Este aumento reflectiu a necessidade de preparar a produção para um ano que, no entanto, apresentou baixos níveis de produtividade.
O aumento na compra e armazenamento de materiais foi uma tentativa de antecipar a procura futura, mas a expectativa não se concretizou devido aos desafios da safra. Esse aumento nos insumos industriais é o mais notável entre os principais custos da BIOCOM, mas os outros sectores também registaram aumentos substanciais, como os combustíveis e lubrificantes, que passaram de 404 mil dólares para 651 mil dólares, reflectindo o aumento global nos preços desses produtos e o crescimento da frota de veículos da empresa.
Além disso, a área de Equipamentos de Protecção Individual (EPI), voltada à segurança dos colaboradores, teve um aumento nos investimentos, com os custos saltando de 191 mil dólares para 315 mil dólares. Esse crescimento reflecte a prioridade da BIOCOM em garantir um ambiente de trabalho seguro, com um valor médio de estoque de 100 dólares em EPI por colaborador.
O impacto da desaceleração da economia global, juntamente com a desvalorização da moeda e a alta nos preços de insumos, matérias primas, combustíveis e fertilizantes, elevou os custos de produção, como evidenciado pelo aumento dos estoques da BIOCOM, que subiram de 7,1 para 8,9 mil milhões de kwanzas, equivalente a 10,7 milhões de dólares ao câmbio médio de 2023 (823 Kz/USD). A safra do ano passado foi marcada por investimentos estratégicos em fornecedores locais e pela resiliência em um contexto de instabilidade económica.
A empresa alocou 61,4 milhões de dólares em OPEX24 (capital utilizado para manter ou melhorar os bens físicos da empresa), com 75% desse valor destinado a empresas angolanas, promovendo o crescimento da economia nacional e reduzindo a dependência de importações que, em 2022, representavam mais de 52% das compras.
Redução de USD300 mil nos insumos agrícolas
Em contraste, a BIOCOM conseguiu reduzir os custos relaciona dos aos insumos agrícolas, que caíram de 1,8 milhões de dólares para 1,5 milhões de dólares, uma economia de 300 mil dólares. Essa redução foi possível graças à optimização dos processos de compra e uso dos insumos, o que permitiu à empresa manter a eficiência sem comprometer a produção agrícola.
No entanto, a empresa enfrentou grandes desafios no sector de álcool neutro, com a produção total caindo 22%, de 17 mil m³ para 13 mil m³ em 2023. Para mitigar os efeitos dessa redução, a BIOCOM precisou utilizar o estoque remanescente de safras anteriores, disponibilizando 20,8 mil m³ de álcool ao mercado.
Apesar das dificuldades enfrentadas no sector de álcool, a BIOCOM obteve sucesso no sector de açúcar, com as vendas crescendo 53% em comparação com 2022. Em parte, esse aumento se deve à venda dos estoques acumulados ao final de 2022, juntamente com toda a produção de açúcar da safra de 2023 e mais 7,5 mil toneladas de açúcar importadas no quarto trimestre.
A receita total da BIOCOM atingiu 105 milhões de dólares em 2023, um aumento de 11% em relação ao ano anterior. No entanto, esse crescimento foi moderado pela desvalorização da moeda nacional, uma vez que as vendas de açúcar são denominadas em kwanzas, o que reduziu o impacto positivo do aumento nas vendas. As variações cambiais também influenciaram o desempenho financeiro da empresa.
No ano passado, a BIOCOM registou uma despesa líquida de 50,7 milhões de dólares, uma redução considerável em relação à despesa líquida de 93,7 milhões de dólares em 2022, resultado principalmente da diminuição nas taxas de juros dos empréstimos bancários.
Ao longo dos 214 dias de safra, a BIOCOM processou 989 mil toneladas de cana-de-açúcar, aquém da meta planificada de 1,2 milhões de toneladas.
Apesar disso, a empresa mostrou resiliência, com uma produção significativa de 71 mil toneladas de açúcar e 13 mil m³ de álcool neutro. Além da sua produção de açúcar e álcool, a BIOCOM destacou-se na geração de energia eléctrica limpa, reafirmando o seu compromisso com a sustentabilidade ambiental e a contribuição para a matriz energética de Angola.
Renegociação da dívida
Em 2022, a BIOCOM renegociou a sua dívida com as entidades bancárias, resultando em uma reestruturação que permitiu que 75% da dívida bruta da empresa, com vencimento superior a cinco anos, fosse renegociada em termos mais favoráveis.
Toda a dívida da BIOCOM está denominada em kwanzas, o que oferece certa protecção contra variações cambiais, uma vez que as receitas da empresa também são em moeda local.
No encerramento de 2023, os estoques de produtos acabados somavam 42 milhões de dólares, uma redução de 24% em relação ao período anterior, com a maior parte dessa queda concentrada no álcool neutro.
O estoque de açúcar, no entanto, foi parcialmente mantido com base à importação de 15 mil toneladas no final do ano, das quais 7,5 mil toneladas foram vendidas ainda em 2023.
POR:Francisca Parente