O presidente da Associação das Indústria Cimenteiras de Angola, Manuel Pacavira Júnior, revelou que a associação tem a proposta de importação de cerca de 150.000 toneladas de cimento nos próximos meses para minimizar o impacto do défice que se regista no mercado, actualmente.
A medida, segundo o responsável, deverá estender-se até que os fornos da CIF sejam reactivados, o que se espera para Junho deste ano. Pacavira Júnior enfatizou que a proposta da Associação é de que, enquanto a CIF não arranca, as importações seriam de forma faseada para poder colmatar não na totalidade, mas este défice que se tem do clínquer, para as moageiras poderem transformar em cimento.
Nomeadamente, disse, no mês de Fevereiro, a previsão é de que se importe 50 mil toneladas de clínquer, no mês de Abril outras 50 mil toneladas, fechando o ciclo de importações Junho ou Julho com mais 50 mil toneladas, totalizando 150 mil toneladas, altura em que o CIF, eventualmente, poderá estar a arrancar e normalizar a situação.
“Eu sei que é uma preocupação muito grande que a população tem, sabemos efectivamente e vimos no mercado as dificuldades, mas pensamos que ela será ultra- passada”, sublinhou.
Quadro actual das fábricas
Manuel Pacavira Júnior revelou que as principais unidades de produção, como a Cimangola , a CIF, a FCKS e as fábricas de Benguela, estão a operar abaixo da sua capacidade devido a problemas técnicos e à falta de manutenção dos equipamentos. “Não conseguimos atingir os níveis de produção que a nossa capacidade instalada permite. Isso eleva os custos operacionais e reduz a oferta no mercado”, lamentou.
Segundo Pacavira Júnior, o défice de clínquer é um dos maiores obstáculos enfrentados pelas cimenteiras. O problema é agravado pela paralisação dos fornos da CIF, que já foram responsáveis por uma produção diária de 4.500 a 5.000 toneladas de clínquer, e pelas dificuldades enfrentadas pela FCKS, como problemas energéticos para activar os seus equipamentos. O clínquer, produzido a partir de matérias-primas como calcário, argila, areia e minério de ferro, é essencial para a fabricação de cimento.
Actualmente, as unidades estão a operar com apenas 30% da sua capacidade total, o que limita a oferta e pressiona os preços. O reflexo directo dessa crise está nos preços do cimento, que ultrapassaram os 6.000 kwanzas por saco, valor muito superior aos 3.000 kwanzas observados anteriormente.
“Com a baixa oferta, a tendência é de aumento de preços, o que compromete programas como a autoconstrução dirigida, além de dificultar o acesso da população ao material”, afirmou. Pacavira Júnior também sublinhou que o sector enfrenta desafios relacionados à dependência de equipamentos importados, essenciais para o funcionamento estável das fábricas, como fornos, mogareiras e máquinas de ensacamento.
Apesar das dificuldades, o presidente da associação mantém- se optimista quanto à recuperação do sector. A expectativa é que a reactivação de um dos fornos da CIF, com capacidade para produzir até 5.000 toneladas de clínquer por dia, estabilize o mercado e permita o retorno gradual à normalidade. “
Se tudo correr conforme o planeado, até Junho, a produção será retomada e conseguiremos não apenas suprir a procura interna, mas também voltar a exportar clínquer e cimento. A recuperação total depende da agilidade na resolução desses problemas estruturais”, garantiu o responsável. Enquanto isso, a associação continua a trabalhar em parceria com o Executivo para superar os desafios.
Medidas como a importação de clínquer e a aceleração na reparação dos fornos são apontadas como essenciais para garantir a estabilidade do mercado e viabilizar a execução dos projectos prioritários para o desenvolvimento do país.
No contexto actual do sector as empresas cimenteiras empregam cerca de 3.028 trabalhadores, entre angolanos e expatriados, apesar de as fábricas estarem a operar com apenas 30% da sua capacidade mensal.
A resolução dessa crise estrtural é vista como estratégica para garantir o abastecimento de cimento no mercado nacional, controlar os preços e sustentar os projectos de reconstrução e desenvolvimento em Angola.
Economista sugere incentivos fiscais
O economista Eduardo Manuel destacou que a implementação de uma política de incentivos fiscais para reactivar os fornos de cimento poderia aumentar significativamente a produção nacional.
Este aumento resultaria na entrada de mais empresas no mercado, impulsionando o contributo do sector para o PIB, tanto pela produção como pela tributação das receitas. Consequentemente, espera-se que haja uma redução nos preços do cimento no mercado interno.
Segundo Eduardo Manuel, a importação em larga escala impõe desafios às empresas nacionais, que são obrigadas a melhorar a qualidade da produção sem, muitas vezes, disporem de condições financeiras e operacionais para tal, especialmente em um contexto económico adverso
Além disso, mesmo empresas com capacidade financeira enfrentam dificuldades devido à necessidade de importar matéria-prima e equipamentos, o que eleva os custos de produção e, consequentemente, os preços do cimento. Em certos casos, o cimento produzido localmente torna-se mais caro do que o importado, o que leva os consumidores a preferirem produtos estrangeiros devido à sua qualidade superior.
Para equilibrar esta situação, Eduardo Manuel sugere que o Governo adopte uma série de medidas complementares aos incentivos fiscais, como isenção de impostos sobre a importação de matérias- primas e equipamentos necessários para a produção de cimento. Estímulo à produção local dessas matérias-primas e equipamentos, por meio de políticas e acordos com instituições financeiras para a concessão de crédito.
Acordos com bancos comerciais para facilitar crédito ao setor cimenteiro em condições especiais. Redução do imposto industrial e do IVA aplicado ao sector e Incentivar fábricas de cimento importado a estabelecerem operações produtivas. Eduardo Manuel também alertou que o aumento das importações, por si só, não resultaria em preços mais baixos.
Pelo contrário, os preços poderiam subir caso a taxa de câmbio do Kwanza se desvalorizasse em relação ao dólar ou ao euro, ou se o número de empresas importadoras permanecesse limita- do. Esta limitação favoreceria práticas monopolistas em diferentes regiões do país, agravando ainda mais os custos para os consumidores.
POR:Francisca Parente