A crise energética na província de Cabinda data do período pós-independência, cujo fornecimento foi sempre feito mediante grupos geradores. A solução do problema, de forma definitiva, passa pela conclusão dos projectos estruturantes em curso liga- dos ao ciclo combinado do Soyo, ao aproveitamento hidroelétrica do Inga (RDC) e da construção da central fotovoltaica na localidade de Chinganga.
O fornecimento, a partir de uma fonte hídrica (barragem) parece estar descartada uma vez que, segundo estudos feitos e pronunciamentos de especialistas na matéria, sustentam que Cabinda não dispõe de um rio com caudal suficiente capaz de produzir energia eléctrica.
Por este motivo, Cabinda continua a ser abastecida de energia eléctrica por intermédio de grupos geradores concentrados nas centrais térmicas de Malembo, Chibodo e Sende (Santa Catarina).
A Central Térmica de Malembo (CTM), a principal fonte de produção, tem uma potência instala- da de 145 megawatts, estando actualmente disponíveis 110 megawatts, devido à indisponibilidade da turbina número 1, de um total de cinco turbinas montadas. Duas turbinas são da marca Free 6b com capacidade de produzir 35 megawatts cada uma e três são da marca Kipor TM 2500 de 25 megawatts cada uma.
Os engenhos foram prepara- dos para trabalhar em dois modos de combustível, ou seja, a gás e a combustível líquido, diesel (gasóleo), comportando tecnologia de alta qualidade. Para o seu pleno funcionamento, a central de Malembo consome 20 milhões de metros cúbicos de gás por dia e, em termos de gasóleo os gastos estão na ordem dos 380 metros cúbicos, ou seja, 380 mil litros por dia.
Segundo o director provincial da PRODEL, Nsuca Allem, nas horas de maior consumo, das 17 as 22 horas, as turbinas apresentam sempre constrangimento técnico devido ao aumento considerável de carga, o que leva a empresa a explorar os engenhos quase no limite de 80 a 90% da sua capacidade.
“Explorando essas máquinas nas cargas máximas, ficamos vulneráveis, pois, uma das turbinas pode disparar (estar fora de serviço) o que nos leva a um corte geral ou blackout.” Quando há pouca produção, a ENDE procede à uma gestão parcimoniosa no fornecimento de energia, deixando a cidade de Cabinda, os bairros periféricos, as vilas de Lândana e Buco-Zau às escuras.
O apagão mais significativo aconteceu no mês passado, privando os consumidores de energia eléctrica durante muitos dias, com o registo de danos consideráveis no seio das famílias com a deterioração de bens perecíveis adquiridos com bastante sacrifício. Para os comerciantes, os prejuízos foram maiores com a deterioração de quantidades consideráveis de pescado e outros frescos.
Projectos estruturantes
A situação levou a Cabinda o secretário de Estado para a Energia, Arlindo Manuel Carlos, com o propósito de aferir as condições actuais de fornecimento de energia à população, identificar constrangimentos e tomar “medidas robustas” para que esses constrangimentos sejam ultrapassados.
Para Arlindo Carlos, as soluções robustas nunca são implementadas a curto prazo, por isso, devese tomar diligências para que as soluções sejam as mais imediatas possíveis sem, no entanto, atropelar os procedimentos técnicos que estão subjacentes à sua implementação. “São acções que devem ser identificadas, portanto há aqui uma matriz de problemas que devemos calendarizar e definir quais são as de curto prazo e quais as de médio prazo.” O secretário de Estado para a Energia garantiu haver para a província projectos estruturantes que devem concorrer para maior autonomia e fiabilidade no fornecimento de energia eléctrica a Cabinda.
Enumerou a construção de dois circuitos de 220 quilowatts que interligarão a subestação de Soyo, que dispõe de capacidade suficiente para escoar 300 megawatts de potência de energia elétrica para a província de Cabinda.
Temos igualmente, disse, o projecto da central fotovoltaica, uma energia limpa, cujas acções deram início com a desminagem do local onde será implantado, estando, neste momento, o Executivo a trabalhar para finalizar os detalhes subjacentes ao seu financiamento. “Estamos aqui para trazer soluções e corresponder com as expectativas da população em ter um serviço de fornecimento de energia eléctrica fiável e que esteja em convergência com os desafios de implementação de uma plataforma económica na província de Cabinda.”
Projecto Inga/ Cabinda
Angola e a República Democrática do Congo (RDC) assinaram em 2018 um acordo-quadro de cooperação no domínio da energia com vista a dinamizar os projectos de interligação dos sistemas eléctricos entre os dois países. No âmbito desse acordo, o primeiro projecto a ser concretizado é o da construção da linha de 220 Kv que liga Inga-Boma-Muanda (RDC) e Cabinda (Angola) com um percurso de 179,4 quilómetros no território congolês e 47,5 quilómetros em Angola.
A construção da linha de energia eléctrica a partir do aproveitamento hidroelétrica do Inga irá abastecer electricidade à província de Cabinda, passando pelas localidades congolesas. O aproveitamento hidroeléctrica do Inga vai permitir Cabinda alavancar a sua actividade agro-industrial, tendo como destaque o Terminal de Águas Profundas do Caio, o Pólo Industrial do Fútila e os projectos do sector da agricultura.
Segundo o secretário do Estado para Energia, Arlindo Manuel Carlos, o Inga é um projecto que está em curso e que poderá servir de redundância aos projectos do ciclo combinado do Soyo e da central fotovoltaica, sem descurar a necessidade de manter as centrais térmicas disponíveis para efeitos de contingência. “Por mais que tenhamos o cabo submarino em funcionamento poderá haver contingências de ordem operacional e que nos levam a optar por uma solução alternativa temporária que pode vir a ser as centrais térmicas ou mesmo a ligação Inga/Cabinda.
” A estratégia do Executivo, segundo o governante, é encontrar soluções internas com a conclusão do projecto do cabo submarino que deverá interligar a subestação do Soyo para escoar para Cabinda 300 megawatts de energia. “Esta é uma potência notável e considerável que há-de atrair mais investimentos na província e proporcionar emprego à juventude para que esta possa responder às necessidades subjacentes à plataforma económica desta região.”
A tarefa do Executivo, assumiu, é de electrificar o país e “vamos continuar a fazer isto, já que Cabinda está dentro do espectro das nossas atenções.” O horizonte temporal para a concretização desses projectos, referiu, é proporcional à complexidade do ponto de vista de engenharia e do ponto de vista do contexto internacional. “Vamos ser o mais célere possível.”