Chove a cântaros em Ntaya, mas também chegam em catadupas os fiéis devotos que crêem em Simão Gonçalves Toco, aclamado pelos seguidores “o enviado de Deus para a África Negra”. Aqui os tocoistas vivem e revivem o que as Sagradas Escrituras dizem: só com fé se encontra a salvação
Por: André Mussamo, enviado a Maquela do Zombo
Quase 100 anos depois de Simão Toco ter começado os seus estudos bíblicos na pacata sanzala de Kibocolo, eis que a Igreja de Nosso Senhor Jesus Cristo no Mundo, os Tocoísta, edifica o primeiro grande templo de adoração a Deus na localidade. A honra do corte de fita coube ao Bispo Dom Afonso Nunes, sob testemunho de centenas de fiéis e autoridades locais e um convidado especial: Mawete João Baptista, aliás, o principal financiador da obra.
Em Kibocolo iniciou, na prática, o tocoismo, pois foi nessa localidade onde o profeta Simão Toco foi baptizado por missionários estrangeiros e onde a posteriori viria a criar o coro que deu origem à Igreja de Nosso Senhor Jesus Cristo no Mundo, ou simplesmente os Tocoístas. O templo foi designado “Mama Kibocolo” e no dizer de Afonso Nunes “vai contribuir para o resgate de valores morais e, consequentemente, no combate à delinquência”, por isso mesmo o bispo tocoísta apelou aos fiéis a fazerem um voto a Deus a fim de que sejam abençoados, apostando dessa forma no futuro das suas gerações.
Simão Gonçalves Toco nasceu na localidade de Ntaya e aqui também foi sepultado pelo que, a propósito dos 100 anos do seu nascimento, a completar- se a 24 de Fevereiro, a também chamada “Terra Santa” já regurgita de peregrinos, esperando- se que até ao dia “D” escalem a localidade de 2 a 3 milhões de pessoas.
As comemorações dos 100 anos de nascimento do homem a quem os seus seguidores chamam “Profeta e Homem de Paz” inscrevem além da inauguração de novos templos, uma conferência internacional, cujo inicio está aprazado para hoje e preconiza trazer a Ntaya (local que acolhe o sepulcro de Simão Toco), dentre oradores nacionais e estrangeiros, muitos estudiosos do fenómeno tocoísta no mundo. Na vila de Maquela, a sede do município, Dom Afonso Nunes e comitiva, inaugurou ontem mais um templo, desta feita a Paróquia de Ngandu Kiluketu.
O grosso dos peregrinos, idos de várias partes do país escalou Ntaya no princípio da noite de Domingo e assim será até ao fecho da jornada, pelo que outras forças foram mobilizadas para garantir uma peregrinação ordeira e que cumpra o seu fim último: fé, oração e exaltação da obra de Simão Toco. O comandante da Polícia Nacional, sub-comissário Filipe Massala, revelou que as condições de segurança estão garantidas pelos efectivos da corporação.
O comissário considerou de baixo o índice de criminalidade no município de Maquela do Zombo pelo que os peregrinos nada terão a temer. A Polícia de Guarda Fronteira e o Serviço de Migração e Estrangeiros estão em prontidão a fim de evitar a entrada de ilegais em território nacional aproveitando- se destas comemorações.
Nota de destaque é a chuva que não dá tréguas desde o início da chegada dos peregrinos. Ntaya é ainda uma localidade inóspita e com poucas condições de habitabilidade e tráfego. O acesso de 7 Km não é asfaltado e o sistema de drenagem das águas pluviais da localidade é feita pelos canais naturais.
Sendo assim, com a abundante chuva que não deixa nem os repórteres trabalhar em liberdade espera-se que o grau de dificuldades será superior o que, entretanto, continua a animar a todos os envolvidos, porque dizem tal como foi na peregrinação de Jesus de Nazaré pela Terra Santa, não há barreira nenhuma que impeça o evento.
Dizem os poucos devotos que desembarcaram que faça chuva ou haja sol, pelos 100 anos de Simão Gonçalves Toco todo o sofrimento é pouco para agradecer e enaltecer a sua obra. Alguns dizem em analogia que tal como a ida a Meca é um dever para um bom muçulmano, a ida a Ntaya é um vivo permanente para qualquer bom tocoísta.