Duas perspectivas válidas e, provavelmente, mais positivas que a dureza da realidade, dizem dois especialistas ouvidos pelo jornal OPAÍS, que também apontam para o aumento real da produção como solução
O Banco Nacional de Angola (BNA) e o Executivo têm perspectivas diferentes sobre o estado da inflação até ao fim do ano de 2024, de acordo com documentos a que OPAÍS teve acesso. O Executivo, por seu lado, perspectivou no Orçamento Geral do Estado uma taxa de inflação de 15,3% até ao fim do ano e, por outro, o regulador BNA prevê uma taxa de inflação de 19% até ao final deste ano.
Duas visões que, conforme os economistas ouvidos pelo jornal OPAÍS, são normais de serem feitas, mas que podem estar erra- das. No entanto, reconhecem que a do BNA é a mais realista das duas. “É que se formos à risca, apontam os estudiosos, podemos dizer que o mais provável é que a inflação se posicione acima dos 20%”, defende o economista Damilton José, que considera ser uma situação inevitável.
Para justificar o seu ponto de vista, o também docente universitário enfatizou que “quando se mexe nos combustíveis não tens hipóteses. É que os combustíveis têm muita relevância na nossa economia e subiu para o dobro do preço anterior”. O também economista Cláudio Costa converge das ideias anteriormente apresentadas e vai mais além, afirmando mesmo que, no ano de 2023, a inflação já se posicionou bem acima dos 25%.
Solução passa pelo aumento real da produção
Com o princípio fundamental da busca por soluções diante das reconhecidas insuficiências, ambos apresentaram alguns caminhos que podem ser percorri- dos com vista a se inverter este quadro. A primeira linha de solução, por eles apontada, passa pelo aumento da produção. Importa referir que essa é uma questão que chegou a ser aponta- da pelo ministro de Estado para a Coordenação Económica, José de Lima Massano, e que ganha novo contorno de importância. No entender dos especialistas, é mesmo a questão número um e que não avança porque nos confortam com avanços artificiais.
A segunda linha de solução apontada pelos especialistas é outra sobejamente conhecida pelos mais atentos, o crédito à produção. Neste item, os especialistas foram confrontados pelo OPAÍS com o aumento de 644, 44 mil milhões de kwanzas no crédito ao sector privado, como deu a conhecer o BNA durante o Comité de Política Monetária. Por seu turno, os economistas explicaram que o referido stock de crédito ao sector privado inclui créditos que não são a produção.
Os interlocutores explicaram ainda que se olharmos com atenção para os créditos por sector de actividade, logo percebemos que a variação é ridícula. Apesar de todas as observações menos positivas, os especialistas e docentes universitários reconhecem que tem sido feito algum trabalho por parte do Executivo, mas chamam atenção para o facto de serem ainda insuficientes diante da demanda de uma complexa economia como é a nossa.
POR: Ladislau Francisco