Angola assinou recentemente acordos de supressão de vistos em passaportes ordinários com a África do Sul e Moçambique. O PAÍS foi ouvir o coordenador adjunto da Comissão de Gestão da TAAG sobre a importância deste convénio, do seu impacto nos mais variados aspectos, do prémio ganho pela TAAG na África do Sul, bem como das perspectivas da companhia
Por: José Dias
O coordenador adjunto da Comissão de Gestão da TAAG, Rui Carreira, considerou “bastante” positiva a medida dos governos de Angola, África do Sul e Moçambique de suprimir a exigência de vistos de entrada aos seus cidadãos, considerando, entretanto, que, neste momento, a escassez de divisas “vai contrariar um bocado a intenção das pessoas em viajar”.
Numa entrevista conjunta, em Luanda, ao Jornal OPAÍS e à Rádio Nacional de Angola (RNA), Pouco mais de uma semana desde a entrada em vigor do acordo de isenção de vistos, Rui Carreira disse, entretanto, já ser visível o aumento do fluxo de passageiros para Joanesburgo e Cape Town (África do Sul) e Maputo, Moçambique, principalmente por parte de empresários para a prospecção dos mercados.
“As pessoas vão começar a organizar-se porque há um aspecto que ainda influencia de forma negativa que é o problema da crise económica e financeira. As pessoas, para viajar, precisam de ter dinheiro em mãos, principalmente divisas. Neste momento, a escassez de divisas vai contrariar um bocado essa intenção das pessoas viajar”, frisou.
“Primeiro, é claro que há uma resposta já imediata de muitos homens de negócios, principalmente angolanos, e, depois, no médio prazo, acredito que haverá resposta do cidadão comum no que respeita às questões de turismo e lazer, e das pessoas que se deslocam à África do Sul para tratamento médico”, sublinhou.
Segundo o membro da Comissão de Gestão, para responder à procura que advirá da isenção de vistos, a TAAG tem a capacidade instalada em termos de número de vôos e de lugares. “A TAAG voa quer para Joanesburgo, quer para Cape Town com o seu maior avião, o 777 200 ou o 777-300, e temos sete voos para Joanesburgo e três semanais, às segundas, quartas e sextas-feiras para Cape Town”, referiu. Entretanto, no período de 1 de Dezembro, data de entrada em vigor do acordo, até 15 de Janeiro os vôos para Cape Town também passam a diários.
“Portanto, estamos a aumentar a oferta. Com essa questão dos vistos, acredito que haverá melhorias ou aumento do tráfego entre as duas cidades, quer Joanesburgo e Cape Town, e Luanda”, frisou. Para Rui Carreira, foi uma iniciativa brilhante dos governos, a isenção de vistos nos passaportes normais dos cidadãos. “Nós auguramos um aumento substancial e um impacto positivo nas nossas taxas de ocupação.
O grande obstáculo actual é a crise financeira e a escassez de divisas”. Entretanto, segundo o responsável, só nos próximos dois meses será possível uma avaliação sobre o aumento do fluxo de passageiros com a entrada em vigor do acordo, referindo que o mesmo será gradual.
“Ainda é muito cedo. Nós fazemos a monitoria diária. Sempre que fazemos um vôo, no dia seguinte nós analisámos. Neste momento ainda não existem dados que garantam um salto. O aumento vai ser gradual”, sublinhou.
É o turismo que enche os aviões
Para Rui Carreira, é essencial que se criem medidas de incentivo e estímulo ao turismo para atrair cidadãos sul-africanos e de outras regiões a visitar o país. “Gostaríamos de ver o nosso turismo também incentivado de forma a estimular também cidadãos sul-africanos a visitar Angola, não só no âmbito dos negócios, mas também do turismo e lazer.
É de realçar que quem enche os aviões é o turismo”, frisou. Para Rui Carreira, os países que possuem companhias aéreas devem investir fortemente no turismo por serem interdependentes entre si.
“A indústria de aviação é muito forte no suporte ao turismo e o turismo vive muito da indústria aeronáutica. Portanto, há aqui uma interdependência já confirmada. Por isso, deve-se incentivar e melhorar o turismo com vista a captar a procura de outras paragens com destino a Angola”, frisou.
Segundo o responsável, o turismo na região Austral de África é muito forte e Angola ainda não tem essa pujança. Entretanto, realçou estar a acompanhar as iniciativas do Governo neste sentido, as quais auguram boas perspectivas.
Isenção de vistos entre os países da região Austral seria vantajosa para a TAAG e outras companhias
Para si, a isenção de vistos para os países da região vai contribuir para o aumento das performances financeiras das companhias aeronáuticas. “Sabemos que nem todos os países da região têm grandes companhias aéreas.
A TAAG é uma companhia aérea forte, certamente vai beneficiar disso. Há muitos países que solicitam os serviços da TAAG, como é o caso da Zâmbia e do Zimbabwe.
Com a isenção dos vistos nesses países, nos próximos meses, se acontecer, vai, de certa maneira, melhorar a nossa performance comercial e financeira”, acentuou.
Prémio ganho na África do Sul
Rui Carreira atribui grande importância ao prémio ganho pela companhia aérea nacional que considerou um reconhecimento global do seu desempenho. “Para nós, isso é muito importante, principalmente porque na atribuição deste prémio, a opinião dos passageiros e utilizadores do aeroporto de Cape Town tem muito peso. É para eles que nós trabalhamos, para os passageiros”, frisou.
“Quando nós ganhamos um prémio destas características, a sensação de orgulho eleva-se, não só junto à escala da TAAG de Cape Town, mas também a de Luanda, onde o voo começa. Neste contexto, se o vôo sai pontualmente de Luanda, tem 90% de chances de sair pontualmente de Cape Town para o regresso, e o inverso é verdadeiro, se sai atrasado daqui já vai para lá com atraso”, acrescentou.
Para a conquista do prémio “Feather”, atribuído anualmente pela Companhia de Aeroportos da África do Sul (ACSA sigla em inglês), a TAAG venceu a Singapura Airlines e a Turkish Airlines.
O galardão é atribuido a aspectos como o desempenho da empresa, quer do ponto de vista comercial como operacional, a pontualidade, serviços a bordo, acolhimento dos passageiros, tratamento de situações anormais, entre outros items.
Perspectivas para 2018
Neste contexto, o membro da Comissão de Gestão da TAAG disse não ser este o momento para “grandes aventuras comerciais”, tendo em conta a situação financeira do país que também afecta a companhia e que não permite augurar “outros vôos”.
“Nós temos de ser bastante cautelosos. Estamos a fazer pesquisa de mercado. Estamos a monitorar o movimento dos passageiros e a procura com bastante atenção, para depois tomarmos decisões. Houve algumas rotas que tivemos de fechar porque o seu resultado global era extremente negativo.
Estamos a recordar-nos do fecho da rota para Cabo Verde, e aqui, na África central, o vôo para Bangui e Douala”, sublinhou. Por este facto, asseverou, a perspectiva é manter os actuais destinos e nos próximos meses aumentar algumas ligações, como o caso de Cape Town, de três para sete vôos semanais, bem como Lisboa, para dois vôos diários, a partir de meados de 2018.