na faixa de 15 a 22 anos. A pesquisa indica ainda uma crescente participação feminina, que subiu de 32% para 39% no período analisado, embora os homens ainda sejam a maio- ria na ordem dos 67%.
Nível académico como factor predominante
O nível de escolaridade também é um factor determinante. Candidatos com licenciatura têm a maior taxa de cobertura (48,1%), embora o mercado seja altamente competitivo, com dois candidatos por vaga. Em contrapartida, os níveis de ensino médio e técnico apresentam as piores taxas, com uma cobertura de apenas 25%, o que significa quatro candidatos por vaga. As oportunidades de emprego são predominantemente urbanas.
Luanda lidera com 92% dos candidatos e 83% das vagas publicadas. Entretanto, a cobertura de vagas na província é de apenas 19%. Outras regiões, como Benguela e Huíla, apresentam taxas ainda menores, de 5,5% e 8,3%, respectivamente, agravando a exclusão no interior do país, segundo o relatório.
No aspecto salarial, o rela- tório destaca um aumento nas vagas com salários acima de 1 milhão de kwanzas, que passaram de 0,5% para 14% no primeiro semestre de 2024. Entretanto, a maioria das oportunidades está concentrada em faixas de 70 mil a 100 mil kwanzas, expondo uma grande desigualdade no mercado.
A falta de transparência sobre os salários pretendidos pelos candidatos é outro problema. Cerca de 96% deles não especificam a sua expectativa salarial, o que dificulta o alinhamento entre oferta e procura.
O sector de prestação de serviços domina com 12,7% das vagas, seguido por telecomunicações com 7,9% e indústria transformadora com 6,3%. Ainda assim, há uma redução na actividade empresarial desde 2023, com uma queda acentuada no número de empresas recrutadas através da Jobartis, de 800 para 500 no início de 2024.
Os especialistas recomendam investimentos em infra-estrutura e formação técnica como soluções para fechar as lacunas no mercado laboral. Políticas fiscais que incentivem a descentralização das oportunidades também são vistas como essenciais para equilibrar o cenário.
O relatório do CINVESTEC e da Jobartis aponta para a necessidade de maior transparência, inclusão regional e investimentos em capacitação profissional como caminhos para um mercado mais equilibrado e dinâmico.
POR:Francisca Parente