No passado colonial, o município de Buco-Zau, na província de Cabinda, foi um dos centros importante na produção de cacau, café e palmar em Angola. Aliás, a própria vila foi construída e desenvolvida com as receitas provenientes da produção dessas culturas
O município de BucoZau quer recuperar a hegemonia que teve na era colonial quanto à produção do cacau e do café no país, quando a empresa Companhia de Cabinda detinha as maiores concessões na região do Maiombe onde dedicava à cultura destes produtos em grande escala.
Através das fazendas Seva, Pinto da Fonseca, Sítulo, Lubambi, Lucucuto, Lufuinde, Alzira da Fonseca, Ncomo, Izizaltina, Tando-Matiaba e Quissamano, a Companhia de Cabinda destacou-se na produção, com níveis consideráveis, de cacau, café, citrinos e palmar, chegando mesmo o município de Buco-Zau ser catalogado como um dos maiores exportadores de café mabuba e cacau para Portugal e outros países da Europa.
Foi em 1903 que se registaram as primeiras exportações de cacau originário de Cabinda (sobretudo na região do Maiombe, Buco-Zau e Belize) e nos finais da época colonial, a província já exportava cerca de 750 toneladas de cacau.
O jornal OPAÍS foi a Buco-Zau, cerca de 130 quilómetros a norte da cidade de Cabinda, para saber junto das autoridades locais como o município pensa resgatar a hegemonia que teve na época colonial em relação à produção de cacau, abandonada desde 1975.
Em declarações a este jornal, o administrador municipal, Óscar Dilo, não vacilou e assumiu que “Buco-Zau deve voltar a ser aquele celeiro do país no que toca à produção do cacau.”
“Estamos a levar essa mensagem à população e há uma aderência muito grande e o cacau está a reaparecer. Acreditamos que voltaremos nos patamares da era colonial.”
Óscar Dilo recorreu ao passado para recordar que na era colonial quase toda população do município foi empregada pela Companhia de Cabinda para trabalhar nos seus campos de café, do cacau e do palmar.
Para além de trabalharem para a empresa, a população tinha também as sua roças de cacau, café e palmar e a sua produção era toda vendida à Companhia de Cabinda.
O nosso entrevistado mostrou-se esperançoso quanto aos bons resultados que possam advir do processo de relançamento da produção de cacau na região já que, como referiu, há uma aderência muito grande e os que acataram já começaram a viver disso.
Para sustentar a produção do cacau, Óscar Dilo garante que estão a ser criadas todas condições para o efeito, desde a instalação de infraestrutura para secagem do cacau e a mobilização de compradores nacionais e estrangeiros do produto.
“Já tem clientes no exterior e mesmo a nível nacional tem uma fábrica em Luanda que faz chocolate com cacau saído do Buco-Zau.”Apesar de ter sido considerado município madeireiro, neste momento, Buco-Zau tornouse no epicentro da produção do cacau a nível do país.
Aliás, o município sempre viveu da produção do café e do cacau. Para o relançamento da produção, sobretudo, a do cacau, o município mobilizou cerca de 250 hectares de cacau cultivado, envolvendo 80 produtores, enquanto para o café foram mobilizados 182 hectares cultivados e conta com 85 cafeicultores.
Há uma cooperativa de 120 membros que coordena a produção do café e do cacau. Cada membro tem uma quota de produção individual e fornece os dados quer da produção quer da venda à cooperativa.
Segundo o secretário municipal da Agricultura, Rogério Bote Congo, há uma produção considerável do cacau, enquanto o café sofreu, nos últimos tempos, uma discriminação devido ao baixo preço de venda no mercado, o que motivou muita gente a abandonar a sua produção.
“Actualmente, os níveis de produção do cacau são muito animadores porque em cada hectare pode-se produzir 800 quilos de cacau por mês. É uma planta de produção contínua precisando apenas de água e sombra.”
Benefícios
A crise económica que abalou o país em 2016, levou o Executivo considerar o relançamento da cultura do cacau como parte do programa de apoio à produção agrícola no âmbito do plano de desenvolvimento a médio prazo para o sector agrário.
Buco-Zau, a par do município de Belize, pelas suas condições afroclimáticas, está na linha de prioridades para desenvolver a cultura do cacau a nível do país e torna-la como uma fonte de obtenção de divisas a médio prazo.
O relançamento da produção de cacau e café no Buco-Zau trouxe uma maisvalias na criação de empregos e na motivação de inúmeras famílias a se dedicarem a essa actividade.
O programa trouxe igualmente aumento nas rendas das famílias com as vendas realizadas e criaram-se as bases para o estabelecimento da cadeia de valores da cultura, desde a produção, transformação e comercialização do cacau.
O reflorestamento de áreas devastadas pela exploração da madeira com a plantação do cacau nas zonas de corte, a criação de centenas de empregos temporários com a necessidade de manutenção das plantações, bem como o interesse despertado pela cultura do cacau noutras províncias do país são igualmente benefícios que o programa trouxe.
O surgimento de pequenos negócios no domínio das indústrias de pastelaria e chocolataria e o anúncio de projectos de médio e de grande dimensões por investidores nacionais e estrangeiros são também, dentre outras valências, que o programa de relançamento da produção de cacau está a ter a nível dos municípios do interior, em particular, e da província de Cabinda em geral.
Por: Alberto Coelho, em Cabinda