Um dos principais riscos para a economia de Angola, principalmente por via da dívida pública, é a queda do valor do kwanza, que per- deu cerca de 40% face ao dólar no primeiro semestre deste ano A consultora Capital Economics reviu a previsão de crescimento para Angola, antecipando agora uma expansão de 1,3% do Produto Interno Bruto (PIB), seguida de estagnação em 2024, com a inflação acima de 25% no final do ano
“Pensamos que a queda do kwanza, juntamente com os recentes cortes nos subsídios aos combustíveis, vai empurrar a inflação para mais de 25% no final do ano face ao homólogo, o que compara com os 11,2% registados em Junho”, escrevem os analistas numa análise da economia angolana, divulgada na mesma altura em que a agência de notação financeira Standard & Poor’s manteve o ‘rating’ em B- com perspectiva Estável e poucos dias depois de o Governo descer a previsão de crescimento, de 3,6%, para 1,1%.
“Baixámos a nossa previsão de crescimento, e esperamos agora que o PIB cresça apenas 1,3% em 2023, seguido de uma estagnação em 2024, uma projecção bem abaixo do consenso dos analistas, que antecipam crescimentos de 2,3% e 3%, respetivamente”, admite a Capital Economics. Um dos principais riscos para a economia de Angola, segundo a Lusa, principalmente por via da dívida pública, é a queda do valor do kwanza, que perdeu cerca de 40% face ao dólar no primeiro semestre deste ano, tornando os empréstimos em moeda externa mais caros de suportar.
“Angola fez bons progressos nos últimos anos na descida do rácio da dívida face ao PIB, de um pico de mais de 130% em 2020, para menos de 70% este ano, mas mais de dois terços da dívida pública está em moeda externa, pelo que só a depreciação do kwanza aumenta o rácio em cerca de sete pontos percentuais este ano”, diz a Capital Economics. Só em Novembro deste ano, “Angola terá de pagar 2,3 mil milhões de dólares de dívida”, cerca de 2,1 mil milhões de euros, alertam os analistas, acrescentando que os avultados volumes de pagamentos não devem ser cumpridos recorrendo a um ‘rollover’ da dívida por causa dos altos juros cobrados actualmente nos mercados internacionais. “Fazer um ‘rollover’ da dívida seria extremamente oneroso”, alertam, referindo-se à prática de emitir nova dívida para pagar a dívida antiga.
No entanto, a grande vantagem de Angola é a austeridade que imprimiu desde a queda dos preços do petróleo, em 2016, e que fez com que, apesar da queda facial do valor do kwanza, os investidores não tenham ‘castigado’ o país com um aumento das taxas de juro. “Por isso, não prevemos que a depreciação da moeda vá originar um incumprimento soberano; a desvalorização vai empurrar a balança de pagamentos para uma trajetória mais sustentável, ajudando a reconstruir as reservas em moeda externa, que, apesar de baixas, são suficientes para cumprir os compromissos da dívida no futuro próximo”, argumentam os analistas. O excedente orçamental, aliás, “significa que o rácio da dívida sobre o PIB deve começar a cair novamente a partir do próximo ano”, conclui a Capital Economics.