O dia é terça, uma linda terça e primeira de Março. Caminha pela rua, cabeça erguida e peito a frente. Não deve haver naquela mente espaço para se fazer oficina do mal.
A brisa acaricia-lhe o rosto e oferece-lhe a sensação de que as horas que se avizinham serão melhores do que as anteriores. Olhando daqui, nesse plano minúsculo, compreendemos os que dizem que as melhores são as que pensam e agem como tal.
As melhores são como esta que não deixou que lhe roubassem a essência, é mulher das unhas aos cabelos, é mulher e sabe o que vale. Ela olha para baixo e vê secas folhas arrastarem-se no asfalto, os farrapos sujos desarrumam o cenário e sabe-se logo que não é belo o que esta por vir.
De facto, não é, sobretudo quando o gato mia com intenção de chamar atenção para aquilo que em tão pouco tempo deixou de ser motivo de protesto e tornou-se fonte para sobrevivência de inúmeras famílias.
Alice, a quem só agora invocamos o nome sob pena de nos esquecermos, olha em redor e espanta-se com o que vê, ou melhor, com o que não vê.
Tornou-se hábito ver crianças emolduradas de pobreza enquanto as mães rabiscam no lixo. Aprendeu a gerenciar a dor de ver uns com tudo e outros com quase nada.
Continua a caminhada ciente de que, dentro de muito pouco tempo os que nada têm virão extrair daquele contentor o que para outros deixou de prestar.
Entra no Café e senta-se no lugar habitual. Quem lhe vai atender já a conhece de nome e rosto. – Dona Alice, boa tarde.
O mesmo de sempre? – Sim, mas numa quantidade maior e não se preocupe, desta vez não desperdiçarei nenhum pedaço de vossa iguaria. – Agrada-nos ouvir isto da senhora, sabe que é um prazer servi-la. – Traga uma familiar e o sumo de sempre.
– Hoje terá companhia? – Sim, mais uma vez terei a minha própria companhia. O Garçon caminha e Alice assiste a mesma cena de sempre, gente endinheirada pagando rios de Kwanzas para comer migalhas para ser, no entanto, considerada fina.
O pensamento assume a mente de Alícia que se sente tentada a levantar e dizer aos clientes para usufruírem o que pagavam, pois ser fino não pressupõe comer pouco, mas comer bem.
Pensou contar a todos o quão eram manipuladas pelo mercado e, que o conceito de consumo adoptado foi herdado daqueles que os colonizaram, que trouxeram para cá as suas culturas e fizeram-nos adoptar o método de consumo despojado.
Repreendeu a si mesma apela tolice de, durante anos, preferir pagar muito para comer pouco ou quase-nada.
Após ver pousada a refeição na mesa, pensou noutro método para instigar as pessoas, lembrou-se do amigo que iria publicar uma reflexão no jornal e então comeu, nunca antes.
Por: DITO BENEDITO